Professor Álvaro Brandão de Andrade – grande plasmador da juventude ituiutabana – Vera Cruz Oliveira Moraes

Professor Álvaro Brandão de Andrade – grande plasmador da juventude ituiutabana

Vera Cruz Oliveira Moraes

Do Instituto Marden, nada restou de sua rede física. Em nome do progresso, os edifícios que abrigavam seus atores escolares cederam lugar a prédios do mundo dos negócios. Foram-se seus mentores, foram-se seus prédios… Ficaram ex-professores, ex-funcionários, egressos, que tiveram a oportunidade de conviver, aprender, usufruir de sua filosofia, com ela concordando, discordando… Contudo, é inegável sua contribuição para a História da Educação de Ituiutaba: formou os primeiros professores e diretores das escolas públicas da cidade e da região.

O Colégio do Instituto Marden representou o que tantas outras escolas laicas e particulares o fizeram: foram as “oficinas de luz”, a desbravar ignorâncias pelo Brasil afora, preenchendo a lacuna do poder público de alfabetizar e de instruir a população.

Tudo pela pátria! Slogan repetido e ecoado pelas salas de aula, pelos corredores e pelos pátios, levando aos estudantes o entusiasmo, a alegria e a vontade de assim procederem. Uma influência em suas vidas, perpassada na educação dos filhos. No início de cada dia, os mardenienses faziam uma saudação à Pátria. Frente ao professor, de pé, corpo erguido e cabeça firme, mão no peito, ouviam e cantavam o Hino Nacional.

Álvaro Brandão de Andrade, natural de Campanha, sul de Minas, nasceu em 1.º de outubro de 1904. Filho de Álvaro Horta de Andrade e de Georgina Lima Brandão de Andrade, família tradicional na região. Álvaro fez o curso primário no Colégio São João, de Campanha, ginasial no Gymnasio São Joaquim, de Lorena-SP, e superior na Faculdade de Direito de Niterói-RJ, diplomando-se em 1931.

No ginásio, recebeu educação de acordo com os princípios católicos e as normas pedagógicas de D. Bosco (CEDOC, Unisal, 2003). A preocupação da escola era formar homens de caráter, e, para isto, era necessário educar a vontade, enriquecer a inteligência e preparar para a vida real. As aulas eram voltadas para a educação cívica, exercícios de declamação, representações dramáticas no teatro do Ginásio, conferências morais e religiosas, exercícios militares.

Lecionou na própria escola em que estudou, em Campanha, e em Sete Lagoas, onde foi, também, vice-diretor. Álvaro Brandão trouxe para o sertão do Triângulo Mineiro uma formação das escolas confessionais de Campanha e de Lorena. Seu caminho profissional encontrava-se pronto na área jurídica, contudo, os rumos delinearam outro percurso. Casou-se com uma jovem da região triangulina, que estudara no Colégio Sion, em Campanha, e adotaram Ituiutaba, no Pontal do Triângulo Mineiro, para residência. Antes de dar início à criação do Instituto Marden, ministrava, gratuitamente, aulas particulares para concluintes do curso primário no Grupo Escolar João Pinheiro. Não havia escolas para continuarem seus estudos. Neste ínterim, aguardava o pronunciamento da justiça para tomar posse como promotor. Então, decidiu partir para a educação, acolhendo conselhos para criar uma escola que atendesse à necessidade daqueles que não podiam estudar em outras localidades.

Em 1933, deu-se o início das atividades, com o curso de adaptação, destinado ao preparo de candidatos ao Curso Normal; o que originou a ideia de se criar uma escola em que os egressos do curso primário pudessem prosseguir os estudos. Em outubro de 1933, Dr. Álvaro – como era conhecido – implantou o Instituto Marden, com o curso primário, com o início das atividades em 1934.

Dona Alaíde Macedo de Andrade, sua esposa e inseparável colaboradora, era a secretária, professora e diretora do internato. Em 1935, o Curso Normal começou a funcionar, e teve sua primeira turma de concluintes em 1937; ano em que a Escola Normal foi reconhecida. Em 1942, iniciou-se o curso Ginasial, e, em 1951, o curso noturno, com a denominação de Colégio Comercial Barão de Mauá e os cursos: Ginasial, Comercial e Técnico em Contabilidade; com os primeiros concluintes em 1953. Este curso muito beneficiou aqueles não podiam estudar durante o dia. Em 1950, foi criado o curso Científico, para atender aos mardenienses que não queriam estudar fora de Ituiutaba.

