Eu vi a semente no solo, vi água abundante
Eu vi o solo rachando, a planta nascendo, crescendo
Das folhas frágeis, do broto frágil, débil, delicado e sutil
Desabrocha a rosa vermelha da cor da centelha
Do mesmo fogo matreiro que destrói, corrói a essência da vida
Da terra outrora fecunda, agora imunda, terra sofrida
Senti o pé da criança que gerou a esperança
De um futuro perfeito, do amor satisfeito
Senti o olhar do felino que espreitava o destino
Senti o olfato do cão que afugenta o ladrão
O olhar satisfeito do mesmo sujeito
Que plantara a semente da rosa vermelha da cor da centelha
O mesmo solo fecundo, agora imundo, esconde a verdade
Do tempo esquecido, do planeta aquecido da chama cortante
Da fumaça escura, que esconde o luar, que apaga as estrelas
Transformando a noite de aquarela, em apenas mais uma tela
Vazia, nua, sem cores, difamando os amores, realçando os odores
De lodo fétido, contaminado e desbotado na chama da vela
Agora tudo é árido, desértico, insuportável
O mesmo sol que aquecia a flor, agora espalha o odor
Da carne perdida, dos corpos sem vida, putrefatos
O vento que acariciava a pele e afastava o calor
Agora traz a tormenta, causa o terror, espalha a dor
Da criança que criou esperança, só resta o pavor
A rosa vermelha bela e radiante, agora distante
Só existe na memória, na lembrança constante do eterno retirante
A rosa que agora desabrocha, virou cogumelo
De cor escura que espalha a loucura e a morte sofrida
No solo onde vi a semente agora resta a lápide
Inscrito na cruz, agora reluz somente a mensagem:
Aqui jaz a rosa vermelha, do tempo da terra selvagem.
Imagem de destaque: pascalcescato