A noção de Tempo Histórico empregada em sala de aula: breves considerações.

Raquel Barreto Nascimento

Desde as primeiras aulas do curso de graduação em História, os estudantes são advertidos sobre o fato de que a delimitação do recorte temporal deve ser empregada com clareza em uma pesquisa científica, uma vez que é elemento fundamental para o ofício do historiador. Quando isso não ocorre, corre-se o risco de o leitor não ser capaz de compreender o que busca ser evidenciado pelo autor. 

Tânia de Luca (2020, p. 112) chama atenção para o fato de que nas análises historiográficas, “[…] as divisões do tempo não precisam se subordinar ao calendário civil e um século pode ter mais ou menos de cem anos, desde que se tenha uma boa justificativa histórica para isso”. Por certo, um pesquisador mais experiente e familiarizado com a prática pode compreender sem dificuldades aquilo que a autora propõe. No entanto, quando a sala de aula se torna o lugar destas discussões, o professor de História precisa realizar um trato específico com os estudantes, levando-os a compreender o que se constitui como tempo histórico, se valendo de uma linguagem menos técnica e mais didática. 

Tal necessidade se ampara na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que estabelece que o estudo do tempo é um dos conteúdos a serem abordados com as turmas do 6º Ano do Ensino Fundamental durante a 1º Unidade do ano letivo, seja nas instituições públicas ou privadas. Segundo consta na Base, o professor deve refletir junto aos alunos o sentido das cronologias e “Identificar diferentes formas de compreensão da noção de tempo e de periodização dos processos históricos (continuidades e rupturas)”. 

No entanto, se as noções de tempo histórico são, ainda, alvos de ricos debates historiográficos, como construir reflexões junto aos estudantes que, recém chegados à etapa do Ensino Fundamental II, têm cerca de 12 anos e ainda estão desenvolvendo a habilidade de abstrair e consolidar conceitos? O Livro Didático se torna uma importante fonte de consulta porque fornece elementos que permitem ao professor diferenciar, junto aos estudantes, o tempo cronológico do tempo histórico e como esses elementos são fundamentais para a compreensão da História. 

Deste modo, o primeiro pode ser definido enquanto aquele que, fruto da invenção humana, pode ser quantificado pelos relógios e calendários. Já o tempo histórico tem como seus principais agentes os “[…] princípios humanos que provocam mudanças sociais e, simultaneamente, também são modificados por elas”, variando de acordo com os acontecimentos que são considerados relevantes. 

Neste sentido, o professor pode promover, junto aos estudantes, reflexões sobre a importância da marcação do tempo para os estudos históricos, considerando as ações dos homens, que são responsáveis por produzir cultura e modificar a organização social, política e econômica de sua sociedade. Ademais, pode-se conduzir os estudantes à reflexão de que apesar de não ser o tempo o único responsável pelas transformações sociais, este é fundamental para compreendermos os acontecimentos históricos em espacialidades e temporalidades específicas. 

Por certo, é fundamental que o professor se ampare no livro didático mas não se atenha somente a ele, sempre consultando outras fontes, inclusive, aquelas que evidenciam o debate historiográfico que envolve a temática. Assim, enquanto mediadores entre os alunos e o conhecimento, os professores têm a missão de conduzir os alunos à reflexão histórica sem se ausentar do estímulo à autonomia e criticidade dos estudantes. 

 

Para saber mais:

LUCA, Tania Regina de. Práticas de pesquisa em história. São Paulo: Contexto, 2020

BRASIL. Ministério da Educação. Base nacional comum curricular. Brasília, DF: MEC, 2017. Disponível em: <http://basenacionalcomum.mec.gov.br/> Acesso em 07 mar. 2021. 

CARVALHO, Paula; MENEZES, Fernando. História Contextualizada: 6º Ano Ensino Fundamental. Recife: Editora Construir, 2018. 


Imagem de destaque: Gerd Altmann / Pixabay 

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