As crianças e a cultura popular na escola

Amanda Fonseca Soares Freitas
Bruno Silva Nigri
Túlio Campos
Coletivo Geral Infâncias

Observar o boi, ouvir sua história, desenhá-lo, construí-lo com pano e papelão, inventar, transformar, dançar e brincar de boi!

As crianças experimentam a cultura popular de diversas formas e em diferentes espaços: dentro e fora da escola, dentro e fora de casa, de forma presencial e virtual. A cultura é dinâmica e ativa; isto porque ela pode se transformar a partir da ação humana e coletiva, através das interações, das experiências vividas, significadas e ressignificadas.

“A relação do brincar da criança e das manifestações populares é direta”. Assim a autora Soraia Saura termina seu capítulo intitulado “Culturas populares, brincar e conhecer-se” do livro Territórios do Brincar- diálogos com a escola (2015). Esta obra nos permite conhecer a cultura popular brasileira através das brincadeiras e propõe que as expressões populares adentrem os muros das escolas. Além disso, nos aponta uma característica muito importante: a tradição. Segundo Soraia Saura, “se todos os anos realizarmos, com profundidade, jogos, festas e rituais, os transformaremos em uma tradição. A tradição integra o tempo: todo ano, de novo e de novo. Assim é que as festas e os jogos tornam-se orgânicos (importantes, como manter-se vivo) e carregados de sentido (dando significado à nossa existência)”.

Faz parte da cultura escolar, por exemplo, a presença das festas juninas nesta época do ano, configurando-se como uma tradição. É num movimento coletivo que essas festas se produzem, onde os membros da comunidade escolar vão assumindo diferentes papeis. Uns enfeitam, outros dançam, uns ensaiam, outros se ocupam das comidas, uns organizam e outros se satisfazem no evento. Embora seja bonito e gratificante ver crianças dançando no dia da festa, as manifestações populares estão no mundo para serem vividas e compartilhadas em todas as suas dimensões. O que isso significa? Como a escola pode se apropriar de lógicas que são reveladas por práticas da cultura popular?

Em diversas regiões do país, por exemplo, a lenda do Boi é contada e recontada de várias formas, sendo falada, escrita, lida, desenhada, interpretada através de incontáveis movimentos, brincadeiras, cantos, toques de diferentes instrumentos musicais; influenciando assim, modos de ser, de vestir, de comer, de brincar, de dançar, de festejar. E quando ela é levada para a escola, ela pode também ser experimentada de diversas formas, sendo também transformada, ressignificada naquele determinado tempo e espaço.

Então, considerando o momento atual em que vivemos o distanciamento social, como continuar a Festa, manter a tradição e tornar possível que as crianças experimentem essas diferentes dimensões da cultura popular?

Se num mundo pré-pandêmico os terreiros, a rua e o chão da escola são os palcos dessas festas, nos tempos de coexistência entre o coronavírus e a humanidade, estes palcos precisaram ser fechados. Mas isso não significou que nossas festas também foram suspensas, afinal, os palcos virtuais entraram na roda. Escolas, dentro das suas possibilidades, se mobilizaram para garantir que o ciclo dessas tradições não fosse interrompido. As plataformas virtuais, que hoje são os pátios e salas de aula deste rearranjo emergencial das escolas, também podem ser ressignificadas como novos e possíveis espaços para a realização das festas.

Falta o burburinho, faltam os cheiros, as comidas, os abraços, as rodas, o encontro presencial. Por mais desafiador que seja, este espaço virtual, pelo menos, cumpre com uma importante função – o encontro nas redes sociais. Encontro que mantém o ciclo, traz memória, afeto, e reacende, mesmo que em uma pequena chama, o colorido das fitas, o brilho da estrela, o gingado do boi, as cirandas, os corpos dançantes e brincantes, o encanto da tradição.

Sobre os autores
Amanda Fonseca Soares Freitas – Professora de Educação Física do Centro Pedagógico da UFMG e Doutora em Educação. E-mail: amandacpef@hotmail.com.

Bruno Silva Nigri – Professor de Educação Física do Centro Pedagógico da UFMG e Mestre em Estudos do Lazer. E-mail: bsnigri@gmail.com.

Túlio Campos – Professor de Educação Física do Centro Pedagógico da UFMG, Doutor em Educação e membro do Coletivo Geral Infâncias. E-mail: tulio.camposcp@gmail.com.


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