A pólvora e a faísca: a explosão dos massacres nas escolas

Marcelo Silva de Souza Ribeiro

A violência é um fenômeno complexo, inclusive em sua gênese devido a multicausalidade. Isso já indica a necessidade de enfrentamento igualmente complexo, ainda que possam existir origens causadoras da violência mais preponderantes do que outras.

Os chamados “massacres nas escolas” são um dos fenômenos da violência contemporânea com um matiz específico, pois se dá no âmbito de instituições de ensino, tendo geralmente como assassinos pessoas jovens agindo de maneira torpe que atacam indistintamente alunos, professores e funcionários.

O massacre nas escolas tem provocado perplexidade na sociedade justamente pela sua aparente irracionalidade e explosão de violência à espreita de qualquer um e a qualquer momento. Esse estarrecimento passa ainda pelo pânico vivido por conta das ameaças boateiras como ferramentas de controle gerando sensação de poder aos seus algozes. Mas por que isso tudo? O que tem provocado? Como lidar com esse tipo de violência? Estaríamos vivendo um contexto que propiciaria o surgimento desse fenômeno violento?

O massacre nas escolas é um fenômeno mundial e certamente diz respeito a um modo de vida contemporâneo. A despeito dessa dimensão global é possível que haja especificidades locais. No Brasil, por exemplo, houve um aumento na frequência de ataques em escolas ao longo dos últimos meses, tendo sido registrados 5 episódios de setembro de 2022 até abril de 2023. Esses episódios teriam também relação com um contexto pós pandêmico, com as recentes tensões políticas, com os desregramentos dos meios digitais sociais e com a ascensão de uma apologia da violência e fetiche às armas?

Sabemos que outros fatores também contribuem, ainda que de maneira não determinantes, como o bullying, as condições familiares marcadas por relações autoritárias, permissivas e negligentes, o próprio esgarçamento da qualidade das relações interpessoais e mesmo toda precariedade social, que inclui a miséria (afetiva e material) e o sucateamento dos serviços psicossociais.

Talvez estejamos vivendo uma combinação perfeita que deflagra explosões da violência, numa junção entre a faísca e a pólvora. Esse cenário composto e “nitroglicerínico” explicaria essa violência toda. Importante lembrar, contudo, que toda violência é sintomática, ou seja, revela algo, e pior, não vai parar por aí. Afinal de contas, o que tem sido feito verdadeiramente para reverter essa situação?

Sinceramente, o problema não está nos games, ainda que sejam jogos eletrônicos com enredos de violência. Muito já se sabe que a questão é mais o contexto de desenvolvimento do sujeito do que a interação com o game em si.  Além dessa questão, algumas medidas aclamadas, e por mais que tragam apaziguamento, como aumentar muros escolares e ter revista na entrada da escola, ajudam, mas não vão mudar o encontro fatídico entre a faísca e a pólvora. Curiosamente, já nos idos de 2011, quando ocorreu o episódio do massacre em Realengo, advertimos que a situação iria piorar se não fosse nada feito.

Como colocado inicialmente, se a violência é um fenômeno complexo, a necessidade de enfrentamento é uma igualmente complexa. Há a necessidade de investir em políticas de apoio à família e a assistência psicossocial. Cadê o fortalecimento dos nossos CAPS, dos nossos CRAS e dos nossos CREAS? A pobreza no Brasil precisa ser amplamente enfrentada e superada! Um outro aspecto fundamental é a responsabilização dos meios de comunicação e redes sociais. Não pode ser terra de ninguém. O fim da ideologia das “arminhas” e o controle das armas são outros aspectos que constituem o complexo de ações necessárias para aplacar essa “explosão de violência”. Estamos vivendo uma endemia da violência e o massacre nas escolas é a combinação da faísca e da pólvora.


Imagem de destaque: Galeria de Imagens

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