Dario Velozzo: Reminiscências de um Professor e Editor (1896-1937)
Elaine Rodrigues
Como se pode intuir, pelo título proposto a esta escrita, nosso objetivo é dar a ler reminiscências de um educador que, como personagem histórico, exerceu várias funções, dentre elas a de professor e editor, preocupado com a melhoria e qualidade do ensino no Paraná, nas primeiras décadas da recém instaurada república brasileira. Dario Persiano de Almeida Velozzo nasceu no Rio de Janeiro no ano de 1869 e mudou-se para Curitiba em 1885; desde então, integrou-se ao estado do Paraná e fez dele seu espaço de atuação, vindo a falecer no ano de 1937.
Vellozzo conheceu uma Curitiba que se movimentava na velocidade da luz, na urgência de mensagens telegrafadas, no acelerado do transporte por bondes, uma cidade que se modernizava e ansiava por homens “modernos”, este encontro lhe possibilitou inquietações posteriormente transformadas em ações no campo educacional.
Dario Velozzo, professor do Ginásio Paranaense desde 1899, encampou a causa da melhoria do ensino por meio da divulgação dos ideais de educação da modernidade, para tanto, editou revistas, livros e manuais escolares dirigidos aos seus colegas de profissão. As revistas, A Escola (órgão do grêmio dos professores; 1906-1910), Pátria e Lar (1912-1913) e Brazil Civico (1918-1919), são ações que se caracterizam como estratégias em prol do que, por meio de seus escritos, definia como uma forma de “republicanizar a república”, especificamente no Paraná. Todo seu esforço de editoração consistiu em criar veículos de comunicação com vistas a fortalecer a formação e a profissão do ser- professor.
A edição dos periódicos supracitados, número a número, divulgavam teorias que advinham de vários campos, os quais, naquele momento, em termos internacionais, tornavam-se disciplinas acadêmicas, a psicologia, história e filosofia fundamentaram os escritos de Velozzo e de seus colaboradores que tomaram a si a responsabilidade de fazê-las circular. O objetivo, somar esforços que pudessem forjar práticas docentes comprometidas com a racionalidade científica moderna. A crença em ações pedagógicas que priorizassem a racionalização do tempo, observação e quiçá a experimentação foi o alvo comum destas publicações, a escola, assim se esperava, deveria adequar sua rotina aos fundamentos que, postos em circulação pelos periódicos, chegariam com certeza a mesa do professorado. O impacto, assim se esperava, constatar-se-ia na qualidade do ensino!
As revistas editadas por Velozzo figuram dentre um rol de jornais, boletins, compêndios e livros que circularam no Paraná no início do século XX e se tornam expressivas à medida que o estado vivenciava o fim do período provincial que pode ser dividido em duas fases, de 1853 até a guerra do Paraguai (1864 – 1870) e o término desta guerra até 1889. A capital, Curitiba, abrigava sob sua responsabilidade uma população de 50.124 habitantes. O ideário de civilização e formação do povo brasileiro habitava a mentalidade do paranaense, a definição de parâmetros para que um projeto educacional, proposto em âmbito nacional, erigisse de forma satisfatória e figurasse como elemento unificador da nova ordem tornava-se central em outras localidades que não somente Rio de Janeiro e São Paulo. Diferenciar a república do regime monárquico era tarefa árdua, abarcada por todos aqueles que partilhavam o ideal de que a nova forma política assumida pelo Brasil precisava de “brasileiros”. Essas transformações seriam possibilitadas pela educação e melhoria do acesso aos avanços tecnológicos.
A especificidade do impresso “A Escola”, por exemplo, traduz-se como um material cujos destinatários/leitores seriam, de acordo com seus idealizadores, os professores atuantes no ensino, leigos ou não, reconhecidos nas páginas da revista como “artífices obscuros do progredimento social”. É importante ressaltar que esta revista, em seus princípios formuladores, veiculou interesses de um grupo com propósitos previamente definidos. O objetivo é que a mensagem escolhida para circular fosse apropriada por seu leitor, e não há imparcialidade; ao contrário, divulgava aspirações, apresentava necessidades e especificidades de um grupo social e os antagonismos pertinentes a toda dinâmica educacional. Este grupo era maçônico.
A atuação editorial de Velozzo teve visibilidade maior devido à fama e respeito, adquiridos em seu trabalho como professor. No papel de educador, ele pôde demonstrar sua vasta erudição, escreveu vários livros dentre eles dois didáticos que foram muito utilizados pelas escolas: Licções de História (1902) e Compêndio de Pedagogia (1907), tiveram grande repercussão e receptividade no cenário educacional paranaense e em outros estados brasileiros.
Professor de História Universal fez do conteúdo de suas aulas a base para os escritos contidos no livro Licções de História que fora editado por primeira vez em 1902 e a esta sucederam-se mais seis edições, 1904, 1919,1943,1944,1948 e 1949, a obra versa sobre a história da humanidade, da pré-história até o período de sua primeira edição, seu formato prima por apresentar resumos e propor lições ao seus leitor.
O Compêndio de Pedagogia, subsidiado pelo governo do Paraná, editado por primeira vez em 1907 e de uso obrigatório nos cursos normais do estado, caracteriza-se como um manual para o curso de Pedagogia para a escola normal, três volumes dão o corpo do texto, cada um deles era direcionado a uma das séries que deveriam ser cursadas pelos(as) normalistas. Em História da Pedagogia, metodologias de ensino e pedagogia aplicada eram respectivamente os assuntos tratados.
Segundo Vellozzo, os educadores e toda a sociedade deveriam somar esforços para o desenvolvimento das “faculdades físicas, morais e intelectuais” do homem, preocupava-se, em última instância, com a constituição de um cidadão que se comprometesse com a república.
Referências:
CARNEIRO, David. História Biográfica da República no Paraná – 1889 a 1994. Curitiba: Banestado, 1994.
PILOTTO, E. Dario Vellozo. Cronologia. Curitiba, 1969.
Doutora em História e Sociedade pela Unesp (Universidade Estadual Paulista – Júlio de Mesquita Filho). Professora Associada do departamento de Fundamentos da Educação e do Programa de Pós-Graduação em Educação, da Universidade Estadual de Maringá (UEM). E-mail: elaineppeuem@gmail.com