A busca pela construção de currículos escolares atraentes e inovadores para o Ensino Médio no Brasil tem sido central nos discursos políticos promovidos no País nas últimas duas décadas. São variados os recursos argumentativos mobilizados nesse período, ora sintonizados com as demandas sociais e as culturas juvenis, ora articulados às necessidades do mercado e à promoção de novas oportunidades. Em comum a essas possibilidades, facilmente poderíamos destacar uma ênfase na crítica da organização disciplinar dos currículos escolares, em seus altos índices de evasão e abandono escolar ou mesmo em uma suposta inoperância da formação de mão-de-obra qualificada para a economia do século XXI.
Recentemente, esses argumentos adquiriram novos contornos, direcionando-se para o desenvolvimento de currículos flexíveis, ajustados aos interesses individuais dos estudantes. Em entrevista recente a uma revista informativa de grande circulação, o ministro da Educação do governo interino de nosso país, declarou que uma de suas principais metas é “trocar o modelo ‘jabuticaba’ por um sistema mais flexível”. Para tanto, para que os jovens brasileiros ampliem seu potencial de competitividade no cenário global, defende que, nas novas condições, “cada um percorreria a própria trilha: uns montando uma grade de matérias de acordo com seus interesses, dentro da escola tradicional; outros seguindo a rota do ensino técnico, ainda tão subaproveitada e desvalorizada no país”.
Importante reconhecer que as demandas por flexibilizar currículos e personalizar percursos formativos não se tratam de nenhuma novidade na Contemporaneidade Pedagógica, tendo sido defendidas por variadas correntes de pensamento. Todavia, para fins dessa breve reflexão, gostaria de propor uma singela historicização e uma rápida problematização. No que se refere ao Ensino Médio, no decorrer da segunda metade do século XX, com a ampliação do acesso à escola e a prolongação da escolaridade, podemos constatar os diferentes processos de segmentação e seleção na oferta. Tal segmentação da oferta ocorreu de forma ambivalente, uma vez que emergiu ao mesmo tempo de um novo reconhecimento cultural para as juventudes. As velhas regras da escolarização foram contestadas e, de acordo com o sociólogo Danilo Martucelli, “o collège e o ensino médio surgem como um espaço aberto à vida pessoal e à comunidade juvenil”. Uma das consequências desse cenário é a individualização dos percursos formativos.
Todavia – e aqui encontra-se minha problematização -, tal individualização adquire contornos específicos em contextos diferentes. No caso dos ambientes populares, por exemplo, esse processo aproxima-se da responsabilização dos indivíduos. Ainda conforme Martucelli, “o indivíduo não é mais imaginado herdeiro de uma posição social; ele é tornado responsável pelas próprias aquisições”. A responsabilização pode converter os estudantes em estrategistas de seu percurso; porém, partindo de recursos e condições desiguais. Outra nuance dessa questão diz respeito a uma crise da transmissão de uma cultura comum ou mesmo de um modelo ético comum – potencializada no interior de uma individualização dos percursos.
Uma sistematização: é possível concordar com a necessidade de alterações na forma curricular predominante no Ensino Médio; mas, ao mesmo tempo, precisamos ampliar nossa capacidade de reflexão crítica para um conjunto de reformas em que os indivíduos são tomados como grade de inteligibilidade. Em outras palavras, nos marcos da construção de uma escola justa e democrática, talvez os currículos com foco na seleção de conhecimentos escolares relevantes – “a tal jabuticaba” – ainda ofereça algumas possibilidades formativas para serem consideradas.
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