Entre as memórias de Raul Gomes (1889-1975) – um signatário paranaense em defesa do ensino público – Maria Cristina Gomes Machado

Entre as memórias de Raul Gomes (1889-1975) – um signatário paranaense em defesa do ensino público

Maria Cristina Gomes Machado

Raul Rodrigues Gomes (1889-1975) assinou parte de sua produção como Raul Gomes. Sua participação em defesa do ensino público vincula-se a momentos ímpares para a educação brasileira, como: o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova (1932) e o Manifesto dos Educadores Mais Uma Vez Convocados (1959), sua vida longeva o permitiu acompanhar questões importantes para a educação paranaense e brasileira ao longo do século XX.

Raul Gomes é natural do estado do Paraná da cidade de Piraquara, cursou a Escola Normal e, posteriormente, Direito em Curitiba na Universidade do Paraná. Atuou como professor primário, secundário e superior, concomitante ao exercício de reflexão por meio da imprensa periódica, com destaque para a revista A Escola, ou diária, desde a primeira década do século XX. Sua preocupação voltava-se para diversos assuntos relativos à organização administrativa e didática, bem como implementação de mudanças que levassem a efetivação da escola pública para as classes populares. Osiski e Brandalise (2014) apresentaram minuciosa biografia desse intelectual, destacando que ele colaborou no estado paranaense com jornais, tais como o Archote, A República, Diário da Manhã, Diário do Paraná, Diário do Campo, Diário Popular, Gazeta do Povo, O Estado do Paraná, Folha do Norte do Paraná, Folha de Curitiba e O Comércio do Paraná. Trabalhou como redator chefe nos jornais O Dia e Diário da Tarde. Seus artigos foram publicados em âmbito nacional, nos jornais Folha da Manhã, Diário de São Paulo, O Globo e Diário de Notícias. Seus principais livros foram A Instrução Pública no Paraná (1914) e Missão e não Profissão (1928).

A obra intitulada A Instrução Pública do Paraná reúne uma coletânea autoral de uma série de artigos divulgados “A República” de Curitiba, Paraná, no ano de 1914.  O autor tratou de assuntos e de problemas importantes da administração pública com o intuito de servir a causa da “civilização”, visto que, para ele, a instrução popular/instrução do povo era um dos temas fulcrais de sua sociedade, seu lema era: “[…] criemos escolas por toda a parte.” (GOMES, 1914, p. 45). Por meio dessa instrução seria possível combater o analfabetismo que se apresentava como uma epidemia no Paraná. Para tanto, a obrigatoriedade do ensino, bem como o aumento do número de crianças atendidas pela escola seriam vitais para combater o analfabetismo considerado como um mal. A escola, contudo, deveria se modificar, mediante a organização efetiva da Inspeção do ensino, a adoção de método prático e a reestruturação da Escola Normal, visto que a maioria dos professores, desse período histórico, não havia recebido essa formação. Para explicar a situação precária do ensino no estado paranaense menciona a falta de dinheiro nas finanças públicas desse estado. Reafirma a necessidade da instrução pública: “Assim não se resta dúvida que, já desde muito, passou à categoria de coisas indiscutíveis a necessidade da propagação da instrução. (GOMES, 1914, p. 12).

No seu entendimento, era preciso ações concretas e não somente contemplação da situação do ensino, para tanto reiterou a importância de reformas que exigiriam gastos que não deveriam ser receados por parte dos governantes, não haveria dinheiro, assim, melhor consumido do que com a instrução popular. Esta deveria alcançar todos os lugares e deveria ser divulgadas pelas estradas de ferro, difundindo a importância do exercício da cidadania e a disciplina exigida para o trabalho. Os artigos abordaram temas apontados por Francisco R. de Azevedo Macedo que deveriam ser modificados em prol do ensino público, sua proposta resultou de sua ação no cargo de Diretor Geral da Instrução Pública do Estado em 1914.

O livro de 1928 foi composto com artigos publicados jornais Cidade, de Laguna (Santa Catarina), Comércio do Paraná, Diário do Tarde e O Dia, de Curitiba, publicados entre 1923 e 1926, versando sobre questões relacionadas a defesa do magistério e do papel social do professor, cuja profissão poderia ser considerada um sacerdócio.

Ele atuou em defesa da organização do ensino e da cultura. Seu engajamento o levou a participar representando o estado paranaense de conferências nacionais de educação, organizadas, na década de 1920, pela Associação Brasileira de Educação. Nessas conferências apresentou suas teses e pode estreitar relações com educadores nacionais envolvidos com o ideário escolanovista.

Cabe destacar que no campo da cultura participou da fundação da Academia Paranaense de Letras (1936), bem como de associações ligada à música e belas artes na cidade de Curitiba e ao Estado do Paraná. Manteve contato com eminentes paranaenses, tais como David Carneiro, João Turin, Estanislau Traple, Osvaldo Pilotto, Romário Martins, Curt Freyesleben, Valfrido Pilotto, Theodoro de Bona, Erasmo Pilotto e Guido Viaro, entre outros.

Raul Gomes por meio das letras, atuou como um lente proeminente no Paraná, foi um leitor voraz e um estudioso de questões relacionadas à educação e cultura, e buscou difundir as “luzes” para a população estadual ao defender a disseminação da cultura letrada e das artes, levando o Paraná para a sua modernização. Acreditava na necessidade de ser repetitivo e reiterava seu posicionamento ao longo de décadas, para ele as ideias só triunfariam com a força de malhadas e remalhadas, como destacado por Osiski e Brandalise (1914). O texto escrito foi sua arma de luta, utilizando-se de jornais para propagar suas ideias e angariar adeptos ao seu projeto de sociedade, nesse o ensino público tinha destaque e deveria ser universalizado.

Referências

GOMES, Raul. Instrucção Pública do Paraná – Série de artigos publicados no jornal “A República” de Coritiba. Curitiba – Acervo Biblioteca Pública do Paraná, 1914.

GOMES, Raul. Missão e não profissão. Curityba: Graphica Paranaense, 1928.

OSISKI, Dulce; BRANDALISE.

 

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