Marlos Bezerra de Mello
O Brasil conseguiu cessar, nas últimas décadas, um longo ciclo de pobreza extrema, um período severamente marcado pelo atraso e pela sobrevivência da população mais sofrida. Aparentemente, pensava-se que esse tempo de grande desigualdade econômica, social e cultural jamais voltaria, pois as novas famílias estavam se constituindo num país distinto daquele em que seus antepassados cresceram.
O maior acesso às oportunidades de estudos e empregos, bem como o fortalecimento das instituições que mantém a ordem democrática no país, sinalizavam que novos tempos estavam se consolidando e que o Brasil não seria mais governado por e para um pequeno grupo de privilegiados em detrimento do trabalho de muitos. Um contrato social justo parecia surgir no horizonte aspirando ao bem em comum e à união nacional.
Mas, quando se pensava que o passado não teria mais chances de voltar, eis que a pobreza material e toda a sua carga de sofrimento regressou trazendo consigo uma profunda desunião, a desesperança para a população, a ideia fixa de que tudo não passou de um sonho, pois parece que o Brasil continua submerso e retido pelo ciclo do muito para poucos e do pouco para muitos. E esse parece ser sempre o nosso maior problema.
Nesse sentido, as medidas que se avizinham demonstram tragicamente que nesse período de “crise” a única solução encontrada pelos políticos é baseada nos princípios mais tradicionais e repugnantes da politicagem: a prática de compra e venda de votos, permutação de ministérios, cargos, favores, liberação de emendas parlamentares, partidárias etc., tudo o que não se esperava mais para um país que parecia desejar e assumir um compromisso com a liberdade e com a legitimidade da democracia. É essa fragilidade endêmica comprovada pelos esquemas de corrupção que temos de enfrentar.
A ruptura com a liberdade democrática por meio do rompimento com as regras do processo político legal, estabelecido na Constituição Federal de 1988, abre uma fenda enorme para o descumprimento e o desrespeito de qualquer outra iniciativa assegurada na Carta Magna. Além disso, demonstra explicitamente para a população nacional e mundial que o Brasil não possui uma democracia sólida, isto é, segura e capaz de enfrentar os seus problemas com serenidade, sem exacerbações que agravam as situações de crises e desestabilizam as pessoas que ficam desorientadas e inseguras. Uma sociedade fragmentada é facilmente vencida pelo medo e pela radicalização.
Radicalismos, fundamentalismos e fanatismos são sinais pontuais para os preconceitos velados que se permitem invisíveis estrategicamente, mas que afloram diante das mínimas possibilidades de crescimento da perversidade por meio da intolerância, da ignorância e do desrespeito. Nesse sentido, a ação política opressiva que se funda na arrogância do pensamento e do comportamento de determinados agentes, pode fazer com que pessoas abandonem suas convicções e o bom-senso coletivo para, pouco a pouco, transformar-se em um instrumento cego daqueles que dele se utilizam apenas para satisfação dos seus próprios interesses. O psicólogo social Stanley Milgram confirmou essa possibilidade por meio do seu experimento sobre o nazismo em 1963.
Mas afinal, no final da história, a história não acabou. E hoje, mais do que nunca, o Brasil precisa de ideias novas, ideias alternativas, e há sempre alternativas. Pois, nesses dias estranhos, dias duros e difíceis, podemos prescindir de tudo, mas não podemos abrir mão da liberdade, nem de um futuro. O futuro está no reforço da sociedade e na valorização do conhecimento. Está numa sociedade que se organiza com base na conjunção de saberes. Na liberdade de falar e na liberdade de viver. Mas a liberdade só existe baseada na dignidade pessoal e coletiva estabelecida pela qualidade de vida na medida em que avançarmos no esforço pela educação, pela escola pública, pela ciência.
Nos últimos anos, pela primeira vez na nossa história, passamos a ter a base e suporte necessários para um novo modelo de desenvolvimento e de organização do Brasil. Esta é uma base imprescindível, porém ainda incipiente. Existe o reconhecimento do conhecimento, da ciência e da tecnologia nas nossas universidades, nos nossos centros de pesquisa. Mas não estamos conseguindo aproveitar esse potencial para reorganizar a nossa estrutura social, política e produtiva, e para transformar as nossas instituições, cuja geração continua condenada à precarização da sociedade, ao subemprego, ou pior ainda, ao desemprego. E esse é o drama do nosso atraso e dependência. O Brasil é o nosso presente e o nosso futuro, mas não nos iludamos, ou o país está a salvo, ou também estaremos em perigo.
Pelos motivos apontados acima, e por outros a serem escritos, que em 2016 o projeto Pensar a Educação Pensar o Brasil (ver aqui) está procurando debater maneiras e formas da Educação Básica poder interrogar a Universidade, pois é por esse fio condutor que é possível se pensar a ligação das universidades com a sociedade, isto é, o caminho que oportunizará que os conhecimentos, as culturas, as ciências estejam a serviço da transformação, da qualificação das nossas instituições e da melhora do sistema político.
Nesse sentido, por fim, é necessário aprendermos a interrogar os rostos dos nossos políticos antes de escutarmos as suas línguas, como bem sinalizou Umberto Eco numa das suas últimas palestras. Devemos pensar o real histórico da educação básica e das universidades e os caminhos de interrogação com que esse mesmo real vai sendo construído. É a busca interrogante dos fundamentos para uma ligação entre os saberes e a sociedade que vai nos permitir sair de uma posição menor, periférica, para o desejoso encontro entre as unidades de superação do fosso que se cavou entre as universidades, a educação básica e os anseios da sociedade brasileira. É nessa direção que corre o futuro.
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