Na tentativa de emplacar o ensino a distância, defensores do utilitarismo frente a todo tipo de vida (incluído aí o meio ambiente) ensejam dar um caráter ainda mais produtivista e alienante aos currículos escolares e às ementas eurocentradas.
Como se já não bastasse todo o processo de aculturação e genocídio realizado num nível mundial e, de forma agravada, no território que denominaram como Brasil, o ensino remoto (um eufemismo para a implantação do EAD) ameaça, ainda mais, a educação, no sentido de padronização de culturas e saberes ditos mais legítimos do que outros.
Evidentemente, numa pandemia como esta temos a chance de ressignificar as relações humanas, mantendo a interação de docentes com discentes, a partir da realização de momentos pedagógicos num formato que contemple poucos alunas/alunos professor@, ao invés de optar pela massificação acrítica.
Poderíamos, também, repensar os currículos escolares, compreendendo que diferentes epistemologias são necessárias, num rompimento a visões de mundo que estão nos levando a desarticulação das condições necessárias à continuidade das vidas neste planeta.
Comunidades indígenas, quilombolas, praticantes da permacultura (incluídos, aí, assentados e assentadas adeptas da agroecologia – com produções alimentícias orgânicas), mas não só estes, já estão fazendo isto, com seus limites e potencialidades.
A mudança de rumo da sociedade, ainda incipiente, em direção a um capitalismo verde, definitivamente, é só um paliativo. Outras visões de mundo e outros saberes necessitam ser experienciados (visto que muitas destas epistemologias ainda resistem e outras estão sendo resgatadas, graças à valorização da ancestralidade).
Porém, repensar os saberes escolares sempre foi colocado em xeque, ainda que estejamos cientes de que este processo se agravou – numa crescente – desde o Golpe de 2016.
A mudança advinda do título deste texto “É hora de repensar a educação” não se consumará com fórmulas simples. Mas alguns preceitos podem fazer parte da nossa luta:
– Massificar aulas e vídeos de poucos/poucas pensadores(as) não humanizará o processo de ensino-aprendizagem;
– Dar andamento a aulas a distância, sem que @s discentes tenham igualdade de condições (além de inconstitucional) impulsionará nosso país a manter-se no topo da desigualdade mundial;
– Amontoar alunas e alunos no ensino presencial, num cenário de pandemia, é dar vazão a um obscurantismo mortal;
– Continuar com as atuais ementas só distanciarão os que, historicamente, foram e estão sendo marginalizados;
– Negar-se a repensar a escola como socializadora de saberes gera o ambiente ideal para que as adaptações realizadas neste momento de pandemia (que poderá se prolongar por anos e se repetir em ciclos ainda mais longos) sejam ainda mais racistas, excludentes e geradoras de desigualdade.
O fato é que perder a oportunidade de resgatar importantes saberes e epistemologias (não produtivistas) gerará o fortalecimento de grupos adeptos das ideias do “Escola sem Partido” (sabemos que são ideias de um partido só), conservadores e predatórios.
Enquanto os saberes dos oprimidos, dos excluídos e dos, historicamente, marginalizados não fizerem parte dos currículos escolares, momentos de crise só servirão para reforçar as mortes dos pensamentos ancestrais e de todo tipo de vida que resistem neste mundo.
É hora de entendermos que este momento de crise serve para repensarmos o processo de ensino-aprendizagem e incluirmos, em termos teóricos e práticos, as mais diversas culturas e conhecimentos em nossas ações, sabendo que a técnica desvinculada da vida não é só letra morta, mas geradora de morte… a começar pela extinção da vida humana. Quem sabe, a partir daí, alguém possa bradar: Vai Planeta!
Imagem de destaque: Indígenas da aldeia Halataikwa, da etnia Enawenê-nawê, localizada entre os municípios de Juína e Comodoro, Mato Grosso. Foto: Jana Pessôa/Setasc-MT