Juro que não entendo a dificuldade que gestores têm com o tempo. O tempo é o único recurso que não reduzimos nem ampliamos. Ele chega com todas as certezas que a natureza nos dá: o sol nascerá amanhã, a não ser que exploda. Depois desse desabafo de incredulidade vou ao assunto. A Secretaria Municipal de Educação de Belo Horizonte, desde a posse dos atuais gestores de todos os níveis, incluindo aí o prefeito, sabia que este é um ano de eleições para direção das escolas municipais. Protelou, postergou, adiou e assim comprometeu qualquer processo de eleição naquilo que uma eleição tem a obrigação moral de ser dentro de uma escola: o seu caráter pedagógico.
Uma escola não apenas escolhe o seu diretor ou diretora: ela escolhe um projeto de futuro. Ela escolhe o jeito político e pedagógico como ela pretende se relacionar com a hierarquia: para cima, com o governo e para baixo, com a comunidade. A escola está bem no meio e deve escolher como pretende conduzir, como pretende educar os dois lados. Toda escola é um exercício de ousadia. E o seu projeto de futuro não se decide em tão pouco tempo, misturado a outras tantas urgências de fim de ano que tem uma escola de ensino fundamental.
Estudantes com direito a voto devem ser iniciados nesse procedimento. A oportunidade de educar para a Democracia dentro de uma escola não passa apenas por esse procedimento, mas ele é de suma importância e deve ser valorizado ao extremo. Como valorizá-lo se não temos tempo para entendê-lo? Para entender o lugar do voto numa Democracia é preciso informação, formação, discussão. O valor do voto não está em si, mas no projeto que ele representa através da minha escolha. E onde está o projeto? Cadê o tempo para conhecer e discutir o projeto? A Democracia está para além do procedimento que é o voto: ela é construção cotidiana.
Hoje, os estudantes do terceiro ano do terceiro ciclo, o maior potencial educativo para um voto de qualidade – pois votarão em 2018 para presidente – estão preocupados com outras coisas. Estão preocupados com as avaliações do terceiro trimestre, diante de outro horror recriado pela SMED: o boletim com sessenta por cento para aprovação. Estão preocupados com as provas de ingresso naquelas seletivas de ensino médio. Estão preocupados com outro futuro que criaram para si.
E os pais? Em que momento conhecerão os projetos de escola que estão sendo propostos para seus filhos? Em que momento poderão opinar e construir juntos uma proposta para a escola de sua comunidade? Sequer dará tempo de conhecer o perfil dos candidatos, imagine conhecer seus projetos. Com tanto trabalho pela frente para garantir um mínimo neste final de ano temeroso essa, talvez, não seja a principal preocupação dos pais. Não vejo tempo para mostrar aos pais o que é uma escola, que serviço público ela presta à sua comunidade, as carências que os governos, por vontade política, não estão dispostos a corrigir.
O problema está em que a Secretaria de Educação exige um documento aos candidatos que se torna a melhor peça de ficção dentro de uma escola. Um plano que apenas os candidatos conhecem. Não há debate, não há construção. São vontades pessoais, a maioria com caráter e perfil gerencial que agrada ao governo. Isso de um lado aproxima os candidatos alinhados ao governo e afasta os candidatos alinhados com a comunidade. Oportunidade única para a indicação da próxima gestão.
Sinto assim uma estratégia de desmantelamento do que considero o maior projeto educativo e necessário na atualidade: a educação para a Democracia. Não se educa para a Democracia sem o conhecimento das regras do jogo; para conhecermos as regras do jogo precisamos de tempo; ter tempo significa a paciência e a antecipação necessária para conhecer e se preparar para então se tornar responsável pelo projeto, pelo voto, pela Comunidade. Democracia não é só voto, é valor: ético.