Há alguns dias publicamos aqui um post em que defendíamos a necessidade de que a UFMG elabore uma política de Licenciatura como uma condição para que a Universidade possa melhor organizar a formação de professores. Agora, neste texto, voltamos nosso olhar para a Pós-graduação.
De acordo com os dados que constam na página da Pró-reitoria de Pós-graduação, a UFMG mantém 78 programas de Pós-graduação (Mestrado e Doutorado), dos quais 54 foram avaliados pela CAPES, em 2013, com as notas 5, 6 e 7. E apenas 8 desses programas foram avaliados com a menor nota atribuída a um curso credenciado pela CAPES (nota 3). Destes dados depreende-se, por um lado, uma grande homogeneidade e amadurecimento da Pós-graduação na Universidade e, de outro, a organização de cursos de formação de alto nível em áreas emergentes na instituição.
Um olhar externo ou desavisado poderia atribuir essa pujança a uma política da Universidade para a Pós-graduação. No entanto, acompanhando a Pós-graduação na UFMG nos últimos 20 anos eu desconfio que não é bem assim. Parece-me que a situação atual da Pós-graduação em nossa universidade resulta muito mais do protagonismo dos departamentos e dos próprios programas do que de uma ação concertada dos últimos reitorados. Isso pode ser indiciado, também, por uma visita à página da Pró-reitoria de Pós-graduação: nela não é possível encontrar nenhum texto mais substantivo de planejamento, apoio ou avaliação interna da Pós-graduação.
Em defesa dos Reitorados a gente poderia lembrar que, diferentemente da graduação, a Pós-graduação é uma espécie de escolha e investimento dos departamentos e unidades, o que supõe, necessariamente, um grande protagonismo do seu corpo docente. Em boa parte da universidade a gente sabe que, até a bem pouco tempo, a carga horária da Pós-graduação era um “tanto a mais” que cada docente tinha que dar além de suas aulas na graduação. Em alguns departamentos ainda é assim. Além disso, há que se considerar a heterogeneidade das áreas, de suas histórias de constituição e de institucionalização, o que dificulta uma ação da Reitoria para o conjunto da pós-graduação.
No entanto, não me parece que isso justifique a ausência de uma clara política de pós-graduação para e na universidade. Deixada submetida apenas ao protagonismo de cada departamento ou unidade, nossa pós-graduação deixará de usufruir de vários benefícios advindos de uma ação coletiva, institucional e articulada. Primeiro, num nível bastante elementar, desperdiçamos a experiência e o conhecimento daqueles que se organizaram primeiro e podem contribuir de maneira diferenciada com os mais novos. Deixamos, ainda, de ter uma clareza institucional e, um certo consenso necessário à ação coletiva, sobre nossas potencialidades e de nossas fragilidades. Além disso, somente uma política claramente estabelecida possibilitaria a identificação e prospecção daquelas áreas em que, estrategicamente, seria necessário que a UFMG investisse para ganhar competência e excelência. Finalmente, apenas uma política institucional debatida e acordada com toda a universidade possibilitaria articular a pós-graduação com as demais políticas e com os desafios atuais da universidade, dentre eles, as políticas de assistência estudantil, a política de alocação de vagas docentes, as políticas de qualificação e internacionalização, algumas das quais também de elaboração muito incipiente ou de recente aprovação pela Universidade, com a de cotas raciais na pós-graduação.
No plano externo, a existência de uma política de pós-graduação poderia contribuir para uma articulação interna para fazermos à necessidade de uma ação coletiva junto às agência de avaliação e fomento da Pós e da Pesquisa em Minas e no país. A ausência de uma instância institucional que reúna sistematicamente os Programas, acaba por induzir uma ação individual de cada um deles junto à CAPES e às agências de fomento, quando boa parte das adversidades e desafios vividos atingem a todos, indistintamente, mas com impacto maior nos cursos mais recentes ou com menores notas na avaliação da CAPES.
Nessa direção, a existência de uma política de Pós-graduação e a criação de instância de discussão coletiva e de ação política, poderia propiciar que a UFMG jogasse seu peso político e acadêmico nas grandes discussões a respeito da própria Pós-graduação, da C&T e ampliação do diálogo da universidade com a população. Políticas nacionais, ou estaduais, relativas à internacionalização, financiamento, formação no exterior, divulgação científica, dentre outras, deveria encontrar na Pós-graduação da UFMG um lugar de discussões e de respostas, ou abordagens, institucionais.
Enfim, a elaboração, implementação e avaliação de uma Política de Pós-graduação poderia fortalecer os cursos já instalados, trazer elementos para uma ação redistributiva interna visando a consolidação dos programas mais novos, articular a pós-graduação à demais políticas universitárias, criar uma instância de discussão e ação coletivas dos programas e possibilitar a participação da UFMG, de forma esclarecida e incisiva, nas discussões dos grandes desafios vividos pela Pós-graduação.