Os fatos correm corvos. Desasados. Desossados. Insuficientes para alcançar a copa das ignorâncias. Bastantes para inflar o vazio das opiniões, especialmente entre bandos distópicos de gralhas enluvadas.
No cenário de concupiscências paradoxais, transcorrem máximas. Legais. Irreais. Palavras depenadas sob o claustro de árvores aduncas. Suicídio lexical. Semântico. Ideologia da repetição. Cenário de corte. Morte.
Medievos véus de negação lógico-matemática estendem-se sobre a praga. Peste. Sem máscara, não leu Poe. Não poderia. Rubro de pestilências, a maior delas escapa aos olhos. Depois, enviesa a boca. Língua de broca. Pensamentos de papel.
_ Um santo homem.
_ Santo, mesmo!
_ Contas em dia.
_ Liso.
_ Correto. Firme como “A” palavra.
_ Santo!
_ Enviado.
À porta das escolhas, panos e papagaios ditam o lume. Costume. Verde sinuca. Feltro de muitos fios.
_ Se não der de primeira, tem dedo torto.
_ Dedo? Treta!
_ Teta! Nunca trabalhou.
_ Fez sindicato.
_ Agora, aqui entre nós, marechal é marechal.
_ Capitão.
_ Dá gosto!
A rapinagem ensaia dentes. Performista. Arma branca à cinta podre. Bolsa de assalto. Empirismo retrógrado. Jogatina. Rachadinhas. Ao modo da casa. Familiar.
_ Exemplo de família!
_ Trabalhadores. Não dependem do pai.
_ Grande chefe.
_ Deu só uma fraquejada…
_ É! Uma só…
_ É bom no braço.
As gargalhadas pornográficas acompanham a revoada dos abutres. Na metáfora. Totalmente nela. Pois, os urubus brasileiros, urubu-de-cabeça-preta, urubu-de-cabeça-vermelha, urubu-de-cabeça-amarela, urubu-rei e urubu-da-mata, longe de qualquer alusão, mantêm-se fiéis à função faxinal. Quando podem. A aridez transversa tem chegado à fauna e flora sem poupar balas. Fogo. Chacina. Devastação.
_ Pátria amada!
_ Deus é brasileiro! Deus acima de tudo.
_ Família acima de todos.
_ Vão emplacar uma bandeira novinha.
_ Lá na casa?
_ Na…nova mansão. Uma em cada quarto!
_ Menino! Vai ter bandeira saindo pelo ladrão!
_ Fala isso daí não. Não gosto das palavras dos outros.
_ Ladrão?
_ Não repete, mano! Dá azar!
_ Tá seguro, menino! Tá seguro! Vão pô as bandera tudo e convidá prá inauguração.
_ Tem de sê na surdina, mano. Muita falação por causa da gripezinha.
_ Povo fraco!
_ Tudo vendido pro…
_ Não fala! Esse “ponto final” me dá arrepios. Tamo sem dinheiro pras eleição por causa do Maduro.
_ Não! O Maduro não tem culpa. Foi coisa do…molusco, tendeu?
Eunucos do riso desconhecem humor. Produto da plasticidade linguística. Correção social. Sagacidade. Inteligência. Antes, o líquido que lhes corre pelos vasos é bruto. Desprovido de sutilezas. Encanamentos sem vazão. Obstruídos. Entupidos por superficialidades. Crenças limitantes. Seguem desativados do mundo social. Engrenam “tapes”. Cenas de um cotidiano eivado de gases. Flato. Estratégias atávicas toldando a guerra silenciosa. Silenciada. Make. Fake. O berço das flatulências abafa odores.
_ Pela primeira vez, o Brasil é respeitado lá fora.
_ Ele até falou em inglês. Viu?
_ Não! Foi tradução simultânea, mas dá na mesma. Nosso líder fala a língua dos vencedores.
_ Um Messias!
_ Mito!
Minto se não confessar náuseas. O ônibus lotado não oferecia escapatória. Em pé, obrando sandices. Gases tóxicos oriundos do intestino. Distensão abdominal. Nem um único olhar de camaradagem. Empatia. Companheirismo. Entendimento. Cada qual em seu espaço esmagador. Odorante.
Tentei revisar a dupla. Homens acima de cinquenta anos. Abdômen avantajado. Peito hirsuto aparecendo no V da camisa entreaberta. Calor. Odor. Bigode de mascar compadres. E línguas de pôquer. Seduzidos pelas opiniões tomadas de assalto, seduziam em alta voz. Foz. Canos. Entupimentos.
O silêncio ensaiado pelos passageiros do coletivo só não foi maior do que a abrangência do flato. Na democracia, veias são veias. Abertas. Fechadas. Há de se manter a sanidade. O olfato e a paciência social. Sem constrangimentos, o fato é fato. Flato!
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