Maristela Andrade
Patrícia Batista
Cristiano Ferronato
Em idos de 1920, celebrava-se no Sergipe, o primeiro centenário da sua independência. A efemeridade resulta do contexto da independência do Brasil, ocorrida em 1822. A celebração festiva das comemorações cívicas do 8 de julho, corresponde a uma trama arquitetada por políticos e intelectuais, a respeito da celebração do primeiro centenário da sua independência. O Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, fundando em 1912, organizou junto a seus membros as festividades.
Para a celebração do primeiro centenário da independência de Sergipe, o Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, rememorou traços da guerra de independência do Brasil, e da separação administrativa entre a Capitania da Bahia do território sergipano. O 8 de julho de 1820, marca o início de nova etapa administrativa e a consolidação do evento que redefiniu as diretrizes da política sergipana com relação a Capitania Baiana. O marco é o ponto de partida para uma nova escrita da trajetória histórica do povo sergipano, registrada a partir de momentos distintos e de disputas internas e externas, cenários que marcam e consolidam a confirmação do processo de consolidação da sua independência.
Dentre os muitos marcos da celebração da independência, destacamos a edição volume V, de 1920, da Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, que publica um número especial, consagrado à comemoração do primeiro centenário da emancipação política de Sergipe. O caderno reproduz e registra os desdobramentos do decreto de 8 de julho de 1820, através do qual D. João VI informa ao Conde Palma, então Governador da Bahia, da elevação da Capitania de Sergipe à condição de território independente.
No contexto de guerra da independência, consideramos o marco inicial a revolução de 1817 em Pernambuco, e o gradual enfraquecimento do poder da Capitania da Bahia. O processo, no entanto, desenrolou por anos, dada a não aceitação desta pela separação do território sergipano. Logo, o processo de independência de Sergipe, caminhou associado a guerra de independência do Brasil, tendo se consolidado em momentos distintos. Iniciado com o decreto de Dom João VI, em 8 de julho de 1820, que coloca a Capitânia de Sergipe Del Rei como independente do governo baiano, e, já no regime imperial, com D. Pedro I, com a reafirmação da autonomia sergipana, e sua consolidação, juntamente com o processo de reconhecimento da independência do Brasil corrida em 1822. São esses fatos que a intelectualidade sergipana na década de 1920 buscou transformar em memória oficial.
Para o ato celebrativo, a RIHGSE, conclama todos os intelectuais sergipanos para que viessem participar e colaborar relatando fatos que pudessem alargar e aprofundar os relatos existentes sobre a independência sergipana no contexto da independência do Brasil. O Instituto, para as festividades criou outros signos, como a inauguração da estátua à Tobias Barreto, em praça pública, na cidade de Aracaju, a cunhagem de medalhas de bronze comemorativas do Primeiro Centenário, a publicação de número especial da Revista do Instituto de Sergipe, a publicação de álbum ilustrado de Sergipe, a realização de exposição de produtos industriais sergipanos, a confecção da bandeira do Estado, criada para uma Campanha de Navegação, que veio a se tornar símbolo de Sergipe em 1920, a mesma dispõe de listas representando a integração de Sergipe com a Federação e as estrelas, as cinco mais importantes bacias fluviais do Estado.
Em 8 de julho de 1920, em reunião presidida pelo Desembargador Manoel Caldas Baretto Netto e aberta à comunidade, estiveram presentes autoridades locais, os membros do Instituto, personagens da comunidade sergipana e o Ministro da Justiça, Oliveira Valadão, representando o Presidente da República.
A celebração contou com discursos saudosistas rememorando a história do Brasil Colônia, destacando as melhorias havidas com a chegada da família real, que, progressivamente, desvincularam o Brasil das políticas impostas pela condição colonial, uma vez que passou a ter status de sede do Império português, de onde viria a se tornar independente em 1822. No bojo desse processo, promoveram-se mudanças profundas na estrutura e relação de poder, que em Sergipe pode ser constatado, entre outros eventos, na mudança da Capital da Província de São Cristóvão para Aracaju, em 1855; na visita do Imperador D. Pedro II a Sergipe, em 1859; na participação do Brasil na guerra do Paraguai, 1864 – 1870. O Giro do Bicentenário trouxe uma das muitas histórias sobre o estado. Confira outras narrativas sobre o Sergipe na Coluna Bicentenário em Foco.
1 – Doutoranda em Educação, no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Tiradentes (PPED/Unit), mestre em História, pela Universidade Federal de Sergipe (UFS). Graduação em História Licenciatura, pela Faculdade José Augusto Vieira (FJAV). Membro do grupo do Grupo de pesquisa História da Educação no Nordeste – (Gphen/Unit/CNPq).
2 – Doutoranda em Educação no Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Tiradentes-(PPED/Unit), com Bolsa PROCAPS/Unit. Mestre em Educação pela Universidade Federal de Sergipe (UFS). Licenciada em História pela Universidade Federal de Sergipe. Pesquisadora do Grupo de Pesquisa História da Educação no Nordeste (Gphen/Unit/CNPq).
3 – Doutor em Educação pela Universidade Federal da Paraíba (2012). Docente e coordenador do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Tiradentes-SE. Pesquisador do Instituto de Tecnologia e Pesquisa-ITP. Líder do Grupo de Pesquisa História da Educação no Nordeste (Gphen/Unit/CNPq).
Imagem de destaque: Ilustração fotográfica copiada da Revista do Centenário em 1920. Comissão Executiva das Festas do Primeiro Centenário da Emancipação Política de Sergipe (1820-1920). Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe. Volume V., ano V, 1920.