Ciência para Todes e a Pesquisa em Educação
A pesquisa em educação é muito importante para a consecução de políticas para a área.
O tema escolhido pela SBPC para celebrar o Dia Nacional das Ciências, dos Cientistas e das Cientistas de 2022, Ciência para Todos, celebrado na semana passada, indica um caminho muito importante. É fundamental para que o conjunto da população possa aquilatar a presença das ciências em seu cotidiano. Mas é mais do que isso: é para que a população possa se perceber a importância das instituições científicas e de suas pesquisas e, no limite, tomar decisões fundamentadas sobre o apoio que quer dar, ou não, a elas.
Muitas vezes a população tem uma crença muito grande nas ciências, mas isso não é necessariamente bom. Primeiro porque essa crença não pressupõe, muitas vezes, a compreensão do funcionamento das ciências e, em segundo lugar, porque nunca deveríamos nos esquecer de que o que nos trouxe até aqui foram também as ciências. Ainda que sem ciências a gente tenha muitos problemas, elas não são, necessariamente, a solução para tudo. Às vezes, sobretudo quando sem controle social ou quando apropriadas pelo capital visando exclusivamente o lucro, elas são parte do problema. Não deveríamos esquecer, por exemplo, de que as mentiras (Fake News) disseminadas em escala mundial só funcionam assim porque dão muito lucro e utilizam o melhor das ciências e das tecnologias para serem operacionalizadas.
Mas, na própria comunidade científica há preconceitos baseados em “crenças” dos próprios cientistas sobre o que seja ciências ou do que seja relevante pesquisar. Há, por exemplo, um preconceito arraigado na comunidade acadêmica nacional em relação à educação básica pública. Boa parte dos departamentos de nossas universidades, que é onde se produz o conhecimento científico no país, não reconhece a importância de se dedicarem, por exemplo, à formação de professoras/es para a escola básica. Do mesmo modo, raramente desenvolvem pesquisas sobre a escola pública e incentivam seus alunos da pós-graduação a fazê-lo. Por processos complexos, este preconceito contra a escola pública se transfere, e se atualiza, constantemente na relação desses nossos colegas com os Programas de Pós-graduação em Educação e, mesmo, a seus próprios colegas de departamento que se dedicam à pesquisa nas áreas.
No entanto, se olharmos retrospectivamente, todas as políticas públicas em educação, absolutamente todas, que deram certo nas últimas décadas tiveram como suporte o tripé: ação dos movimentos e ativistas sociais, ação política parlamentar ou executiva e as pesquisas realizadas na área de educação.
Ainda que as nossas pesquisas não ganhem relevo na imprensa, que prefere fazer coro com as iniciativas das fundações privadas, elas são fundamentais para a consecução de políticas públicas sérias, inclusivas, democráticas e eficientes. Em se tratando de um serviço complexo como a educação pública básica, não se pode abrir mão dos conhecimentos produzidos pelas pesquisas na área para efetiva políticas. Infelizmente, grosso modo, é isso que a gente observa ainda hoje.
A pesquisa em educação é muito importante para a consecução de políticas para a área. E, há, hoje, um esforço, ainda que insuficiente, para divulga-la. Agora mesmo, a única iniciativa pública, nacional e em rede, com efetiva participação das colegas professoras da educação básica, para discutir o Bicentenário da Independência com a escola básica – o Portal do Bicentenário – é sustentada pelas sociedades científica da educação e pelos sindicatos de professoras e professores, ainda que conte com participação de instituições de outras áreas.
Também digna de nota, e inédita no país, foi a criação da Rede Comunica Educação. Esta rede articula dezenas de instituições científicas da área da educação num esforço de divulgação das pesquisas que ocorrem em nossas áreas. Ainda embrionária, mas com atuação marcante, essa Rede tem tudo para se constituir numa das mais importantes iniciativas mundiais de divulgação científica no campo das ciências humanas e sociais.
Um dos grandes desafios que temos, hoje, é a criação de revistas e jornais que dialoguem diretamente com a educação básica. As/Os profissionais da educação básica somam vários milhões de pessoas, milhares das quais são nossas alunas e alunos da pós graduação. Neste sentido, mais do que criar novas revistas acadêmicas em educação deveríamos dirigir nosso esforço em aumentar o diminuto número de revistas públicas e de acesso aberto que reconhece e fortalece a autoria das professoras da escola básica.
Por Luciano Mendes
Texto publicado originalmente em: http://inteligcolmg.com.br/ciencias-para-todes-e-a-pesquisa-em-educacao/