Recentemente se encontraram em Belo Horizonte os reitores de duas das maiores universidade públicas do país. Enquanto um lamentava a morte, no dia anterior, por suicídio, de um de seus alunos, o outro informava sobre o crescimento do fenômeno na instituição que dirige. Tal conversa, por menos corriqueira que seja, é reveladora do drama vivido por muitos estudantes, professores e técnicos administrativos em educação das universidades brasileiras. O adoecimento e os sofrimentos mentais fazem parte, hoje, da rotina e da experiência acadêmica de dezenas de milhares de pessoas de forma muito intensa.
O que estaria fazendo com que a tão sonhada, para muitos, entrada na universidade, se transforme em um pesadelo? A semana passada, durante a realização da V Semana de Saúde Mental, a UFMG, publicou um documento que traz algumas luzes sobre o problema, tanto do ponto de vista analítico e, sobretudo, felizmente, do ponto de vista das proposições para combatê-lo. Em relação aos estudantes, afirma-se, por exemplo, que,
“O processo de adaptação à vida acadêmica, mudanças da rotina, distanciamento do núcleo familiar, novas experiências de vida com maior responsabilidades e exigências acadêmicas, financeiras, relacionamentos interpessoais, levam a uma desestabilização emocional, manifestada principalmente com estados de ansiedade e em segundo lugar episódios depressivos, caracterizados por angústia, desestabilidade emocional, irritabilidade, nervosismo e outros. O sentimento de solidão,a dificuldade em definir a própria identidade (vocacional, ideológica, política, sexual) e o estresse acadêmico constituem os principais fatores que influenciam o estado emocional dos estudantes.”
Em relação aos demais membros da comunidade universitária, o documento ressalta que, entre os professores e estudantes da pós-graduação, por exemplo, a existência de uma cultura competitiva, pouco inclusiva e pouco afeita à consideração das dificuldades pessoais e aos limites das próprias condições de trabalho e desenvolvimento da pesquisa, a escassez de recursos e a exigência de produtividade constante, além das relações nem sempre amistosas e respeitosas dos orientadores para com seus orientandos, são situações que geram adoecimento e sofrimento mentais. Já em relação aos TAEs, o documento apresenta que as relações hierárquicas desrespeitosas, a desvalorização do trabalho e a falta de perspectiva na carreira são, dentre outras, algumas razões evocadas como explicação do adoecimento.
A contundência e abrangência dos relatos pessoais sobre o assunto, das conclusões de encontros sobre o tema e das pesquisas desenvolvidas mostram que o problema está longe de ser algo que possa ser considerado da alçada pessoal ou individual. É um problema grave, que encontra condições de ampliação e que envolve muito diretamente as condições de trabalho e estudo nas universidades brasileiras e as próprias agências de fomento e avaliação das atividades acadêmicas.
Sendo um problema coletivo e institucional, a resposta precisa ser construída também coletivamente e, evidentemente, precisa ser devidamente institucionalizada em nossas universidades e agências de fomento e avaliação. Se tal não for feito, corremos o risco de aumentar ainda mais o sofrimento de dezenas de milhares de pessoas que vêm o sonho de entrar na universidade virar um pesadelo e, além disso, de aumentar o desperdício de talentos para a criação de uma universidade mais plural, aberta, acolhedora e de qualidade para todos e para todas. Felizmente, nos parece, a UFMG deu um passo importante nesse sentido e acena com a expectativa de que conversas como aquelas dos dois reitores, acima aludidas, sejam cada vez mais raras e menos necessárias.
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