Destruição seletiva

Muito já se escreveu, aqui e alhures, sobre o caráter genocida e miliciano do atual ocupante do Palácio do Planalto. Além disso, adjetivos como energúmeno e preguiçoso são abundantemente utilizados para qualificar a sua falta de inteligência e de aptidão ao trabalho. No entanto, ainda que acertados, tais formas de se avaliar a pessoa do Presidente da República não podem ser estendidas ao seu governo e às forças que o sustentam.

Seria muita ingenuidade política e falta de acuidade analítica achar que a horda que tomou de assalto a República não tenha um projeto muito claro de destruição nacional. E isso não apenas pelo fato de que o próprio Presidente já o disse, mas sobretudo porque a destruição em curso  é obra de estrategistas de primeira grandeza.

Quando se observa o curso dos acontecimentos que levaram ao Golpe de 2016 e à eleição e governo do atual mandatário, não restam dúvidas de que há uma clara orquestração das forças nacionais e internacionais para a dilapidação do patrimônio nacional, a destruição da capacidade de governo do Estado brasileiro e para  o estabelecimento, aqui, de uma republiqueta de 4ª categoria comandada por militares, milicianos, religiosos e empresários sem nenhum compromisso com o bem público e com a melhoria da vida da maior parte da população.

Da Emenda Constitucional 95 à farra do lucro da Petrobrás; da entrega do pré-sal à camarilha internacional à destruição do INP; das reformas trabalhistas e previdenciária à destruição das universidades; da farra do agrotóxico à exacerbação da violência policial; do engajamento da imprensa nos projetos da “república de Curitiba” ao negacionismo científico; da recusa à vacinação à destruição da agricultura familiar; da destruição das estruturas de Estado à corrupção em massa; tudo isso nos mostra, dia após dia, que a destruição é seletiva e vem acompanhada, quase sempre, de uma cortina de fumaça que envolve as chamadas pautas de costumes e valores reacionários.

Ainda que a destruição esteja, também, apoiada em pautas de valores e costumes reacionários, não são estes que guiam os estrategistas que atuam nos bastidores ou à luz do dia nesse processo de destruição seletiva. O empresariado que apoia as fundações que pretendem ensinar às professoras públicas como devem atuar, é o mesmo que apoia as políticas governistas que destroem a escola pública; o empresariado que afirma que o “agro é vida”, é o mesmo que apoia a destruição da agricultura familiar, a farra do agrotóxico e as políticas que produzem a miséria e a fome; os religiosos que se batem contra as universidades, são os mesmos que utilizam as melhores tecnologias para explorar as misérias alheias e disseminar mentiras de todas as ordens; militares que dizem estar a serviço do Brasil, são os mesmos que se locupletam com ganhos especiais e operam as políticas americanas no interior de nossas fronteiras.

Nunca devemos esquecer que muitos e muitas que se batem contra o destempero, falta de preparo e conservadorismo do atual ocupante da Presidência estão ávidos pelo estrondosos lucros que lhes são repassados pelas políticas entreguistas e irresponsáveis do Ministro Guedes.

Um dia haverá que se contar a história desse momento em que vivemos e, nela, capítulo à parte deverá ser dedicado às diversas instituições e forças sociais que foram responsáveis pelos genocídios que hoje se praticam no Brasil. Dentre elas, o empresariado nacional e internacional, os militares e os religiosos deverão ocupar lugar central. Debitar a conta exclusivamente à sociopatia e à perversidade do “preguiçoso” é atentar contra os fatos e, de resto, à sua falta de inteligência e interesse em trabalhar.


Imagem de destaque: foto tirada por Silvani Nascimento, da Faculdade de Educação da UFMG.

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