Jorge Amado: um baiano romântico e sensual 

Alexandre Azevedo

Considerado o mais popular romancista do Modernismo brasileiro, Jorge Amado escreveu mais de 30 romances, traduzidos para 48 idiomas e distribuídos em 60 países, chegando a vender cerca de 20 milhões de exemplares.

Escritor profissional, só exerceu outra atividade quando foi eleito deputado pelo Partido Comunista, cujo mandato durou apenas dois anos, pois o partido havia entrado para a ilegalidade. Sofreu perseguições políticas, o que o levou a exilar-se na Argentina.

Preocupou-se em retratar toda uma sociedade, analisando seus tipos marginalizados. Foi criticado por usar uma linguagem muito próxima ao falar do povo.

Casado com a também escritora Zélia Gattai, que o substituiu na Academia Brasileira de Letras, foi, assim como Nelson Rodrigues, autor das obras mais adaptadas para o cinema e para a televisão.

Apesar de ter vivido grande parte da sua vida em Paris, onde escreveu a maioria dos seus romances, Jorge Amado morreu em Salvador, em 2001, aos 89 anos de idade.

No Brasil, Getúlio Vargas, levado ao poder pela Revolução de 1930, consolidou-se como ditador, no Estado Novo. Inconformados com a perda do poder, os paulistas desencadearam a Revolução Constitucionalista de 1932. Ainda nessa época, crescia a ideologia fascista, manifestada pelos seguidores de Plínio Salgado (escritor, participante da Semana de Arte Moderna em 1922), fundador da ANL (Aliança Nacional Libertadora). Agindo na clandestinidade, após ter sido fechada pelo governo federal, a ANL tenta uma revolução que, em 1936, é acompanhada por revoltas populares, que serviam de pretexto para consolidar o regime. Em novembro de 1937, há o fechamento do Congresso Nacional e a decretação do chamado Estado Novo. Esse foi um período antidemocrático, anticomunista, em que Getúlio Vargas exercia um poder ditatorial e centralizador, até que, em 29 de outubro de 1945, pressionado, renuncia.

O período de 1930 a 1945 viu surgir uma geração dos mais significativos nomes do romance brasileiro. Assim como os poetas dessa mesma geração, escritores como José Américo de Almeida, José Lins do Rego, Graciliano Ramos, Rachel de Queirós, Jorge Amado, Érico Veríssimo e Dyonélio Machado refletiam em suas obras as mesmas preocupações trazidas pelo conturbado cenário histórico do momento.

Vale lembrar que Capitães da areia teve a sua primeira edição queimada a mando do governo Vargas, por considerá-la uma obra subversiva.

Em meio a essas preocupações e questionamentos, posições mais engajadas buscavam formar uma identidade do homem brasileiro, que, pode-se dizer, teve início quando, em 1926, o romancista e sociólogo Gilberto Freyre, autor de Casa-grande e senzala, promoveu na cidade do Recife um encontro de regionalistas, cujo objetivo central era discutir o problema da seca e as suas consequências, tais como a prostituição, o fanatismo religioso, o cangaço, a miséria e a retirada.

Entre os participantes, estava o escritor e político paraibano, José Américo de Almeida, que, em 1928, lançaria o primeiro romance decorrente desse encontro, A bagaceira, dando início à geração de 30 na prosa.

Mais tarde, viriam, seguindo a mesma linha: a cearense Rachel de Queirós (1910-2003), autora de O quinze; o alagoano Graciliano Ramos (1892-1953), autor de Vidas secas; o paraibano José Lins do Rego (1901-1957), autor de Pedra bonita; o baiano Jorge Amado (1912-2001), autor de Seara vermelha.

Todos eles influenciados, de certa forma, pelo naturalista cearense Domingos Olímpio (1850-1906), autor de Luzia-homem, que, por sua vez, recebera influência do romântico cearense Franklin Távora (1842-1888) que, com o seu romance O Cabeleira, introduziu na Literatura Brasileira o romance regionalista nordestino.

Dos romancistas nordestinos, Jorge Amado foi o que mais se diversificou com relação aos temas. Explorando como cenário o Estado da Bahia, destacam-se a luta pela posse das terras cacaueiras (Cacau; Terras do sem-fim; Gabriela, cravo e canela; Tocaia grade); personagens femininas carregadas de sensualidade, como as personagens Gabriela (Gabriela, cravo e canela), Tieta (Tieta do agreste), Lívia (Mar morto), Teresa Batista (Teresa Batista, cansada de guerra); os menores abandonados de Salvador (Capitães da areia); os pescadores da Bahia (Mar morto); os pais de santo (Jubiabá; Capitães da areia); a seca, o cangaço, o fanatismo religioso (Seara vermelha); a prostituição (Seara vermelha; Tieta do agreste; Gabriela, cravo e canela; Teresa Batista, cansada de guerra); a consciência política (Seara vermelha; Capitães da areia). Entretanto toda essa sua versatilidade lhe custou caro. Os críticos literários não economizaram ataques às suas obras, principalmente, àquelas que se seguiram após as suas primeiras publicações (O país do carnaval; Cacau e Suor). Isso porque Jorge Amado não se privou em pôr em evidência, mas de maneira repetitiva, personagens como prostitutas, pescadores, coronéis, cafetinas, malandros e pais de santo, bem como o ambiente em que viviam, como saveiros, prostíbulos, fazendas, terreiros de candomblé e bares que povoam até hoje o imaginário do leitor. Quem nunca ouviu falar da sensualidade de Gabriela, de Dona Flor e de Tieta; da macheza de Rosa Palmeirão e Teresa Batista; dos coronéis Ramiro Bastos e Horácio; do Bataclan e do Bar Vesúvio (este do turco Nacib); dos pescadores Querido-de-Deus e Guma; do cachaceiro Quincas Berro D’Água; dos conquistadores Vadinho e Gato.?! O certo é que Jorge Amado conquistou os leitores com os seus tipos e seus ambientes, tornando-se um dos mais lidos escritores brasileiros do século XX.

E para pôr um fim às críticas que vinha recebendo, declarou: “Sou apenas um baiano romântico e sensual”.


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