O contexto da pandemia causada pelo coronavírus impõe um conjunto de novas reflexões sobre as questões educacionais em todo o mundo. O currículo e a formação de professores, dentre inúmeros outros temas de reflexão, são colocados em debate neste momento, especialmente naqueles sistemas de ensino que migraram para o ensino remoto. Reconheço que inúmeros outros pesquisadores têm realizado sistematizações importantes, ora apregoando os riscos da precarização e uma defesa dos modelos educacionais centrados na gramática moderna da escolarização, ora encontrando janelas de oportunidades para a mudança educativa e apregoando uma ênfase na inovação dos sistemas escolares. Tais argumentos são legítimos, entretanto, no decorrer deste semestre farei um exercício analítico de ampliação interpretativa de minhas ponderações e buscarei abarcar um conjunto diversificado de questões.
Para além do contexto da educação que ocorre neste tempo (bastante agitado), ou mesmo de uma escolarização pós-pandêmica, precisamos avançar na diversificação de nossas ferramentas conceituais para a crítica política. Esta ampliação supõe considerar as novas formas organizativas do capitalismo contemporâneo e suas repercussões educacionais e, por outro lado, rediscutir os propósitos e as finalidades educativas. Junto aos coletivos escolares, envolvendo variados segmentos e atores sociais diversos, precisamos nos interrogar: Que princípios alternativos somos capazes de enunciar? Os próprios setores progressistas – os quais enquadro meus posicionamentos – têm a oportunidade de revisitar um conjunto de seus postulados educativos que ainda não avançam no enfrentamento das desigualdades e não respondem aos dilemas emergentes no contexto do capitalismo contemporâneo.
Questões como a redução das avaliações de larga escala ou a recolocação do debate sobre a competitividade e o ranqueamento entre profissionais e estabelecimentos de ensino poderiam ser discutidas nesse momento, por exemplo. Possibilidades de reorganização dos currículos escolares ou novos modelos de governança também poderiam ser tratadas com maior intensidade, inclusive indagando nossa capacidade imaginativa para enfrentar um conjunto de novas interpelações públicas à escolarização. Mais uma vez remetendo-me ao contexto pandêmico, o próprio desenvolvimento do ensino remoto proporcionou-nos algumas reflexões sobre a escola brasileira neste início de século XXI. Encaminhando-me para a parte central de meu argumento, vou fazer dois conjuntos de pontuações.
O primeiro argumento direciona-se para nossa capacidade de responder aos desafios postos na atualidade, seja nos debates sobre os propósitos educativos, seja em torno das práticas a serem desenvolvidas. Tenho defendido que precisamos nos afastar de duas disposições formativas que caracterizam o pensamento educacional atualmente, quais sejam: a melancolia pedagógica e a compulsão modernizadora. Precisamos construir um posicionamento – inovador e democrático – nas inúmeras aberturas que encontramos entre estas posições antagônicas. Nem uma defesa radical da forma escolar, nem uma busca desenfreada por soluções tecnológicas. Os fazeres pedagógicos no século que se inicia nos convocam a preencher de sentidos coletivos as aprendizagens individuais, recolocando no centro da conversa as possibilidades de leituras críticas e criativas, em ação articulada.
O segundo argumento que merece ser discutido neste texto encontra-se na busca por novas orientações para pensar a escola e seus currículos. A inovação educativa é desejável à medida em que considere os atores escolares e seja capaz de democratizar o acesso a saberes e conhecimentos relevantes, apostando em altas expectativas educacionais para as camadas populares. Acrescenta-se a isso a necessidade de reinventar a democracia na escola, por meio de novas formas de governança. Gosto muito daquilo que Andy Hargreaves e Dennis Shirley nomearam como “quarta via”, isto é, uma relação educacional baseada na confiança, no profissionalismo e na responsabilidade compartilhada.
Ao longo deste texto, que abre as reflexões que conduzirei no Pensar neste semestre, procurei levantar um conjunto diversificado de questões sobre a educação remota que estamos produzindo e o necessário debate sobre os propósitos educacionais. Lancei mão de alguns diagnósticos e um conjunto de apostas: a) distanciar-se da melancolia pedagógica e da compulsão modernizadora; b) acreditar na convergência possível entre inovação educativa e novos modos de governança escolar democrática. Com bastante coragem e responsabilidade, temos a oportunidade de colocar em evidência alternativas possíveis para a escola pública brasileira.
Referência:
SILVA, Roberto Rafael Dias da. Entre a compulsão modernizadora e a melancolia pedagógica: a escolarização juvenil em tempos de pandemia no Brasil. Práxis Educativa, v. 15, p. 1-12, 2020.
Imagem de destaque: Marcos Santos/USP Imagens
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