Cuidar da água para não escorrer pelo ralo

Dalvit Greiner

Quanto custa um copo de água? Na cidade quando abrimos uma torneira, sequer avaliamos o valor financeiro de um copo de água. Quiçá, o seu valor moral. Mas, água tem valor moral? Claro que não. Mas, o seu usuário sim. Então pense: você gastar muita ou pouca água faz diferença para o planeta? Não. Nenhuma. Mesmo se quiséssemos beber toda a água doce do planeta não daríamos conta. Na maioria das vezes a água se apresenta como problema de escassez em lugares muito secos cuja solução é uma intervenção técnica muito cara, mas possível. Na outra ponta o problema se apresenta como excesso de água suja, carregando doenças.

É certo que a água não poderia ser entregue de graça em nossas casas, mas o seu preço é muito alto para um custo de captação e distribuição muito baratos. Se contarmos os produtos químicos que vão na água que você bebe, mais a tubulação para chegar na sua casa. Dividindo isso tudo por milhões de pessoas significa um custo muito barato. Portanto, o preço que a água chega na torneira é muito cara. A matéria prima, que tem esse nome por ser o principal ingrediente em qualquer produto, é de graça, vem da natureza e passa a poucos metros de nossa casa. Assim, fica bastante dinheiro no caminho que ninguém sabe para onde vai. Dinheiro que poderia e deveria ser usado para colocar água em todas as casas no Brasil e quiçá, no mundo.

Minas Gerais é a caixa d’água do Brasil pela sua quantidade de nascentes. Por isso, é uma região de muita importância para a água doce no país. O governo usa um sistema de outorgas que dá permissão, muitas vezes de forma irracional, para uso da água. Uma outorga, “é o instrumento legal que assegura ao usuário o direito de utilizar os recursos hídricos, no entanto, essa autorização não dá ao usuário a propriedade de água, mas, sim, o direito de seu uso”. Porém, ao usar a água, o outorgante estraga tudo o vem pela frente. Lembre-se das mineradoras. E não tem valor em dinheiro que reponha o estrago feito. O valor é baixo se compararmos o uso que se faz da água… Por qualquer dez mil reais você aproveita a água numa usina hidrelétrica; por mil e duzentos você desvia um curso d’água e pelo mesmo preço você capta a água de um rio. Quanto mais pessoas usam, menor o valor individual a ser pago. Por isso, tais valores são muito baratos levando em consideração o altíssimo lucro que qualquer um pode obter com esse recurso. Recurso que é de graça!

O lema do Movimento de Atingidos por Barragens – MAB é claro: “Água e energia não são mercadorias”. E realmente não são. A água é um bem que a natureza nos oferta gratuitamente e, portanto, nada pode ser cobrado por ela. Nosso cuidado com  a água significa o cuidado com as pessoas. Nossa água tem escorrido pelo ralo não por descuido nosso. O mal uso que se tem feito não o é pelo povo, pelas pessoas que nem tanto acesso tem a água, mas pelos donos do capital, principalmente mineradoras e agronegócios. O MAB luta porque o povo pobre não tem direito a água para o seu verdadeiro destino: servir ao ser humano. Além, é claro, do destino de milhares de pessoas que são desalojadas para dar lugar às barragens.

O uso que o capital faz da água é o mais irracional possível. Na medida em que o capital tem acesso a máquinas e ferramentas que buscam água em qualquer lugar – fundos e longe – para irrigar o agronegócio e lavar minérios em mineradoras. Bilhões de litros de água para produzir alguns quilos de comida não é um argumento plausível para o agronegócio. A pequena agricultura produz muito mais. E o que é melhor: vai direto para a sua mesa e não para o exterior. Sem contar o estrago que qualquer mineradora faz para tirar alguns quilos de ferro ou outro mineral qualquer.

Fonte: Agência Nacional de Águas

Barragens, barreiras, pivôs de irrigação, poços profundos buscando água direto no lençol freático secando rios subterrâneos imensos. Agregue-se a isso o desmatamento que interfere nos rios voadores que regulam o ciclo de chuvas no Brasil. Por isso a luta pela água não é uma luta dos Movimentos Sem Terra ou dos Atingidos por Barragens. É também uma luta nossa. De todos os dias.

Mas, e da nossa parte. Aqui em casa, na escola. O que fazer? Imagine se cada escola – quando sairmos dessa pandemia e voltarmos a nos encontrar – adotasse o seu córrego. Isso mesmo. Repare que cada escola tem um córrego perto. Imagine se cada escola tomar conta de um. A gente consegue limpar rios…


Imagem de destaque: Kristopher Roller / Unsplash

 

 

 

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