Por Luciano Mendes de Faria Filho
Participo de um grupo de pesquisa que, em continuidade a pesquisas anteriores, busca entender a história da UFMG a partir da interrogação sobre sua fundação, a história de alguns de seus departamentos e unidades e sobre a formação de professores na instituição. Nessas pesquisas exploramos vários arquivos institucionais e, infelizmente, o que temos observamos é que, a despeito do esforço e investimento de alguns TAEs e docentes, há um grande descaso pelos arquivos e pela memória institucionais.
Até recentemente a preocupação com os arquivos e com a memória institucionais na UFMG eram preocupações quase exclusiva dos(as) participantes da Rede de Museus e Espaços de Ciências e Cultura, ligada à Pró Reitoria de Extensão. No atual reitorado foi dado um passo importante para a criação das condições para que o problema fosse acolhido como uma preocupação de toda a UFMG com a criação da Diretoria de Arquivos Institucionais, dirigida hoje por um dos maiores especialistas brasileiros no assunto, o prof. Renato Pinto Venâncio.
Em sua curta história, a DIARQ reuniu especialistas, realizou diagnósticos e tem buscado produzir e operacionalizar instrumentos que contribuam para cumprir sua missão institucional. Mas, o que temos visto em nossas experiências com os arquivos das unidades é que, de um modo geral, a ação da DIARQ ainda não se faz sentir na universidade. Falta-lhe estrutura material e humana para realizar seu trabalho e, sobretudo, falta à comunidade universitária uma clara consciência sobre a importância da memória da própria instituição.
Nesse momento em que a UFMG completa 90 anos e que iniciamos os debates para a próxima eleição de Reitor(a), seria importante nos debruçarmos sobre a questão da memória institucional e, sobretudo, discutirmos sobre a estrutura (ou estruturas) necessária (as) para funcionar oficialmente como lugar(es) de memória da universidade e sobre que memória é importante guardar.
Uma das discussões fundamentais é sobre o que interessa guardar. Se não é possível guardar tudo, é pelo menos possível e necessário discutirmos o que importa preservar institucionalmente. Há uma preocupação de preservar a documentação administrativa, ainda que de forma pouco organizada, as condições de guarda e conservação dessa documentação é muito precária. Essa situação é muito mais precária ainda no que diz respeito aos acervos administrativos que constituem os arquivos históricos da universidade.
Mas, se há alguma preocupação quanto à guarda e preservação da documentação administrativa, no que se refere ao acervo acadêmico-cientifico o mesmo não ocorre. Guardar ou descartar a documentação a respeito das atividades fins da universidade – ensino, pesquisa e extensão – é via de regra uma decisão única e exclusiva dos professores(as), TAEs e alunos(as) envolvidos(as) nessas atividades. Essa dimensão da memória da universidade, a científica, acadêmica e intelectual corre continuamente o risco de ser simplesmente apagada.
A UFMG já demonstrou ter pessoas competentes e qualificadas para o trabalho de projeção e manutenção de estruturas materiais, administrativas e acadêmicas responsáveis pela recolha, seleção, organização, descarte e ou preservação da documentação relativa à sua história e memória institucionais. É preciso, agora, uma tomada de posição da administração central e das direções das unidades para enfrentar de fato o problema sob pena de queremos construir o futuro sobre o esquecimento do passado, o que seria não apenas um péssimo exemplo institucional, mas uma negação pura e simples de boa parte daquilo que se defende e se produz no interior da Universidade.
[Neste livro estão expostas as contribuições de vários/as profissionais da UFMG para a discussão e operacionalização de políticas e ações relativas aos acervos da Universidade]