“Celular” é uma explosão de carinho…

Josiane Cristina1

Concordo plenamente com a autora, Celular é um livro “brilhante. Vibrante. Repleto de cores…”. 

Trata-se de uma obra belíssima, mais um livro de autoria feminina negra.

A autora da vez,

É Xandra Lia!

Jovem, porém talentosa.

Nesta obra, a autora contou com a parceria e talento da ilustradora Priscila Paula. As imagens dialogam muito bem com a beleza e leveza da narrativa. Este é o segundo livro da autora ilustrado por ela.

“As rosas que o vento leva” foi o primeiro.

Nessa perspectiva, a capa do livro dispensa comentários, não podia ser diferente. Nela, podemos observar a imagem de uma menina negra com “black power” incrível, que literalmente significa “Poder Negro”. A bela jovem parece estar ajustando a ‘direção’ da lente do seu celular…

Dessa vez, o foco da autora, situa-se nas formas de sociabilidades, as quais se acentuaram no contexto pandêmico que vivemos. Com atenção especial nas relações e dinâmicas tecidas, a partir do uso do ‘aparelho celular’. Neste livro, a escritora buscou maior proximidade com a linguagem e expressões usuais nas culturas infantis, nos espaços virtuais. 

Numa atitude intimista, a escritora confessa que gosta de conversar com seus amigos nas redes sociais, onde posta suas pinturas em aquarela. Ademais, a escritora buscou interagir com o público leitor. A autora elaborou algumas questões pertinentes, as quais poderão ser respondidas posteriormente.

Xandra Lia discorre acerca de questões da contemporaneidade. Entrelaçando componentes lúdicos, imagens, informação e imaginação. Cabe ressaltar algo bem interessante , a autora buscou estabelecer com o público, um diálogo bem amistoso, além de lançar sementes…

Vale a pena lembrar que historicamente o protagonismo, tornou-se um privilégio para alguns. No entanto, para Xandra Lia, o protagonismo das crianças e das juventudes negras tornou-se um direito.

Gradativamente o celular vem ocupando um espaço importante no cotidiano de nossas crianças. De fato, a pandemia estreitou ainda mais essa relação.

O livro “Celular” se revela um exímio contador de histórias…

Justamente por sua capacidade de nos conectar com experiências e imagens, as quais foram historicamente silenciadas e invisibilizadas, em diferentes espacialidades e temporalidades.

Gentilmente, “Celular” nos convida a olhar com mais atenção e sensibilidade para histórias que sobretudo se realizam por meio das imagens…

Com muita leveza e naturalidade, Xandra Lia nos estimula a pensar que, embora o aparelho celular seja demonizado por uns e adorado por outros, constitui-se como um artefato importante nas culturas infantis, incluindo as crianças oriundas de favelas e periferias, as quais vêm enfrentando um histórico processo de negação de direitos, dificuldades de acesso e de possibilidades. 

Além disso, pesquisas recentes revelam que a pandemia ressaltou ainda mais as desigualdades no Brasil e nas demais sociedades contemporâneas. Contudo, a população negra é uma das partes mais afetadas nos momentos de crise.

“A leitura do mundo precede a leitura da palavra”, afirmou Paulo Freire na obra intitulada “A Importância do Ato de Ler” (1988). A partir dessa ideia, podemos inferir que a leitura das imagens precede a leitura da palavra. Embora em muitos espaços algumas histórias ainda são preteridas. A partir dessa narrativa, fica fácil perceber que as imagens produzem sentidos e significados, além de auxiliarem nos processos de letramento. 

Outro ponto forte do livro, situa-se no fato de que as imagens presentes nesta obra, podem auxiliar nos processos de construção da representação mental e da realidade do/a pequeno/a leitor/a.

Particularmente, acredito que toda a criança que tiver o prazer de ler este livro, considerando a força e a riqueza da obra, terão maior possibilidade de perceber a diversidade fortemente presente em nossa sociedade.

Por outro lado, até o público infantil será capaz de entender, em certa medida, que dispõem de autonomia e responsabilidades sobre cada foto, cada sorriso e cada experiência compartilhada em suas redes de relacionamento.

Sobretudo, este trabalho incrível pode ser um importante aliado para todas as pessoas, principalmente as/os educadoras/es interessadas em promover uma educação voltada para o reconhecimento e valorização da diversidade étnica e respeito mútuos, para além dos espaços virtuais.

Contudo, as crianças e juventudes negras desta geração, têm melhores condições de construir/ acessar um vasto repertório de imagens, sempre que quiserem, sentirem saudades de alguém ou simplesmente desejarem conhecer um pouco mais sobre seus ancestrais.

Todavia, celular é um livro que educa com simplicidade. Devido o seu potencial, pode contribuir positivamente para que as crianças e as juventudes, independente da etnia, gênero, grupo social, com deficiência ou não, construam uma relação mais saudável com os outros seres humanos e com as tecnologias deste século.

A partir dessa narrativa, o público leitor entenderá que todas as pessoas, sem exceção, têm o direito de serem retratadas ou lembradas por suas alegrias, conquistas, dignidade, beleza e valor. até mesmo as crianças perceberão o quão importante é que elas tenham maior controle sobre as histórias que desejam eternizar… 

Portanto, o presente livro nos revela que tanto o aparelho celular como a literatura,podem ser apreendidos como possibilidades, nos processos de construção das identidades e subjetividades dos sujeitos. Por meio da literatura, pode-se contar histórias verdadeiras ou ficcionais com respeito, leveza e muita beleza.

A autora reitera que a infância é uma fase importante para se projetar a esperança de um mundo melhor. Enquanto não houver uma mudança significativa nas mentalidades, através de uma escrita sincera e sensível, Xandra Lia segue enfatizando a importância de formar mais que bons leitores e escritores.

Finalmente, respondendo a pergunta da autora. “Meu celular é uma caixa mágica de sonhos…”.

1 – Leitora do jornal Pensar a Educação em Pauta. 


Imagem de destaque: Capa do livro / Divulgação 

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