Memórias de um homem notável: professor Diogo Alves de Mello – educador, pesquisador, extensionista – Heliana de Mello

Memórias de um homem notável: professor Diogo Alves de Mello – educador, pesquisador, extensionista

Heliana Ribeiro de Mello

A coincidência de sobrenomes entre o Velho Diogo, como era conhecido, e eu não é mera casualidade: este grande homem foi meu avô. Nascido na zona rural cafeeira do estado do Rio de Janeiro, em 06 de agosto de 1893, muito jovem, foi viver nos Estados Unidos, onde concluiu seus estudos secundários e posteriormente ingressou na Universidade do Missouri, em Columbia. Ali obteve o grau de bacharel em Agricultura. Após trabalhar por algum tempo no Kansas, retornou ao Brasil em 1924, trabalhando no Ministério de Estado de Negócios da Agricultura, Indústria e Comércio, e posteriormente no Serviço Biológico de Defesa Agrícola. Mas foi o seu trabalho como um dos professores fundadores da Escola Superior de Agricultura e Veterinária do Estado de Minas Gerais que o imortalizou na memória de suas centenas de alunos, dos muitos colegas e amigos; onde também ofereceu à universidade e à sociedade brasileira um notável serviço e contribuição.

O Professor Diogo Alves de Mello muito se orgulhava de haver proferido a aula inaugural da hoje, Universidade Federal de Viçosa, em 1 de agosto de 1927. No ano seguinte, em 1928, foi nomeado professor catedrático dessa instituição e ali permaneceu até 1953. Já em 1954, volta a servir à UFV, como professor e por duas vezes diretor, da Escola Média de Agricultura de Florestal, hoje UFV – Campus Florestal, onde permaneceu até se aposentar em 1965.

Nos seus quase quarenta anos de serviço à UFV, estampou-se na memória de seus muitos alunos, em função da sua bondade, alegria e serviço ao próximo, um grande exemplo de homem e professor. Suas aulas eram conhecidas pela sua exuberância e bom humor, e pela sempre presente demanda e incentivo à participação de todos. O afeto e a admiração de seus alunos foram repetidas vezes manifestados através de inúmeras homenagens a ele prestadas ao longo de décadas.

Como pesquisador, Diogo Alves de Mello foi um pioneiro na pesquisa de culturas arvenses e de café; foi também responsável pela fundação da tradição de pesquisa inovadora na UFV, desenvolvendo experimentos sobre uma até então desconhecida leguminosa – a soja. Seus muitos trabalhos de pesquisa tornaram-se conhecidos através de publicações científicas especializadas e influenciaram diversas gerações de pesquisadores da UFV. A tradição de pesquisa por ele fundada mantém-se viva no Campo Experimental Diogo Alves de Mello, do Departamento de Fitotecnia da UFV, local de desenvolvimento de pesquisa de ponta, internacionalmente reconhecida.

Atuou durante toda a sua carreira na UFV também no setor extensionista, auxiliando na fundação da Semana do Fazendeiro, uma das primeiras atividades extensionsitas rurais do país, colaborando assim para a estruturação do tripé pesquisa-ensino-extensão até hoje basilar nas universidades brasileiras.

Em seus anos de aposentadoria, manteve-se ativo como professor voluntário de inglês até a sua morte em 1988, impactando a formação de muitas gerações de jovens.

Dentre as muitas homenagens a ele prestadas estão o Diploma de Honra e o Diploma de Reconhecimento da Sociedade Mineira de Engenheiros Agrônomos, a Medalha da Inconfidência concedida pelo Governo do Estado de Minas Gerais, e a Medalha de Prata e Diploma de Mérito Extensionista pelos serviços prestados à atividade extensionista no Brasil.

A memória do Velho Diogo mantém-se viva através das suas inúmeras ações beneméritas e contribuições à universidade e à sociedade brasileiras, que se propagaram através de seus alunos, dos agricultores com quem trabalhou, dos colegas e certamente de todos os que tiveram o privilégio de com ele conviver e aprender.

Referência

BORGES, J.M.; SABIONI G. S.; MAGALHÃES, G. F. P. A Universidade Federal de Viçosa no Século XX. Viçosa: Editora da UFV. 2ª. Edição. 2006. 671p.

Heliana Ribeiro de Melloc – Professora da Faculdade de Letras, na área de Estudos Linguísticos, da Universidade Federal de Minas e do Programa de Pós-graduação em Linguística. É bolsista produtividade em pesquisa do CNPq.

 

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