Reflexões sobre o seminário do Pensar a Educação, Pensar o Brasil
Arthur Medrado*
Quais são os desafios de pensar a educação em um tempo demarcado pela crise? Crise política, das instituições, dos governos, dos processos pedagógicos e, principalmente, crise dos sujeitos. Pensar o contemporâneo, esse tempo em que refletimos enquanto ele acontece, põe a crise em posição central nas nossas vivências. Suspendemos crenças, dogmas, e modos de pensar e agir para nos abrir para o novo. Esse “novo”, por sua vez, nos obriga a vivê-lo, experimentá-lo e pensá-lo a partir da própria posição em que estamos: aqui e agora. Percebemos, então, que nos constituímos mutuamente com a nossa sociedade, uma sociedade onde as mídias estão cada vez mais presentes. No momento presente é inevitável tentar se abster delas: entre a sensação de impossibilidade diante das coisas constituídas e a falta de qualquer certeza em relação ao futuro, vamos escrevendo uma história demarcada pelo provisório e pelo risco.
O Seminário Anual do Projeto Pensar a Educação Pensar o Brasil em 2018se propôs a olhar e refletir sobre tensionamentos que a mídia estabelece em relação à educação. A proposta do projeto era ampliar a questão para o campo da Comunicação Social, trazendo outras questões: “Quais as razões que levam à mobilização retórica da educação e como as mídias têm contribuído para a consolidação de justificativas e argumentos que esvaziam a educação de sua dimensão profissional, intelectual e institucional? Como as mídias comunicam sobre a educação? Como o debate sobre a educação se estabelece no espaço público através das mídias?1
O seminário se propôs a discutir e questionar o modo como as mídias digitais se relacionam com a educação, estabelecendo um debate reflexivo sobre a construção e constituição do espaço público com/e através das mídias.
Nesse texto refletirei sobre as quatro conferências realizadas durante o primeiro semestre do ano. Para tanto, este texto está organizado da seguinte forma: apresentarei alguns pontos centrais abordados em cada uma das conferências (a fim de situar quem lê sobre os temas e questões apresentadas e debatidas) e, logo após, discutirei sobre a potência da educação em sua relação com as mídias à partir de um dos elementos que me parece central: a escuta.
Na conferência do dia 22 de março, para a abertura do seminário, o convidado foi Nelson Pretto, da Universidade Federal da Bahia. Em sua conferência o prof. abordou o tema “Educadores-intelectuais públicos: construindo outras narrativas” e discutiu, portanto, sobre os usos das mídias digitais, apresentando tanto problemas e questionamentos, como as possibilidades para ocupação do espaço midiático.
Nesse dia, antes da conferência, o professor Luciano Mendes iniciou a fala explicando as propostas e objetivos do Pensar a Educação Pensar o Brasil, destacando que o projeto visa pensar os 200 anos da independência do pais tendo como objetivo a questão central da educação. O professor apresentou, em seguida, as linhas de atuação do projeto, que incluem programa de rádio ao vivo, uma revista aberta sobre educação (editada em conjunto com professores da educação básica) e ações que passam pelo cinema, rádio, livrose jornais, incentivando e possibilitando outras leituras de mundo.
No dia 26 de abril Sandra Tosta (professora da UNA) e FlorencePoznanski (FNDC-MG e Ong Internet Sem Fronteiras) debateram sobre a “Democratização da comunicação e cidadania”, problematizando e discutindo o acesso aos meios de comunicação. Elas trouxeram para o centro da questão o papel da educação nesse processo.
Na conferência do dia 24 de maio a professora Andrea Versuti, da Universidade de Brasília, foi responsável pela conferência “Reflexões pós-panópticas sobre vigilância e consumo na sociedade da classificação”.
A última conferência do semestre foi realizada pela professora da UFMG, Ana Paola Amorim, que na conferência “Corrupção da opinião pública e a falta de uma comunicação como prática da liberdade” explorou as estruturas do sistema de rádio-difusão no país em seu caráter antidemocrático. Ana Paola explorou, principalmente as questões que impedem a constituição de uma comunicação pública no Brasil.
Educar na contemporaneidade: alguns apontamentos.
“contemporâneo é aquele que mantém fixo o olhar no seu tempo, para nele perceber não as luzes, mas o escuro” (Agamben, 2009, p.62).
Talvez educar na contemporaneidade seja admitir outros espaços educacionais (físicos ou não), como as mídias, por exemplo. Desenvolvendo uma visão crítica dos sujeitos, mas respeitando suas subjetividades e experimentando com eles as diferenças. Educar como uma ação que busque a produção de perguntas e não que caminhe sempre na busca por respostas. Educação como o lugar no qual exista uma descentralização do “poder” de deter o conhecimento e, inclusive, seja possível aprender com o outro, com as mídias, algo para além das mídias. Este é um exercício rumo à alteridade das imagens (RANCIÈRE, 2012). Educar na contemporaneidade seria advogar pelo desenvolvimento de um processo que (re)conheça nossas falhas e incompletudes. Uma educação que caminhe, resista e sobreviva entre (e nas) lacunas que nos formam. Onde a incerteza possa ser um projeto de conhecimento no qual tenhamos a possibilidade de nos resgatar.
Esse resgate só será possível através da escuta e a escuta é uma tarefa difícil. É preciso sensibilidade, disposição e paciência. Vivemos em um mundo onde muito se fala e pouco se escuta, bem sabemos. Mas falo aqui de outra escuta: a escuta dialógica, não somente a escuta de um discurso. Escutar, nesse caso, exigirá um movimento anterior: co-criar as possibilidades para que os sujeitos (todos, todas e qualquer um(a) possam falar. Acredito, portanto, que as mídias sejam dispositivos que funcionam como ferramentas de escuta. Escutar, nesse caso, é uma estratégia da urgência e da necessidade.
1Retirado da Ementa da Disciplina.
Referências
AGAMBEN, Giorgio. O que é o contemporâneo? e outros ensaios. Chapecó: Argos, 2009.
RANCIÈRE, O destino das imagens. Rio de Janeiro: Contraponto, 2012b.
*Graduado em Jornalismo e Mestre em Educação pela Universidade Federal de Ouro Preto – UFOP. Participou da mobilidade internacional na Universidade Nacional de La Plata – UNLP, na Argentina, em 2012 onde estudou Comunicação Audiovisual. É doutorando do Programa de pós graduação em cinema e audiovisual da UFF. Atua e pesquisa com interesse especial nas narrativas, poéticas e estéticas das linguagens do som e da imagem (fixa e em movimento) transitando entre produções com fins educativos e experimentais. Com a metodologia Olhares (im)Possíveis, desenvolvida e aplicada durante a pesquisa de mestrado conquistou o 3º Lugar no 6º Prêmio AMAERJ – Juíza Patrícia Acioli de Direitos Humanos (categoria práticas Humanísticas).
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