Durante toda esta semana centenas de alunos(as) e pesquisadores(as) de corte geracional e de níveis de formação dos mais variáveis estiveram reunidos no Campus da UFPB, em João Pessoa, no IX Congresso Brasileiro de História da Educação. A comunidade de história da educação brasileira é uma das maiores e mais importantes do mundo. E, certamente, as pesquisas realizadas na área guardam grandes implicações com o presente.
Não bastasse que as questões elaboradas pelos(as) historiadores(as), e que direcionam suas investigações, manterem estreitas relações com as vicissitudes de nosso tempo, há a questão de fundo de que um melhor entendimento do presente implica, necessariamente, o entendimento do passado que o gestou e autorizou. Ou seja, qualquer boa política pública, entre elas a educação, terá maior eficácia se partir de uma compreensão alargada e, portanto, histórica, dos problemas que querem enfrentar ou dos direitos que querem promover.
Durante uma semana os historiadores e as historiadoras reunidos(as) na Paraíba discutiram intensamente algumas centenas de pesquisa sobre a história da educação brasileira. Desde a abertura, ficou clara a implicação dos presentes com a crise que atormenta o país nos últimos anos. Manifestações de Fora Temer, de preocupação com os encadeamentos dos cortes orçamentários nas universidades e uma grande solidariedade com a situação da UERJ foram tônicas dos pronunciamentos.
Mas não apenas isso. Nos corredores e, sobretudo, nos trabalhos apresentados não foram poucas as ocasiões em que as preocupações com os projetos em discussão foram evocadas. Sem perder de vista o necessário entendimento da “especificidade” do passado, poderíamos dizer que este foi amplamente mobilizado para a discussão das dificuldades e das utopias vividas nas escolas públicas atualmente.
Numa dessas ocasiões, ficou claro, por exemplo, que a discussão proposta pelo historiador francês Roger Chartier na Conferência de Abertura acerca da relação memória e esquecimento reapareceu quando se questionava a supremacia masculina na produção do pensamento educacional numa profissão eminentemente feminina. Se memória é, necessariamente esquecimento e se toda política de arquivo é necessariamente política de apagamento, quais foram os processos que levaram ao esquecimento e ao apagamento da presença feminina na produção do pensamento educacional?
Será que um dos problemas de nossas políticas educacionais não está no fato de serem definidas por homens que pouca ou nenhuma implicação têm com a causa educacional? Se nos lembrarmos que quem se preocupa com a educação – como ocupação profissional e/ou familiar – são as mulheres e que estas representam menos de 15% do nosso legislativo (aquele que discute e aprova leis sobre educação), a questão parece fazer sentido.
Do mesmo modo, poderíamos evocar vários outros temas que se fizeram presentes nas discussões dos historiadores e historiadores da educação ao longo da semana. Seria possível, por exemplo, falar da internacionalização da educação nos tempos atuais – sob a égide do PISA, dos grandes conglomerados empresariais e da OMC – sem pensar nos processos de internacionalização da escola que, pelo menos desde o século XIX, marcam a experiência educacional em todos os continentes?
Certamente que a história da educação não interessa apenas e tão somente as relações do passado com o presente, mas uma compreensão cada vez mais rigorosa, aberta e densa daquilo que constitui o passado de nossa sociedade, atentando para suas especificidades. Mas o certo é, também, que uma das tarefas do historiador e da historiadora é, à modal do filósofo alemão Walter Benjamim, escovar a história a contrapelo e buscar conhecer e tornar história e memória aqueles projetos que foram vencidos e que correm o risco de cair no esquecimento. Elaborar o passado e torná-lo memória é uma das formas fundamentais de evitar que as atrocidades se repitam. E, convenhamos, nesses temos sombrios, em que os fascismos de toda ordem rondam o nosso dia a dia, é preciso desconstruir o esquecimento!