A infância nas eleições: como obter mudanças significativas?

Carolina de Castro Pereira*

Coletivo Geral Infâncias

Em tempos de eleições, muitos questionamentos são levantados pela sociedade e muito se fala sobre saúde, segurança e desigualdades sociais. Nos cabe um questionamento: como essas categorias são vistas perante a infância?

A marginalização da infância ainda é uma questão para as políticas públicas, pois ainda que alguns marcos legais e teóricos reafirmem as crianças como sujeitos de direitos e atores sociais, infelizmente, vemos a sua priorização ficar em segundo plano, quando comparada ao debate econômico. Talvez porque falar sobre infância englobe um conjunto de atores, como automaticamente falar sobre a família, uma questão contemporânea na qual a criança e a mãe são coadjuvantes de uma sociedade cada vez mais imediatista, que se recusa a olhar para a infância com toda a complexidade que ela exige.

Refletir verdadeiramente sobre as infâncias dentro da política exige também repensar os conceitos que envolvem a moradia, os horário de funcionamento das creches e escolas das redes públicas, que muitas vezes não atendem a demanda de turnos dos trabalhadores. Ou ainda, porque são trazidos para a discussão assuntos delicados e importantes para a sociedade brasileira, como questões de gênero e étnico-raciais. No Brasil, ainda existe de forma muito intensa o agravante das desigualdades sociais e raciais. Um país de limites continentais com realidades tão discrepantes dentro de um mesmo estado. Um racismo estrutural que marginaliza mais e mais crianças, reduzindo sua vivência, muitas vezes, a espaços mal preparados para o desenvolvimento humano, predestinando suas vidas de forma cruel.

É sabido que propostas e investimentos focados na primeira infância, período compreendido entre o nascimento até os seis anos de idade, trazem um resultado superior a outros investimentos de base, inclusive em relação a outras faixas etárias. Isso acontece porque o cérebro da criança nesse período é muito maleável. Nesta fase, 90% das conexões neurais são formadas, ou seja, a criança é muito receptiva a novas experiências e conceitos, é uma janela de oportunidades educacionais maravilhosa.

É necessário fazer agora uma profunda reflexão: por que ainda não evoluímos de forma considerável no que se refere às políticas públicas para as crianças? Por que não percebemos melhorias efetivas na vida dessas crianças, mesmo com os investimentos que são feitos atualmente na sociedade? Seria necessário mais recursos, ou estamos aplicando-os de forma ineficiente?

Trabalhar de forma regionalizada é uma maneira eficaz de conseguir bons avanços para a infância, e essa deveria ser uma das prioridades das prefeituras e câmaras de vereadores. Entender as diferenças e buscar as igualdades dentro do seu próprio microcosmo municipal são elementos determinantes para a nossa qualidade de vida.

Programas relacionados com a saúde, educação, meio ambiente entre outros, são executados pelo município, mesmo que sejam programas com base federal ou estadual federais. Para propostas eficientes é necessário, sim, um conhecimento de dados socioeconômicos. Onde investir mais na educação das crianças? Por que determinada região não atingiu a meta de vacinação? Mas, mais do que ter os dados,é necessário interpretar e ter a vontade de implementar mudanças reais nas políticas públicas.

Por exemplo, pensar em educação infantil deveria ser sinônimo de pensar no envolvimento escola e família. É necessário criar relações para aproximar os responsáveis das crianças deste ambiente escolar, criando uma atmosfera de confiança e parceria. São necessários recursos para treinamento dos professores, ampliação dos horários de funcionamento das creches e pré-escolas, garantindo tranquilidade para as mães saírem do serviço e chegarem a tempo de buscar seus filhos. É de fundamental importância fazer as perguntas necessárias e buscar as respostas certas com coragem e firmeza.

No dia 15 de Novembro, estaremos de novo diante de escolhas que a democracia proporciona para nós brasileiros. Que possamos nos sentir livres, para exercer nosso máximo poder de fazer boas escolhas para o futuro das nossas crianças.

*Arquiteta, mãe e defensora da infância como forma de transformação do mundo. Idealizadora e bonequeira da Mundo Semente. Email: carolinadecastropereira@gmail.com


Imagem de destaque: Du Amorim/ A2D / Fotos Públicas.

 

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