O fenômeno da evasão escolar na modalidade Educação de Jovens e Adultos (EJA) tem sido observado há vários anos e tem desafiado a compreensão dos educadores das escolas que ofertam essa modalidade de ensino. Os altos índices de abandono dos alunos chamam a atenção e impressionam com frequência, pois, em muitas salas de EJA, o número de alunos evadidos a cada semestre chega a ser superior ao número de alunos aprovados e tem servido como pretexto para o fechamento de muitas classes.
Os motivos pelos quais numerosos alunos abandonam subitamente o desejo pessoal de emancipação e ascensão social e profissional são bastante diversos. Os problemas constatados na EJA podem estar relacionados com os perfis dos jovens, caracterizados por suas especificidades, o que exige uma reconfiguração da escola para atendimento desse público. Arroyo (2006) destaca que, para configurar a EJA, deve-se conhecer quem são os seus sujeitos, no sentido de adequar a escola frente às necessidades de uma educação diferenciada. Para o pesquisador, o ponto de partida é perguntar quem são esses jovens e adultos. É preciso compreender como eles vivenciam o processo educativo, buscando entender as razões e motivações que levam esses alunos a abandonarem ou retornarem à escola.
A EJA tem se constituído como lugar social e historicamente reservado aos setores populares. Assim, os alunos, na maioria das vezes trabalhadores, pobres, subempregados, oprimidos, excluídos, são reconhecidos como classe social dominada, cuja reprodução da hierarquia social é legitimada na hierarquia escolar. Esse fato poderia justificar a ideia de que a EJA está vinculada a um reducionismo no ensino-aprendizagem, a uma formação aligeirada, de baixa qualidade e que não estimula a permanência dos sujeitos.
Ao desconsiderar o perfil dos alunos, a escola pode estar inadequada para atender estes sujeitos em suas diversidades. Compreende-se que esses sujeitos possuem características e necessidades de formação diferentes dos alunos do ensino regular. A falta de atenção a tais especificidades gera fracassos que acabam por desestimular os sujeitos, levando-os a desistirem da escola. Dessa forma, a escola, em sua variedade de aspectos, tais como o currículo, a gestão escolar, as avaliações e a organização do trabalho pedagógico, entre outros, precisa analisar, com profundidade, a relação de suas práticas com o fenômeno da evasão.
O problema da evasão escolar possui raízes históricas, contexto no qual a EJA é marcada por diversas políticas impostas pelas elites, por meio de sucessivas intervenções do governo mudando o sistema escolar, sem resultar, necessariamente, em qualidade de ensino. Diversas razões de ordem social e principalmente econômica concorrem para a evasão escolar neste cenário. Contudo, o Estado parece não estar atento a essas questões e as medidas que adota são bastante distanciadas das reais necessidades dos alunos dessa modalidade.
Do mesmo modo, as sucessivas reprovações têm peso significativo na decisão dos alunos em continuar ou não os estudos e a repetência é seguida pelo abandono escolar. As dificuldades enfrentadas pela escolarização tardia dos sujeitos da EJA, que envolvem desde condições organizacionais e estruturais da escola até a rotina de vida dos alunos, contribuem para a evasão. Muitos discentes apresentam experiências de vida e realidade social, como dificuldade de aprendizagem, cansaço físico, conflitos com os familiares e colegas, estrutura precária e dificuldade de conciliar tempo de estudo e trabalho, que não lhes permitem encontrar significado na rotina escolar.
Compreende-se que, dentre as diversas razões consideradas como influentes no processo de evasão, as escolas devem estar atentas, em especial, à responsabilidade pelas questões intraescolares, pois se configuram como fatores sobre os quais as instituições de ensino são efetivamente capazes de agir. A escola tem expressiva influência no fenômeno, o que exige que essa instituição assuma uma tomada de posição mais ativa diante do desafio de reduzir a evasão na modalidade EJA.
Oliveira (2009) apresenta uma análise acerca do currículo e práticas curriculares adequadas aos perfis e necessidades dos educandos da EJA. A pesquisadora traz, também, o conceito de tessitura do conhecimento em redes, ressaltando que o currículo mais adequado é aquele que estabelece relações ou ligações com a vida dos educandos e critica a fragmentação e a infantilização dos currículos destinados aos jovens e adultos.
Nesse sentido, reforça-se a defesa pelo debate aprofundado sobre os alunos, buscando conhecê-los e refletindo sobre que sujeitos a escola almeja formar. Compreende-se que a reflexão e o debate são importantes elementos para que a escola possa repensar as suas práticas pedagógicas, considerando a diversidade e as demandas dos sujeitos, ofertando um ensino de qualidade e contribuindo para a permanência dos alunos na EJA.
ARROYO, M. Educação de Jovens e Adultos:um campo de direitos e de responsabilidade pública. In: GIOVANETTI, M. A., GOMES, N. L.; SOARES, L. (Org.). Diálogos na Educação de Jovens e Adultos. Belo Horizonte, MG: Autêntica, 2006, p.19-50.
OLIVEIRA, I. B. Organização curricular e práticas pedagógicas na EJA: algumas reflexões. In: PAIVA, J; OLIVEIRA, I. B. (Org.). Educação de Jovens e Adultos. Petrópolis, RJ: DP&A, 2009, p. 97-107.