Contribuições de Sinhazinha Wanderley para a Educação e a cultra Assuense
Gilson Lopes da Silva
Maria Carolina Wanderley Caldas, ou Sinhazinha Wanderley, nasceu na cidade de Assú (Rio Grande do Norte) em 30 de janeiro de 1876. Era filha do primeiro casamento de Dr. Luís Carlos Wanderley e D. Francisca Carolina Lins Caldas, que faleceu um ano e três meses após o nascimento da filha. Meses depois da morte da esposa, Dr. Luís Carlos casou-se com a cunhada Maria Carolina, porém, a récem nascida passou a ser criada pelo Coronel Francisco Justiniano Lins Caldas e D. Umbelina Wanderley Caldas, tios de seus pais.
O pai adotivo de Sinhazinha participava da vida política e social da cidade e era professor de Latim. Os estudos da menina ocorreram em sua casa, com os familiares, e em aulas de música, literatura, catecismo, francês, inglês e latim, numa época em que poucas mulheres tinham esse privilégio. Nesse período, era comum as pessoas da elite aprenderem línguas estrangeiras como ingles, francês e alemão, especialmente com religiosos que chegavam à cidade evangelizando.
Os primeiros habitantes locais foram os índios Janduís. Depois da chegada de colonizadores vindos de Pernambuco a primeira atividade econômica da região foi a pecuária, que deu lugar a extração da cera de carnaúba e a colheita do algodão. Com essas atividades a cidade passa por um processo de desenvolvimento nos serviços públicos e privados.
Registros apontam diversas manifestações culturais como o jornalismo, a poesia, a prosa, o teatro e a música que ganharam ênfase com a publicação de jornais que abriram o cenário da vida literária na cidade. Em 1867 começa a circular o Jornal O Assuense. A partir daí vieram outros impressos considerados de grande, médio e pequeno porte. Em 1884 surge a Sociedade Recreio Familiar originando o Teatro São José. A partir desse espaço vários grupos foram criados e as produções teatrais eram representadas e escritas pelos filhos da terra. A cidade também se destacou como a detentora de maior número de poetas no Estado, sendo considerada no início do século XX a Atenas Norte-Riograndense. Essas manifestações influenciaram Sinhazinha Wanderley, que participou ativamente da vida cultural da cidade do Assú através da composição de hinos, peças teatrais, poesias e textos para jornais colaborando com a revista PALADIO (1915), o jornal POLIANTEIA (1939) e a revista ATUALIDADES (1950).
No campo educacional, Sinhazinha manteve em sua casa o Externato São José, escola que atendia crianças da elite local e humildes, de ambos os sexos. A mestra enviava correspondencias para livrarias do Sudeste do país, solicitando livros e material de ensino. Com a implantação do Grupo Escolar Tenenete Coronel José Correia em 07 de setembro de 1911, a professora passou a fazer parte do corpo docente, permanecendo na insittuição até 1950.
Em suas práticas pedagógicas, Sinhazinha Wanderley realizava representações teatrais, passeios e atividades comemorativas. Os passeios organizados no Grupo Escolar eram voltados para o método intuitivo, onde as crianças aprendiam mantendo contato direto com a natureza, e colaboravam com sua formação moral e cívica. No percurso de alguns passeios, a professora cantava com os alunos o hino dos Voluntários do Norte, numa homenagem aos soldados assuenses que morreram na Guerra do Paraguai.
No encerramento do primeiro ano de atividades do Grupo Escolar os alunos apresentaram duas dramatizações de D. Sinhazinha que conquistaram francos aplausos pelo bom desempenho dado e pela inteligente elaboração das peças. Em outras ocasiões, também ocorreram outras encenações elaboradas pela mestra.
Na revista ATUALIDADES, a professora escrevia uma coluna semanal com versos, poesias e textos. Na edição do dia 10 de setembro de 1950, ainda dedicada as festividades do 07 de setembro, consta uma poesia intitulada Relembrando o Velho Grupo, onde ela expressava todo seu amor ao Grupo Escolar e relembrava dos festivais realizados pela instituição. A mesma edição também traz o texto Sete de setembro, saudando a comemoração cívica e destacando o dia da Pátria, da emancipação do povo. Recordava com emoção que a data marcava a inauguração do Grupo Escolar Tenente Coronel. José Correia, dia em que as crianças da cidade abriram as almas para o batismo da luz.
Sinhazinha Wanderley faleceu em Assú no dia 20 de setembro de 1954. Seu enterro aconteceu de forma simples e humilde, sem as pompas e honras como era costume em enterros de pessoas dos setores dominantes da sociedade ou de famílias influentes, como era o caso dela. Contudo, a cidade de Assú muito ficou a dever às contribuições da musicista, escritora e professora que educou diversas gerações e nomes que se distinguiram na ciência, na indústria, no comércio e vários outros ramos de atividade na cidade e no Estado.