De tão usada, e jamais realizada, diminuiu a referência à sentença de que “o Brasil é o país do futuro”. Na verdade, como sabemos, o futuro é um espaço-tempo que não existe, e só nos restou, como regra, a contínua atualização de um país desigual, violento, autoritário e dirigido por elites que destruíram, continuamente, nossos melhores sonhos de que um outro país era possível.
Uma das variantes da máxima do “país do futuro” é aquela assertiva de que “quanto tivermos educação de qualidade para todos o Brasil vai melhorar”. Presente já nos discursos políticos e intelectuais do século XIX, e reiterada ainda hoje, tal sentença, transformada em slogan das empresas brasileiras, tem servido para retirar de si a responsabilidade pelas crescentes desigualdades, apesar da expansão da escola e de sua melhoria, e jogar sobre a escola e suas profissionais uma responsabilidade que não lhes cabe.
A contínua referência a um futuro promissor, sobretudo em educação, acaba por funcionar como uma cortina de fumaça que esconde a contínua erosão, no presente, das condições de construção de uma escola digna para todes. O presente vivido transforma, muito rapidamente, sonhos em ilusões de um passado em que a escola pública teria sido de boa qualidade.
É bem verdade que os militianos que hoje dirigem o país, com seu ímpeto destrutivo, chocam até mesmo aqueles e aquelas que, abrindo mão de qualquer escrúpulo democrático e humanitário, pavimentaram o caminho para que o Presidente, seus militares e milicianos, chegassem ao poder. Mas, neste justo momento, há que se observar as movimentações dessas mesmas pessoas e grupos, notadamente os mantidos sob a órbita empresarial, a nos prometer reformas educacionais que, no futuro, garantirão que o empresariado brasileiro poderá pagar um bom salário porque seus empregados, enfim, terão frequentados uma boa escola pois organizadas e geridas sob a lógica empresarial.
Em educação, assim como em qualquer dimensão da existência humana e não humana que habita o planeta, não há que se acreditar que futuro melhor haverá se o presente não o antecipa. O futuro, na verdade, só existe no presente; fora disso, ele é uma ilusão a acobertar os agenciamentos que negam o “futuro promissor” no momento exato em que o anunciam.
O tempo de espera e de dúvida acabou, e os monstros destruidores do futuro estão cada vez mais famintos. Hoje, mais do que nunca, há que se resolver para quem vai a nossa solidariedade e nosso engajamento. Um Brasil melhor, uma educação de qualidade, o fim das desigualdades e das violências não são presentes que o futuro nos dará. Somente teremos isso se, hoje, agora mesmo, resolvermos pensar a contrapelo e dar presentes dignos ao nosso futuro.
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