O dia 1.o de outubro era uma data muito importante: Dia do Mardeniense. Isto foi determinado a partir de 1940, quando professores do Instituto Marden e da Escola Normal Dr. Benedito Valadares criaram um decreto-lei, instituindo esta data para prestar homenagens a seu diretor, por seu aniversário. Comemoravam-se o aniversário de Dr. Álvaro Brandão de Andrade e a existência da escola Marden, por meio de apresentações artístico-culturais, por professores e alunos, e a, obrigatória, interpretação musical do hino do Instituto Marden, idealizado pelo professor mardeniense Antônio Luiz de Souza, conhecido por Tonato. Em 1979, a Escola teve suas atividades encerradas. Contudo, continua viva na história, na filosofia mardeniense, na memória… Em 21 de abril de 1997, foi criada a Associação Mardeniense para Cidadania, com o objetivo de congregar os egressos, em reuniões mensais, para estudar, confraternizar, relembrar momentos vividos e o pensamento pedagógico implantado por Dr. Álvaro Brandão e perpetuar o nome da Escola. A Associação teve como primeira presidente Ester Majadas de Araújo, ex-aluna, ex-professora e ex-diretora da Escola. As duas primeiras reuniões contaram com a presença de Dona Alaíde, que acolheu a Associação.

Foram os acontecimentos políticos e educacionais no Brasil de 1930, da era Vargas, que deram condições para a implantação do Instituto Marden. A ênfase à educação era propagada política, como condição urgente para a melhoria de vida da população, e para o progresso do País. Assim, para cumprir seu papel social, seus iniciadores procuraram imprimir um pensamento que caracterizasse o trabalho escolar, o pensamento mardeniense: inscrição de uma bandeira, lema de um ensino, atitude de um sonhador que se dedicou à educação. A bandeira em azul, a inscrição em branco, com letras nítidas, estava sempre ao lado da bandeira do Brasil, nos acontecimentos cívicos e eventos da cidade e do Colégio, retratando um estado de espírito, de lucidez e de engajamento próprios da época.

É evidente a presença da filosofia positivista no País, ávido de avanços, de desenvolvimento e de crença na ciência, e ansioso por algo que inflamasse, que levasse a juventude a crer na Pátria, no progresso, como condição de vida digna dos cidadãos, e também, de soberania para o País. Este pensamento faz-se presente na Oração do Mardeniense, de autoria do Dr. Álvaro, e sempre lida em cerimônias do Colégio, como formaturas.

No contexto, em que as ideias de Dewey tiveram repercussão e aplicação, por meio de Anísio Teixeira, foi o pensador e escritor Orison Swett Marden o mais influente na história de Dr. Álvaro e, consequentemente, na constituição do Instituto, que carregou seu nome. De seus pensamentos, destaca-se: Sê perfeito em tudo que fizeres, que foi o mais citado por Dr. Álvaro, em suas aulas de moral e civismo. No jornal O Vencedor, da escola (Ano l – n.º 3), em uma notícia do redator João Damasceno Ribeiro, em que se refere ao Dr. Álvaro como um grande plasmador da juventude ituiutabana, relata que, em sua primeira aula do ano, adotou, como base, a nota 10, dizendo que, quem tivesse 10 em tudo era perfeito. E este pensamento não é de apenas um, mas da opinião dos ex-alunos.

Mesclados, estes elementos despertaram a força motriz que se projeta para além do passado, revivido na fala, no olhar, no gesto e no discurso de ex-alunos, de ex-funcionários e de ex-professores, repletos de configurações que denotam a filosofia e a pedagogia mardenienses.

Ao analisar a postura e a personalidade daquele que instituiu o Instituto Marden, Dr. Álvaro Brandão de Andrade, pode-se perceber reconhecimento e admiração pela firmeza, perseverança e determinação em suas atitudes de educador, que, com sua singular esposa, Alaíde Macedo de Andrade, representaram o verso e o anverso, a quietude e a inquietude, o silêncio e a indagação, o tradicional e o novo, o antigo e o moderno, a teoria e prática…

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