As memórias do professor Honorio Guimarães – Carlos Henrique de Carvalho

As memórias do professor Honorio Guimarães

Carlos Henrique de Carvalho

Os artigos e editoriais do professor Honorio Guimarães demonstravam que o seu pensamento fundamentava-se na ideia da quase imutabilidade das leis sociais. A realidade social não sofreria mudanças substanciais, apenas evoluiria naturalmente. Se tudo estivesse harmoniosamente organizado, caberia ao indivíduo, tão somente, adequar-se ao meio social. Essa concepção de sociedade permite excluir da discussão desenvolvida por Honorio, praticamente todos os aspectos conflitantes do contexto da época.

Honorio Guimarães nasceu na cidade de Franca-SP, em 20 de setembro de 1888. Sua família logo se transferiu para Uberaba, onde Guimarães faz o primário e o Curso Normal. O ingresso na vida pública ocorre a partir da sua inserção no meio jornalístico, quando passa a colaborar com alguns jornais da região do sul do Triângulo Mineiro de do norte paulista (Uberaba, Franca, Batatais, entre outras). Em Uberaba também publicou um pequenos semanários (Brado e O Lírio). Atuou ainda como escriturário, gerente de hotel e solicitador. Em 1907 na cidade de Uberabinha, hoje Uberlândia, “tornou-se professor efetivo da primeira cadeira estadual do sexo masculino”. Logo em seguida organiza “a primeira escola primária” do município já atendendo aos requisitos determinados pela Reforma João Pinheiro de 1906. Gerou muitas polêmicas ao estabelecer o “ensino militar obrigatório”, bem como o uso de uniformes escolares (semelhante ao dos militares) e promover desfiles pelas principais ruas da cidade em datas comemorativas do calendário republicano. Também criou uma banda de música infantil, além de organizar o periódico A Escola. Entre 1907 a 1914 foi o principal articulista do Jornal O Progresso, um dos mais ferrenhos defensores da causa republicana na cidade. Em 1910 foi um dos mentores do primeiro Congresso dos Professores Públicos Primários do Estado de Minas Gerais. Assume direção do Grupo Escolar de Araguari em 1912. Neste mesmo ano casa-se com D. Margarida de Oliveira, então professora desta instituição. Em 1914 foi nomeado diretor do Grupo Escolar Júlio Bueno Brandão, em Uberabinha, permanecendo nessa função até 1920. Sua atuação no campo educacional não se restringiu à docência e a direção, pois atou como inspetor regional de ensino junto aos municípios de Estrela do Sul, Monte Carmelo, Patrocínio, Patos de Minas e Carmo do Paranaíba. Em 1922 foi transferido para o Grupo Escolar de Cabo Verde, deixando este cargo e logo em seguida se transferiu para Belo Horizonte, onde fundou o Instituto Comercial de Minas Gerais. Participou d a Revolução de 1930, tendo sido 1º tenente do Batalhão João Pessoa. Terminou sua carreira como diretor do Grupo Escolar de Divinópolis.

Portanto, a educação foi considerada por ele um fator de promoção social. Sua função era o enquadramento dos indivíduos à vida social, considerando-os como seres individualizados, desvinculados dos grupos sociais a que pertenciam. Assim, o fracasso ou o sucesso de cada um dependia dele mesmo, de suas tendências inatas. Todos tinham acesso às mesmas condições educacionais, e só não obtinham sucesso quem não respeitasse as suas inclinações naturais.

Sua fala vinha ao encontro do interesse de se organizar a cidade de Uberabinha dentro da proposta positivista de civilidade. Já que a sociedade evoluiria naturalmente, a cidade deveria acompanhar essa evolução, conformando-se às novas condições sociais, fruto do crescente processo de urbanização que ocorria no país. E para institucionalizar esse ajustamento, foi utilizado como instrumento, a educação.

A imprensa contribuiu para a propagação daquela ideia educacional, que vinha de encontro aos anseios dos setores republicanos locais. Nos jornais de Uberabinha, do período analisado, havia um forte apelo para a criação de escolas, porque seria através da instrução, que a cidade atingiria o mais alto patamar de progresso e civilidade. As prefeituras da região recebiam grandes e entusiásticos elogios, quando promoviam a criação de um grupo escolar, fosse na zona urbana ou na zona rural. Além das reivindicações relativas à criação de escolas, também havia a defesa de uma determinada visão educativa. Esta educação deveria propiciar o ajustamento social do indivíduo. Para tanto, retirava-se a ação do sujeito, ao considerá-lo como sendo um conjunto de tendências e aptidões inatas, que deveriam ser orientadas para o convívio social harmonioso.

Para que as concepções educativas se cristalizassem no contexto social, era preciso, sua propagação. Nesse sentido, os meios de comunicação se constituíam em importantes difusores dessas ideias, por serem eles o principal meio de divulgação desse pensamento. Era preciso, então, formar uma opinião pública favorável a essa concepção social. Os artigos do professor Honorio Guimarães contribuíram para que houvesse essa propagação, ao apresentar, esse paradigma educacional considerado por ele o mais adequado à sociedade. Seu pensamento ia de encontro ao dos setores dominantes, que visavam adequar, através da educação, a população local à nova realidade brasileira. Foi através desse modelo, que a Uberabinha do período republicano participou, com seu desenvolvimento material e intelectual, do caminho que estava reservado ao Brasil: o da ordem e do progresso.

Cf. CARVALHO, Carlos Henrique. República e imprensa: as influências do positivismo na concepção de educação do professor Honório Guimarães. Uberlândia, Edufu, 2007.

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