Daniel Ribeiro de Almeida Chacon
Beatriz Barbosa Gomes
Daniela de Moura Ferreira
Luana Alves dos Santos
“Uma sociedade justa dá oportunidade às massas para que tenham opções e não a opção que a elite tem, mas a própria opção das massas. A consciência criadora e comunicativa é democrática” (Paulo Freire).
Paulo Reglus Neves Freire nasceu em Recife/PE no dia 19 de setembro de 1921, e se estivesse vivo completaria no ano de 2021, 100 anos. O legado deste autor para as Humanidades de forma geral é inequívoco, sendo uma referência para o debate sobre a transformação social por meio da educação e de uma práxis com base no diálogo. Patrono da educação brasileira, Paulo Freire tem 29 títulos de Doutor Honoris Causa por Universidades da Europa e da América, e várias outras menções e prêmios, como Educação pela Paz, da UNESCO, que recebeu em 1986. Além disso, foi indicado ao Prêmio Nobel da Paz no ano de 1993. Também de acordo com a ferramenta da Google Scholar, que é usada para pesquisa no meio acadêmico, Paulo Freire é o terceiro pensador mais citado do mundo em trabalhos acadêmicos na área das Humanidades.
Em suas obras sempre destacava o papel do diálogo e das lutas históricas para a superação do/a oprimido/a de sua condição, também nas lides educativas. Nesse cenário, gostaríamos de pontuar a sua preocupação democrática e sua rejeição radical à cultura do silenciamento. É de conhecimento comum que Paulo Freire foi perseguido pela Ditadura Civil-Militar de 1964, sendo preso e exilado. Em um programa televisivo com o entrevistador Serginho Groisman, no ano de 1990, foi questionado por uma jovem sobre o que significou a Ditadura Militar para a Educação Brasileira. Com efeito, reproduzimos aqui parte de sua resposta:
Eu acho que muitos de vocês devem ficar curiosos com relação, por exemplo, o que aconteceu em 64 com um cara que porque estava preocupadíssimo em desenvolver um Plano, um Programa de Alfabetização de Adultos para o país, fui preso por causa disso. Quer dizer… eu realmente me lembro de que quando fui para o exílio e comecei a discutir na América Latina, na Europa e nos Estados Unidos as razões do meu exílio, as razões por que fui preso e expulso da Universidade. Os caras não podiam entender e nem compreender. Eu fui preso e exilado por causa da Ditadura. A Ditadura Militar de 64 considerou e não só considerou, mas disse por escrito, publicou, que eu era um perigoso, subversivo internacional, um inimigo do povo brasileiro e inimigo de Deus, ainda arranjaram essa carga para mim de ser inimigo de Deus. Poxa, acho que a Ditadura estragou esse país da gente durante muito tempo e continua estragando hoje. Quer dizer… evidentemente que a Ditadura Militar não inaugurou no Brasil o autoritarismo. O autoritarismo está entranhado na natureza mesma da nossa sociedade. O Brasil foi inventado autoritariamente, mas os militares deram uma indiscutível contribuição ao autoritarismo. Eles ajudaram muito a crescer o autoritarismo, a violência, a mentira, foi uma coisa trágica isso. Eu acho que esse período de Ditadura no Brasil, Deus queira, agora diria eu, que jamais se reinvente. O meu gosto que nós todos, brasileiras e brasileiros, meninos, meninas, velhos, maduros, que nós todos tomemos tal gosto pela liberdade, tal gosto pela presença no mundo, pela pergunta, pela criatividade, pela ação, pela denúncia, pelo anúncio, que jamais seja possível no Brasil a gente voltar aquela experiência do pesado silêncio sobre nós.
Na atualidade brasileira, não são escassos os ataques virulentos aos direitos coletivos e à própria democracia. Segundo o site BBC News Brasil somos o 4° país que mais se afastou da democracia no ano de 2020, segundo relatório. O saudosismo de um passado triste, afirmado como uma fantasia romanesca de ordem e progresso constitui-se, assim, como um ideal continuamente defendido por uma extrema direita odiosa e próxima do fascismo. Destacamos aqui que a luta em prol da democracia é sempre uma necessidade, sobretudo, em um cenário difícil e de crescente tensão social como o que vivenciamos atualmente. Desse modo, rememorar o centenário de Paulo Freire é reavivar o seu compromisso ético e histórico de construção de uma sociedade democrática e humanizadora. É reafirmar a educação como prática da liberdade, essencialmente oposta à cultura do silêncio, à negação do outro/a, de sua própria humanidade. A educação em perspectiva freiriana é, pois, um ato político e democrático em favor da dignidade humana.
1 – Professora da Faculdade de Educação da Universidade do Estado de Minas Gerais – FaE/CBH/UEMG. E-mail: alinechoucair@yahoo.com.br
2 – Professor da Faculdade de Educação da Universidade do Estado de Minas Gerais – FaE/CBH/UEMG. E-mail: prof.danielchacon@gmail.com
3 – Graduanda em Pedagogia pela Faculdade de Educação da Universidade do Estado de Minas Gerais – FaE/CBH/UEMG. E-mail: beatriz.0293205@discente.uemg.br
4 – Graduanda em Pedagogia pela Faculdade de Educação da Universidade do Estado de Minas Gerais – FaE/CBH/UEMG. E-mail: danimouraf16@gmail.com
5 – Graduada em Letras pela Faculdade Pedro II. Pós-graduanda em Ensino de Língua Portuguesa e Literatura pela Universidade Federal de Lavras. E-mail: luana-alv@hotmail.com
Para saber mais:
FREIRE, Paulo. Educação e Mudança. 43 ed. Rio de Janeiro/São Paulo: Paz e Terra, 2021. p. 49.
Imagem de destaque: André Koehne./WikimediaCommons