Aqui, ali e em todo lugar: a luta é contínua – Dalvit Greiner

Aqui, ali e em todo lugar: a luta é contínua

Dalvit Greiner

A luta é contínua e continua aqui, ali e em todo e qualquer lugar. Nas cidades e escolas dos interiores de um país imenso como o Brasil, de um estado tão grande como Minas Gerais, onde a informação, na maior parte das vezes, chega por um canal apenas, torna-se preocupante o resultado de discursos impostos por instituições seculares. Claro, estou falando da Igreja, sem nenhum pudor.

Quando anunciei à minha mãe que ia, neste final de semana passado, à Diamantina, para um casamento, a recomendação que me deu era para ouvir D. Darci (José Nicioli), Arcebispo da cidade. Desculpei-me com minha mãe, católica inteligente que ouve todo mundo pacientemente, dizendo a ela que não estava disposto a ouvir um bispo conservador, como todos os Redentoristas que conheço. Nem sabia que ele tinha mandado os fiéis pisarem na cabeça da jararaca (quando o Lula assim se autodenominou). Fiquei sabendo agora, ao escrever este texto. A verdade é que não ouvi D. Darci diretamente, mas curioso e com as cornetas auditivas e os olhos totalmente abertos fui eu para Diamantina.

Sábado era o dia do casamento e lá fomos nós para a cerimônia. O casamento era numa Igreja protestante que sequer me lembro a denominação. São tantas. Cornetas auditivas prontas para ouvir e preconceituosamente já imaginando o desenrolar do discurso do pastor. Mas, a esperança também nos provoca surpresas, na medida em que os dons do Espírito Santo podem ser derramados sobre qualquer um (aprendi isso no catecismo).

Cerimônia e noiva muito bonitas. Ritual simples, música encantadora e chegou a vez do pastor falar. Falou de maneira assertiva, segura, sem titubeios e muita certeza do que dizia. Tem o dom da oratória. Pareceu-me improvisado, mas acertado. O que aumenta a minha convicção das suas convicções que proferia naquele momento.

Na primeira vez que falou a palavra “mulher”, citou a Bíblia, claro, dizendo que “Deus os fez macho e fêmea. Por isso deixará o homem a seu pai e a sua mãe, e unir-se-á a sua mulher (Marcos 10:6, 7). Sim, é indispensável dizer isso numa cerimônia de casamento cristão, seja qual for a Igreja. Porém, nesses tempos em que andamos a ouvir, mesmo sem querer, discursos homofóbicos, preparei-me, mas não veio. Veio sim, um reforço machista e insistente na submissão da mulher ao homem.

Isso ativou a minha lembrança do Prof. Mário Sérgio Cortella explicando o mandamento da lei de Deus: “Não cobiçarás a mulher do teu próximo; e não desejarás a casa do teu próximo, nem o seu campo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma do teu próximo” (Deuteronômio, 5: 21). Nem coisa alguma, entendeu? E assim, nessa lógica de uma mulher-coisa, objeto e propriedade do homem aquele pastor condenou aquela mulher a desaparecer. Olhar em volta significou ver o quão agradável era aquele discurso. Traçou uma mulher sem desejos nem iniciativas, incapaz de protagonizar qualquer ação. Lembrei-me das “belas, recatadas e do lar”. Talvez encontremos entre católicas e evangélicas mulheres desejosas de mais respeito pela sua individualidade, mas já contentes e felizes em não estar no Congresso Nacional, como anunciou o Deputado Flavinho (PSB/SP) afirmando que “As mulheres que estão lá fora, que não são feministas, como muitas aqui, a mulher de verdade que está lá fora ralando para sobreviver não quer empoderamento. Ela quer ser amada. Ela quer ser cuidada”. Como a conservação não tem partido, o Deputado é católico. Tomara que, algum dia, o rebanho não ouça mais o seu pastor.

Meu encontro com D. Darci foi no dia seguinte, no domingo. Andávamos pelo Beco da Tecla e entramos em uma das várias lojinhas que ali se encontram. D. Darci não estava lá, mas o jornal “A Voz de Diamantina” sim. Folheei o jornal com tranquilidade. Curiosidade de quem foi à cidade pela segunda vez. Gosto de ver e ler coisas que me mostrem a cultura local. Claro que o fato do jornal estar sobre uma mesa ao lado de Nossa Senhora Aparecida é muito significativo. Sabia o que vinha dentro, mas sempre tenho esperança de encontrar coisas novas, discursos novos, novas discussões. Ora, é possível sim. Gosto de carregar essa inocência dos curiosos.

Então em artigo assinado, lá pela página 8/9 do jornal, o articulista vem explicando como Lula instituiu essa escola ideológica que vem assolando a educação no país. Começa assim: Marx, Engels, Bakunin e Lênin instituíram o comunismo. Esse comunismo vicejou forte na Escola de Frankfurt que ganhou o mundo, via universidades. (O Nazismo não consegue contê-los, mas o articulista não fala nisso). Velhos professores, que militavam na esquerda em 1964, foram autorizados a retornar para as escolas; esses velhos professores doutrinam novos professores que hoje doutrinam nossos estudantes. Até aqui parece plausível e interessante o raciocínio, apesar de fraco e indefensável, no meu ponto de vista.

Então, para concluir essa trama, quando Lula chega à presidência, inaugura 16 universidades federais para disseminar tal ideologia, de forma a perpetuá-la no Brasil. Com essa atitude, a sociedade reage e pretende instituir a Escola Sem Partido, sem ideologia, sem nada, claro. Este é o real motivo dos Projetos Escola Sem Partido. Combater a ideologia marxista que tomou conta da educação no pais e vem se institucionalizando a partir dessas 16 universidades criadas nos governos de Lula e Dilma. Aumentar as oportunidades era apenas uma desculpa.

Tarefa muito difícil de nossos amigos e colegas que militam em instituições de ensino no interior. Lutar contra essa visão religiosa do mundo é tarefa quixotesca. Nessa overdose em Diamantina, que em Belo Horizonte seria diluída, percebe-se o mal que um poder unitário como o das Igrejas afeta as pessoas no seu entendimento e em suas possibilidades. Qual seria, pois, o papel dos professores e professoras nestes lugares? Mostrar ao máximo de pessoas a arma oculta que seus pastores carregam. É um retorno ao ideal Iluminista do século XVIII e talvez com as técnicas do passado: jornais mimeografados, fanzines xerografados. Ou a Associação Pão de Santo Antônio estaria disposta a publicar outra análise dos fatos?

 

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