Ivane Laurete Perotti
_ Tem goteira, sim!
_ Nananinanãooo… tem não!
_ Ô, moço, o senhor não está vendo?
_ Ver, eu vejo: não tem gotera!
_ E essa poça, aqui… é o quê?
_ Ói! … aqui na iscola tem gato?
Tem. Tem gato na escola. Tem gato no alçapão de lata que faz a chuva passar para o outro lado. Do outro lado, palavras vazias estacionam-se em manobras arrojadas: …não nasceram palavras, fazem-se significado. E o telhado da escola, esburacado, deixa ver a pasmaceira do céu:
_ Tem gato aí?
_ Tem… tem gato, telhado e…
_ … chove!
_ Não! Não chove!
_ Uai! Não chovi mais?
_ Chuva? Não… isso é outra coisa!
_ … i o gato?
O gato fez cama no telhado de zinco velho, esborrachado.
_ O gato?
_ O telhado!
_ Num intendi…
_ Precisa dizer?
_ Do gato?
_ Do telhado!
Da cama fria, a escola inala o inóspito ar que sombreia a chuva ácida. Ventos de pompa roubam o sulco das palavras que não nasceram para marinar em covas rasas. As palavras nasceram para beijar o rio, fazer onda, espraiar bondade.
_ Inté, vai, né, dona! Mas é mió isclarecê as coisa…
_ Es-cla-re-cer… hummm!hummmm!
_ Bão, né?
_ É! O senhor tem razão.
_ … i é?
_ …
_ Ô, dona perfessora, a gente tá falano do gato?
_ Também! Também!
Na roda de conversa sem freio, um pulo, o pulo, o gato: os miados tergiversam por contratos ilegíveis e, uma vez que a fidelidade é o jargão da hora, vai que nessa os sinais indiquem um bota-fora!
_ Fidel…li…ôh! fessora… tem muíe envorvida nisso tamém!
_ Mulher? Ah! Claro! Os bota-foras são muito bons para…
_ Ai! Meu São Miguer, munto difícer intende a sinhora!
_ Nananinanãooo… o senhor bem que entendeu, sim! Essa… essa…
_ … chuva?
_ Chuva? Não era xixi de gato?
Imagem de destaque: Alex Holyoake/ Unsplash http://www.otc-certified-store.com/osteoporosis-medicine-europe.html https://www.zp-pdl.com zp-pdl.com