_ Cum chaves…
_ Fulano! Atenção à forma escrita!
_ Não perciso escrevê, professor. Tamo tudo ligadu… de um tudo!
_ Nem tudo…
_ … tudo! Inda mais agora!
_ As ideias devem ser suas, Fulano. Suas ideias! Sua escrita! Palavras suas…
_ Minhas? Ah! Tá de zorra!
_ Ter palavras que representem o seu pensamento, as suas ideias é import…
_ Nem isso percisa, pró! Nem isso… os compadre pensa por nóis!
_ Como é? Seus padrinhos?
_ Que padrinho, meu! Os cumpadre…entendeu?
_ Não!
_ Voano, né profes!?
_ Não compreendi a quem você se refere.
_ Tá vendo? Adianta sabê a fórmula?
_ Forma…forma padrão da escrita…
_ Pois é, a fórmula não vale…é psor e num sabe!
_Vamos começar do início?
_ Bora!
_ Quem são os compadres?
_ Os mano, véi! Tá ligado?
_ Não… não entendi…
_ Intendê, ocê intendeu, né psor!? Não qué é si compremetê, né?
_ Já estou comprometido. Escolhi esta profissão.
_ Aí que tá o erro, mano! Cê não iscoieu nada… eles iscoieram ocê, sacô?
_ Hum…não é bem assim!
_ Mais pió do que ansim…
_ Não podemos simplificar as questões.
_ Qui questão?
_ As questões da vida, da profissão que se desenvolve.
_ Vai me dizê que se ocê tivesse nascido bom di bola não ia virá o…o…
_ Eu sou bom de bola, você sabe disso. É o meu esporte favorito. A minha profissão…
_ … foi o qui deu prá ocê fazê!
_ Não! Eu tive outras opções! Ser professor é uma escolha!
_ Voceis tudo diz a mesma coisa!
_ Por ser a verdade…
_ Não simprifica, psor.
_ Voltando… a palavra “compadres” significa “padrinhos” e…
_ Cumpadri, cunfradis…tudo dá no mesmo!
_ Você conhece o significado da palavra “confrades”?
_ Óbvio…nóis tem fé, ó profe!
_ Não… não…você está confundindo com uma…
_ As palavra é tudo ingual… servi prá fala i servi prá iscrevê!
_ Correto! Isso mesmo! E existe uma diferença entre…
_ … entre quem fala: elis e quem ôvi: nóis…
_ Não gosto de sua forma de simplificar as coisas, Fulano! Precisamos ter entendimento sobre as relações e discutir os fatos. Aprender a escrever é fundamental.
_ É não!
_ Argumente sobre isso, por favor. Me convença de sua ideia.
_ Tamo aí! BH é nóis!
_ …
_ Sim! E…
_ Tamo aí!
_ Qual o seu argumento para…
_ Ó profe! Quem argumenta não é nóis…nóis só faiz!
_ E faz o quê?
_ Que nem ocê… o que pintá!
_ Certo! Vamos por aí! Então… se você pudesse fazer outras escolhas, o que estaria fazendo agora?
_ Ah! Nem! Tá pareceno cufradi, agora? Essas quebrada de psicólugu? Ah! Nem!
_ Isso! É isso! Você percebeu? A língua falada provoca…provoca esse tipo de…
_ Provoca mermu! Nuuu! Ôtro dia, já qui ocê mudô de assunto, psor...
No final da noite, o professor procurava os espaços de sua alma na dobra do quarto direito da lua crescente. A face cansada escondia um bolsão de palavras sem chaves, prontas para driblarem a goleada em sala de aula. Anotara no fundo dos olhos: as palavras são traiçoeiras, conchavam contra quem as usa no contexto da alegoria. Operários da língua não dormem…
Imagem de destaque: Katie Phillips / Pixabay https://zp-pdl.com/best-payday-loans.php zp-pdl.com http://www.otc-certified-store.com/analgesics-medicine-europe.html