Editorial do Jornal Pensar a Educação em Pauta nº246, 01 de agosto de 2019
A minha gente hoje anda
falando de lado
e olhando pro chão.
(Chico Buarque, 1970)
Incentivo à violência contra as mulheres, populações negras, indígenas e LGBTQI+. Legitimação do racismo, da homofobia e do trabalho infantil. Aumento do desemprego, da precarização do trabalho e ataques aos direitos trabalhistas. Destruição do Estado e das políticas públicas. Ataque à educação, às universidades e aos professores. Elogio à ignorância e cultivo ao obscurantismo anti-científico. Submissão aos interesses das empresas transnacionais e subserviência ao governo dos Estados Unidos. Louvação da ditadura, aumento da violência policial e dos ataques aos direitos humanos. Aumento do desmatamento e da degradação do meio ambiente. Com tudo isso, e com muitas outras desgraças, tivemos que conviver nos primeiros sete meses do governo do ignóbil presidente Bolsonaro.
Nunca na nossa história, nem mesmo durante a Ditadura Civil-Militar, tivemos um início de governo tão danoso aos interesses da maioria da população brasileira e tão propositivo de políticas regressivas em relação aos direitos das camadas mais pobres da população. A situação, algumas vezes, é de pasmo diante das crescentes e cotidianas agressões às mais elementares regras de convivência civilizada, política e democrática. Às vezes, parece não haver saída deste pesadelo em que nos meteram. E é nisto que as forças das políticas da morte, representada pelo bolsonarismo, querem nos fazer crer.
MAS, HÁ SAÍDAS! E elas estão na continuidade da ação cotidiana de milhões de brasileiros e de brasileiras que, contrariando os preceitos bolsonaristas, não aceitam que os seres humanos devem cultivar o ódio, o mal, a ignorância, a violência, a mesquinhez, a mentira, a desfaçatez, a falta de solidariedade, a injustiça e a imbecilidade como marcas fundamentais da convivência.
HÁ SAÍDAS! E elas estão na continuidade da ação de milhões de servidores públicos que, nas escolas, nos hospitais, nos órgãos de fiscalização e controle, na polícia e na política, dentre outros, que, espalhados pelos mais de 5500 municípios brasileiros, desafiam todos os dias o bolsonarismo e lutam para garantir que o Estado funcione para garantir os direitos do conjunto da população.
HÁ SAÍDAS! E elas estão na organização e manifestações coletivas dos estudantes, dos trabalhadores, dos Sem Terra e Sem Teto, dos movimentos feministas, negros, indígenas e LGTBTQI+ e nas articulações nacionais de instituições de grande legitimidade e tradição de lutas como a ABI, a SBPC, a CNBB, a OAB e muitas outras que se colocam, hoje, na posição de enfrentamento do bolsonarismo em todas as suas manifestações.
HÁ SAÍDAS! E elas estão no crescente engajamento dos profissionais das artes e da cultura nas ações antibolsonaristas e em defesa dos direitos humanos, da civilidade, do Estado de Direito e da democracia. Nada mais salutar, neste momento, do que as críticas acidas, alegres e corrosivas dos chargistas, dos músicos e demais artistas dirigidas a Bolsonaro e demais milicianos em todo o Brasil.
HÁ SAÍDAS. E elas estão na exposição pública dos ataques perpetrados pelos órgãos da justiça – com o Moro, o Dellagnol e membros do STF à frente – contra as mais elementares regras do Estado de Direito e dos direitos civis e políticos garantidos pela Constituição da República. Mas também, pela contínua exploração e exposição das ignóbeis ações e declarações do próprio Presidente da República e seu ministério contra as mais elementares regras de funcionamento do Estado de Direito e de demonstração de total falta empatia com as dores e sofrimentos dos seus semelhantes.
HÁ SAÍDAS! E estão na preocupação coletiva demonstrada por milhões de brasileiros(as) e estrangeiros com a situação atual do Brasil e com o país que deixaremos de herança para as futuras gerações. E está também nas práticas de cuidados individual e coletivo que vêm sendo demonstradas por um número crescente de pessoas como um antídoto importante contra a desumanização e o adoecimento defendidos como regras das políticas de morte defendidas pelos arautos do bolsonarismo.
SIM, HÁ SAÍDAS! E elas estão sendo articuladas e postas em ação em nosso dia-a-dia, por milhões de pessoas. Para enxergá-las, é preciso que a gente não se deixe cegar pelo ódio bolsonarista e não se deixe adoecer e/ou desanimar com as infindáveis notícias negativas que nos chegam de todos os lados. Para fortalecê-las, é preciso divulgá-las e delas participar. “Um galo sozinho não tece uma manhã”, mas juntos podem anunciar o amanhecer!
Havemos de amanhecer.
O mundo se tinge com as tintas da antemanhã
e o sangue que escorre é doce, de tão necessário
para colorir tuas pálidas faces, aurora.
(Carlos Drummond, 1938)
Imagem de destaque: Tânia Rêgo/Agência Brasil