Entrevistadores: Jônatas Gregório Caetano e Letícia Assis Mosqueira
Entrevistado: Tiago Tristão Artero
“O ensino sempre deverá culminar em ciência. O aprendizado sempre deverá culminar em prática social”.
Quais são os ingredientes para uma receita para o mal? O que torna um indivíduo de plena sanidade mental em um assassino perverso?
Receita para o mal…, derivaríamos algumas possibilidades entendendo a origem da personalidade e as influências que o meio exerce relativamente aos ingredientes da receita.
Creio em um misto de inatismo e ambientalismo, ou seja, algumas questões viriam de forma genética/orgânica e outras seriam orientadas pelas condições do meio, sejam valores sociais, conjunto de crenças da família e condições às quais o indivíduo foi exposto (enquadrando-se nestas condições, experiências positivas e negativas).
Dessa forma, a perversidade estaria ligada às psicoses, como bem podemos notar em séries de TV que analisam aspectos mentais dos assassinos.
O “start” que aciona ações como um assassinato poderá ser por motivos diversos.
– Grau de sensibilidade em relação à ação. Este item é fundamental, pois uma criança, adolescente ou adulto cotidianamente exposto a situações de violência perderá uma parte de sua sensibilidade em perceber aquela ação como sendo moralmente invasiva. O mesmo ocorre com um açougueiro, quando comparado a alguém que é vegetariano e não concebe a prática da morte ou da manutenção das vísceras como algo natural.
– Possibilidades de resposta às manifestações das informações do inconsciente. Ou seja, como um breve exemplo, notamos que abusadores sexuais que sofreram esta experiência na infância, mesmo sabendo da dor e sofrimento, repetem esta ação quando na fase adulta, em uma tentativa frustrada de reviver aqueles momentos para, quem sabe, poder superá-los. Frustação, raiva, sentimento de vingança à uma situação anterior, sentimento de impotência. Percebemos este componente em serial killers, incluindo assassinatos em massa, notadamente aqueles vistos em colégios (por situações vividas anteriormente). É importante dizer que mesmo entre os psicopatas as situações que desencadeiam respostas negativas não necessariamente terminarão em sentimento de crueldade ou de ação homicida.
-Psicopatias manifestadas com violência ou assassinato. Esta possibilidade sugere manifestações variadas de psicoses, entendendo o psicopata como alguém pouco sensível aos sentimentos alheios. Assim, suas ações não necessariamente ocorrerão em forma de violência física, mas nos casos dos psicopatas assassinos, sim.
-Para finalizar, agindo friamente ou pela emoção de um impulso (como vingança, legítima defesa ou algum motivo passional) várias são as visões que podemos ter de um assassino, mais especificamente, do perverso (não comumente encontrado).
O que distingue uma pessoa desorientada moralmente de um psicopata?
A humanidade sempre busca um porto seguro para se orientar, seja a religião, convenções sociais, leis, entre outras formas de organização.
Quando ocorre alguma decepção quanto ao sistema que rege suas crenças e que antes era depositário de sua confiança, a humanidade se perde, fica confusa, mas daí surgem trilhas diversas conduzidas pela criatividade e ampliação de cenários. Logo, é difícil falarmos de moral, pois esta está arraigada a visões diferentes de mundo e de humanidade (cosmovisão).
Mas, guiando-se pelo senso comum, aquela desorientada moralmente não teve o amparo familiar que conduzisse sua “moral” dentro de padrões socialmente aceitáveis e propícios para o bem comum, para o bem social.
O psicopata poderá aceitar muito bem as regras, cumpri-las, por vezes, exemplarmente. Porém, seu motivo não está condicionado a crença de que suas “boas ações” contribuem para a melhora da humanidade e para seu crescimento. Moralmente falando, ele encontra-se adaptado às regras e manifestará sua psicopatia (seja qual for) no momento oportuno e para conquistar determinada vantagem, independentemente se está prejudicando alguém ou não.
No caso do assassino perverso, saciará sua vontade no momento oportuno, não se importando com o sofrimento alheio – independentemente de qual sejam as características específicas de sua motivação.
Quais os sinais e as características que os indivíduos propensos a violências hediondas apresentam na infância?
Não sou um estudioso do assunto, porém demonstram uma inabilidade sentimental que os distingue dos demais, embora possam disfarçar muito bem este aspecto de sua personalidade. Já em tenra idade, a empatia não será um sentimento totalmente sincero para estes.
Há como reverter as atitudes de alguém que já teve uma grande experiência com essa realidade? Se ainda criança seria mais fácil?
Há como condicionar estes indivíduos a agirem dentro de padrões esperados (como as terapias comportamentais sugerem). Seria preciso controlar o ambiente de forma que sua patologia não se manifeste, no entanto, em condições propícias possivelmente poderão exteriorizar elementos negativos.
Sendo criança, haveria como “proteger” o indivíduo de episódios onde sua psicopatia poderia tomar forma. Dessa maneira, não haveria experiências anteriores nas quais a criança, já como adulto ou jovem, poderia se basear para nortear-se nas próximas.Se ocorreu algo marcante, esta ação torna-se ainda mais difícil.
Nota: a educação tem função primordial nesta questão.
Pouco se fala desta temática fora do âmbito jurídico, principalmente nos ambientes educacionais.
É válido levantar o assunto para que repensemos a função da educação.
Considerar as funções da educação que se pratica atualmente, abarcando seus aspectos sociais a partir de uma reflexão crítica poderá contribuir para uma humanidade que preserve as crianças e jovens da manifestação de psicopatias e de outras formas de patologia.
Logo, valorizar os aspectos filosóficos e históricos no ambiente escolar, refletindo e fazendo-se ciência de forma séria, competente e viável para o contexto escolar é assunto urgente. Superar a visão de que ciência é algo de Einstein, entendendo que está presente nas diversas disciplinas escolares(e na vida real) e que o pesquisador, de fato, está dentro de cada aluno, contribuirá para que deixemos o objetivo de fazer um ensino “bonitinho” e possamos fazer algo efetivo para nossa sociedade.
Relativamente às psicoses, propiciar um ambiente estimulador, positivo e que inclua encaminhamentos devidos (observando os comportamentos dos alunos e suas relações sociais) também pode ser uma das ações previstas no contexto escolar.
O ensino sempre deverá culminar em ciência. O aprendizado sempre deverá culminar em prática social.
* uma pesquisa de alunos do 1º ano do ensino médio de Campo Grande-MS