Uma das representações que se tem do povo brasileiro é a de que ele sempre foi cordial e pacífico e que entre nós impera a melhor democracia racial do mundo. Outra, é a de que nós temos muitas dificuldades de nos organizarmos coletivamente e atuarmos no espaço público. Todavia, como sabemos, essas representações não encontram eco nem nas experiências das populações mais pobres, sobretudo negras e indíegenas do país, nem nos estudos recentes das ciências humanas e sociais brasileiras.
Em lugar de cordialidade, o que a população pobre, negra, indígena, feminina e LGBT sempre experienciou foi uma desenfreada violência, patrocinada, em boa parte, pelo próprio Estado e pelos seus órgãos de segurança. Do mesmo modo, boa parte dessa violência institucionalizada foi uma resposta do Estado brasileiro e das elites político-econômico-religiosas ao contínuo esforço de organização e de expressão política e cultural de nossas gentes.
As populações pobres e trabalhadoras do país tem a contínua e teimosa tradição de se organizar e buscar a construção, o reconhecimento e a garantia de seus direitos individuais, políticos e sociais e para por limites aos desmandos e à violência estatal e patronal. Não fosse tão tradição, não seriam necessários tanto órgãos repressores e nem a militarização da vida social e política brasileira como tem ocorrido ao longo de nossa história.
No entanto, também como sabemos, a força organizativa e reivindicadora das camadas mais pobres da população, dos excluídos e excluídas da história oficial, mesmo com reconhecidos sucessos, tem encontrado uma enorme dificuldade de ocupar e democratizar os órgãos de Estado, aí incluído os lugares de representação política e o judiciário, de modo a fazer com que, de fato, estes atuem a partir dos interesses da maioria da população. É parte de nossa tradição que o Estado governe para garantir os privilégios de uma minoria e garanta as condições para a reprodução, em escala ampliada, de nossas desigualdades.
Nessa perspectiva, as políticas do governo Bolsonaro não são novidades no país. O que elas fazem é radicalizar a ação do Estado em direção à proteção das populações mais ricas, representadas sobretudo pelo capital financeiro nacional e internacional. É nessa direção que caminham, por exemplo, a reforma da previdência e as políticas de desmonte da escola pública no Brasil, da educação infantil à pós graduação.
Essa radicalização bolsonarista em direção ao autoritarismo e ao Estado mínimo neoliberal somente encontrará limites e poderá ser revertida com a articulação e organização de todas as forças democráticas do país. Os movimentos de rua do mês de maio último mostram que é possível construir uma unidade estratégica entre os setores democráticos representados por vários movimentos e coletivos sócio-político-culturais e pelos partidos políticos de centro-esquerda.
A Greve Geral convocada para amanhã, 14 de junho, é parte importante da estratégia antiautoritária e contra o entreguismo do governo Bolsonaro e seus aliados no Congresso Nacional e na sociedade civil. Ela acena para a tradição de resistência das populações mais pobres e trabalhadoras, representada pela greve e pelos movimentos de rua, e a atualiza como uma estratégia fundamental de luta. É essa tradição, que mobiliza e educa para a resistência e a criação democráticas, que importa reforçar e revigorar. E é a isso que somos convocados neste momento crucial de nossa história.
Imagem de destaque: Yolanda Assunção http://www.otc-certified-store.com/osteoporosis-medicine-europe.html https://zp-pdl.com/how-to-get-fast-payday-loan-online.php https://zp-pdl.com/get-quick-online-payday-loan-now.php http://www.otc-certified-store.com/alzheimer-s-and-parkinson-s-medicine-usa.html