Editorial da edição 274 do Jornal Pensar a Educação em Pauta
No próximo dia 07 de maio ocorrerá, em todo o país, a Marcha Virtual Pela Ciência. O evento tem o objetivo de defender a ciência, a educação, a saúde e a democracia no país. Além disso, defende-se a derrubada da PEC 95/2016, aprovada durante o Governo Michel Temer, que congelou por 20 anos os investimentos nas áreas sociais brasileiras, dentre elas, a da Ciência e da Tecnologia.
A Marcha é um importante e pertinente encontro entre a ciência e a política, entre a comunidade acadêmico-científica e a população brasileira. A despeito do que pensam alguns cientistas, as atividades científicas sempre tiveram um forte componente político, estando sempre aliadas às estruturas e às práticas de poder garantidoras da vida ou, como temos visto sob o Governo Bolsonaro, afinadas às políticas de violência e de morte.
Em um passado recente, vimos que muitos cientistas se recusaram a sair às ruas contra o Golpe que retirou do poder, de forma ilegítima e ilegal, uma Presidenta legitimamente eleita, sob o argumento que se tratava de um assunto da esfera da política e não da ciência. No entanto, muito rapidamente, quando o novo Presidente da República, aliado às forças mais reacionárias do país, extinguiu o Ministério da Ciência e Tecnologia e Inovação, estes mesmos cientistas se deram conta de que a ciência, mais do que nunca, era um problema e um assunto da política.
O Governo Bolsonaro e os arautos do obscurantismo já vinham dando inúmeras demonstrações de desprezo pelas ciências, todas elas. Nada mais eloquente a esse respeito do que um Ministério da Educação e uma CAPES ocupados por defensores do criacionismo e inimigos viscerais das ciências humanas e sociais! No entanto, nada disso se compara ao espetáculo dantesco de um Presidente da República e de seus aliados fazendo pouco caso das recomendações científicas da Organização Mundial da Saúde e de seu próprio Ministro da Saúde quanto ao combate à epidemia causada pelo novo coronavirus.
Contra as ações obscurantistas de políticos, empresários, religiosos e outros agentes sociais, é imperativo a defesa enfática da ciência como estratégia fundamental de proteção à vida e de desenvolvimento econômico e social. No entanto, não basta isso. É indispensável a defesa de um Pacto Pela Vida, ou seja, a defesa do investimento nas políticas sociais que garantam vida digna para o conjunto da população brasileira. Por isso mesmo, é preciso fazer cessar a ação das legislações impeditivas desse investimento, dentre as quais a já referida Emenda Constitucional 95.
Ciência e Política estão umbilicalmente articuladas e delas dependem, em grande parte, nos dias de hoje, a manutenção da democracia. O desenvolvimento científico e tecnológico coloca desafios nunca antes vistos para a realização da política e do jogo democrático. Do mesmo modo, somente com a manutenção da democracia, somente com a permanência da política como dimensão organizadora da vida humana em sociedade, é que garantiremos os mecanismos participativos de controle sobre o exercício da própria ciência e, também, o usufruto público dos bens produzidos pelas atividades científicas desenvolvidas com os recursos dos impostos pagos pela população.