Editorial da edição 270 do Jornal Pensar a Educação em Pauta
Vivemos dias difíceis! Em razão da pandemia de Covid-19, mas também devido ao agravamento de problemas estruturais do capitalismo financeiro, há prognósticos de que, às milhares de morte decorrentes da doença, seguirá uma profunda recessão na economia de boa parte do mundo. E, como sabemos, em momentos de crise do capitalismo, quem mais sofre são as classes trabalhadoras e as populações mais pobres e vulneráveis.
No Brasil, o cenário não é nem um pouco promissor. Como se não bastassem os problemas trazidos pela pandemia, a inconsequente e desumana postura do Presidente nos coloca numa situação sanitária e social mais delicada ainda. Mesmo que não se esperasse do Presidente Bolsonaro uma postura de Estadista ou Chefe de Estado, posturas que não encontram eco em seu histórico político ou profissional, ele extrapolou todos os limites aceitáveis para quem ocupa tão elevado posto na República brasileira.
Há quem leia nesse comportamento cada vez mais tresloucado do Presidente da República uma tentativa de criar um caos social que possibilitasse a instalação, de direito, de algo que ele vem tentando desde que assumiu a Presidência: a ruptura do Estado de Direito. Não são poucos(as) os(as) analistas que afirmam que Bolsonaro, de fato, flerta com uma ditadura nos moldes daquela que se instalou no país com o Golpe de 1964.
Mesmo que haja sérias reservas sobre os prognósticos mais sombrios de alguns analistas, e mesmo que a cúpula militar não apoie as aventuras autoritárias de Bolsonaro, não há dúvida que há uma cultura política autoritária amplamente disseminada em toda a população Brasileira. E essa cultura política autoritária tem, crescentemente, ganhado legitimidade no espaço público e, mesmo, como política de Estado.
A eleição de Bolsonaro, assim como a presença ostensiva de militares em postos chave do governo federal, mostra que a tradição de militarização da política e do aparelho de Estado, de longeva tradição no Brasil, não perdeu força com a democratização. E as recentes manifestações pela volta de um governo autoritário nos mostram que, mais do que nunca, é necessário ação e vigilância democráticas que afirmem: DITADURA, NUNCA MAIS!
A política e, portanto, o diálogo como formas de solucionar conflitos e de evitar a o governo da força dos poderosos sobre os mais fracos implica, necessariamente, uma educação intelectual e cívica também democrática, plural, dialógica e, portanto, de qualidade socialmente referenciada. Uma educação com tais características não se restringe à escola. É uma tarefa de todos nós e de cada um(a). Ela está presente nas formas de enfrentar a pandemia e de distribuir os ônus da crise; nas formas de solidariedade e de cuidado com os mais vulneráveis; na repulsa à sociopatia do Presidente e de alguns de seus Ministros e nas formas de acolhimento dos inesperados gritos de socorro que a situação nos impõe hoje, neste momento de crise. Enfim, é uma educação que afirma a nossa humanidade contra toda e qualquer forma de vilania e violência. É uma Pedagogia da Indignação e da Esperança, como bem nos ensinava Paulo Freire.
Imagem de destaque: Paulo Pinto/ Fotos Publicas