Entre Memórias e lembranças: A trajetória do Professor Mário Palmério – Matheus Silva, Nathalia Silva, Gustavo Borges

Entre Memórias e lembranças: A trajetória do Professor Mário Palmério

Matheus Barra e Silva

Nathalia Rafaela Paes e Silva

Gustavo Borges

Mario Palmério foi uma figura multifacetada. Destacou-se como escritor regionalista com Vila dos Confins, um relato interiorano de Minas Gerais, e com Chapadão dos Bugres, um romance eleitoral que relata um interior dominado por coronéis e pelo voto de cabresto. Com duas obras regionalistas, Mário consolidou expressões populares em um glossário de forma a facilitar a compreensão da realidade sertaneja. Sua genialidade como escritor rendeu-lhe a cadeira de número 2 na Academia Brasileira de Letras – a mesma que antes ocupara Guimarães Rosa – da qual tomou posse em 22 de novembro de 1968.

Personagem atuante no triângulo mineiro, fundou o Partido Trabalhista Brasileiro em Uberaba e semeou na região diretórios. Pelo mesmo partido foi eleito, aos 34 anos, deputado federal e no primeiro mandato (1950-1954) foi vice-presidente da Comissão de Educação e Cultura.  Mário foi reeleito duas vezes nas eleições conseguintes.

Defensor de políticas de interiorização e pró-separatista do triângulo mineiro, teve em seus relatos sobre as fraudes eleitorais em cidades recém emancipadas, os primórdios de Chapadão dos Bugres. Ainda em âmbito político, foi nomeado por João Goulart embaixador no Paraguai, onde esteve envolvido com a conclusão do Colégio Experimental e nas primeiras negociações da binacional Hidroelétrica de Itaipu.

Ainda que tenha sido político, escritor, músico e diplomata, foi como educador que Mário Palmério marcou seu legado. Sua vida como educador iniciou-se em São Paulo, onde fez magistério e lecionou matemática no Colégio Pan-Americano, mantido pela Escola Paulista de Medicina. No ano de 1939, atuou na seção de matemática na Faculdade de Filosofia da Universidade de São Paulo e logo depois passou a lecionar no Colégio Universitário da Escola Politécnica.

A criação do Liceu do Triangulo Mineiro em 1940 foi o marco inicial para a atual Universidade de Uberaba. O Liceu, fundado em conjunto com sua irmã, Maria Lourencina, iniciou-se como escola preparatória: um curso de madureza, um cursinho para carreira bancária e um curso para exames de admissão, mas logo no segundo semestre do mesmo ano conseguiram estruturar um curso primário. No ano seguinte, já sem a parceria da irmã, Mário conseguiu um alvará para a criação do Ginásio do Triangulo Mineiro, o primeiro ginásio misto da cidade. O segundo e grande marco foi em novembro de 1947, quando o Governo autorizou o funcionamento da Faculdade de Odontologia – no atual Campus Centro – obra realizada a partir de um empréstimo concedido pela Caixa Econômica Federal em 1943 e concluída em 1945. A Faculdade de Odontologia inaugurou a cidade de Uberaba como cidade universitária e inovadora, um privilégio para a região no final da década de 1940 e início da década de 1950, já que poucos municípios ofertavam cursos de nível superior. Já em 1951, foi implantado o curso de Direito e, logo depois, em 1956, Palmério fundou a Escola de Engenharia. Dois anos antes, ainda deputado, esteve envolvido na implantação da Faculdade de Medicina do Triangulo Mineiro.

Os cursos antes independentes cederam lugar a uma nova organização e, a partir de então, foi criada a FIUBE – Faculdades Integradas de Uberaba, no ano de 1972. Com a estruturação da FIUBE, novos cursos passaram a ser ofertados: Educação Física, Psicologia, Pedagogia, Estudos Sociais e Comunicação Social. Com uma maior gama de cursos a necessidade de uma nova estrutura surgiu e em 1976 foi inaugurado o atual Campus Aeroporto. No ano de 1981, a FISTA – Faculdades Integradas São Tomás de Aquino, foi incorporada pela FIUBE que assim passou a ofertar Letras, Filosofia, História, Geografia, Estudos Sociais, Química, Matemática, Biologia, Pedagogia e Jornalismo. Em 1988, o Ministério da Educação conferiu autorização para que a FIUBE se transformasse em Universidade.

Em 1990, Mário levou à sua cidade natal, Monte Carmelo, mais um campus da Universidade de Uberaba, oferecendo cursos de Administração de Empresas e Pedagogia. Mais tarde, esse campus viria a se tornar a FUCAMP – Fundação Carmelitana Mário Palmério. Uma Fundação administrada pela comunidade local e sem fins lucrativos, um desejo do próprio fundador. Segundo informações disponibilizadas pela fundação, dois propósitos mobilizaram sua criação: a vontade de potencialização da capacidade de crescimento e desenvolvimento da cidade natal do Professor Mário Palmério por meio da oferta de cursos superiores, propiciando aos jovens da cidade e região uma formação concreta de modo que a instituição pudesse transformar-se em um centro de geração de ideia e construção de conhecimento.

Atualmente, a Universidade de Uberaba conta com unidades em Uberaba, Uberlândia, Araxá, Ituiutaba e Brasília. Oferecendo cursos de graduação, pós-graduação e extensão, presenciais e à distância, além de clínicas integradas e hospitais (universitário e veterinário), dando continuidade às pretensões do Professor Mário Palmério.

A Associação de Mantenedoras de Ensino Superior, em homenagem à figura de Mário Palmério e ao seu legado, batizou o prêmio Top Educacional, no ano de 1997, de Prêmio Top Educacional Professor Mario Palmério, que segundo disposições do regulamento, é uma premiação destinada a instituições de ensino superior que apresentem propostas inovadoras nas áreas de ensino, pesquisa e extensão, além de inovações curriculares na graduação, pós-graduação e na avaliação institucional, bem como nos modelos de gestão e iniciativas promotoras de inclusão social.

Assim, o que marcou a trajetória e memória de Mario Palmério foi a disposição em ser sempre moderno. Isso significa estar suspenso de seu contexto, de sua subjetividade, para avaliar com racionalidade o que se deve fazer para que a relação professor/aluno seja eficiente, saudável e prazerosa. Desta forma, discutir sobre finanças, algoritmos, receitas e custos com o mestre é suprimir ¾ de uma vida de leituras de áreas diversas como filosofia, ética, literatura clássica, literatura ocidental, ocultismo, mitologia pagã, mitologia cristã, história, política, enfim, leitura de textos que valam sobre o mais importante para um docente: vida. Talvez seja essa a fórmula para que o educador atinja o aluno: o acúmulo de saber. Não se engane que a pura somatória de conceitos seja suficiente para o auxílio no desenvolvimento do outro. O montante serve somente de base; a vontade de fazer, a consciência proposta pela racionalidade adquirida e a vontade de ser e transformar são os verdadeiros pilares da educação.

 

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