O que têm a dizer os historiadores e as historiadoras da educação sobre o passado que autoriza nosso presente e é continuamente atualizado em nosso cotidiano?
Essa foi uma das perguntas que, dos dias 20 a 23 de junho, mobilizou centenas de pesquisadores(as) brasileiros(as), portugueses(as) e de várias outras nacionalidades, reunidos na Universidade do Porto, em Portugal, para a realização do XI Congresso Luso Brasileiro de História da Educação- XI COLUBHE. Nele, foram apresentadas centenas de pesquisas que, estudando o nosso passado mais remoto ou períodos muito próximos de nosso presente, indagavam também sobre as grandes questões de nosso tempo.
No Congresso era patente a preocupação de muitos (as) brasileiros e brasileiras sobre as incertezas que cercam o presente de nosso país. As perguntas sobre quais serão os impactos das políticas defendidas e estabelecidas pelo governo Provisório do vice-presidente Temer e seus apoiadores compareciam em sessões as mais diversas.
Um tema que não podia deixar de aparecer nas discussões é o da relação entre a educação e a democracia e os regimes autoritários no Brasil e em Portugal. Ao mesmo tempo em que não se depositou na escola a responsabilidade pelo contínuo reaparecimento, entre nós, luso-brasileiros, das culturas autoritárias, xenófobas, sexistas e racistas, discutiu-se que não se pode esquecer a força simbólica e material da escola como instituição de atualização de nossas tradições.
O financiamento à educação pública, por exemplo, foi um tema presente nas discussões e conversas dos(as) congressistas,mas também era continuamente veiculado nas ruas por meio de milhares de cartazes espalhados pelas cidades portugueses. Neles e por meio deles,o Bloco de Esquerda busca sensibilizar e mobilizar a população para sua proposta de reduzir drasticamente o financiamento público às escolas particulares e, assim, poder investir mais nas escolas públicas do país.
Do conjunto das discussões, uma das sínteses possíveis, é a força do passado na história do presente e, do mesmo modo, a responsabilidade das historiadoras e historiadores que ali se encontravam, com o debate contemporâneo sobre os rumos da educação no mundo. Se o passado se impõe e molda o nosso presente, cabe ao historiador indagar sob que condições e lutas isso ocorre. Do mesmo modo, se somos o futuro daquele passado sobre o qual indagamos, também o que fazemos hoje será o passado de um presente a ser vivido por nós mesmos e por muitos outros. Importa, pois, nos perguntarmos sobre que passado queremos deixar de herança para as novas gerações.
Quando as forças mais reacionárias do país, aquelas que sempre estiveram junto com os golpistas de ontem e de hoje, querem nos dar lições de história e, sobretudo, querem nos ensinar o nosso ofício, é porque a história não importa ao passado e sim ao presente. E o passado importa, também, porque é nele, muitas vezes, mais do que no presente e no futuro, que se encontram as novidades do mundo. Encontrar nos passados de nossas gentes,as novidades que questionam esse presente pode ser a grande contribuição daqueles que, como as historiadoras e historiadores da educação, estão preocupados com o cuidado e a educação da infância do mundo.