Eleições 2022: o que a Escola tem a ver com isso?

Luiz Carlos Castello Branco Rena

Todo ser humano tem o direito de fazer parte no governo de seu país diretamente ou por intermédio de representantes livremente escolhidos. (Artigo XXI da DUDH, 1948) 

Em 02 de outubro deste ano, a população brasileira voltará às seções eleitorais para exercer o “sagrado” direito do voto como um dos fundamentos da democracia. Para aqueles e aquelas maiores de 18 anos, a lei impõe a obrigatoriedade, sendo facultativo para analfabetos, maiores de 70 anos e pessoas com idade entre 16 e 18 anos. É sempre bom lembrar que, por mais de duas décadas (1964 – 1985), este direito fundamental inscrito na Declaração Universal dos Direitos Humanos foi suspenso pelos militares através de Golpe de Estado, com o qual usurparam o poder pela força das armas. Recuperar este direito e tantos outros pisoteados pela Ditadura Militar deu muito trabalho e custou a vida de algumas centenas de brasileiros e brasileiras alcançados pela mão pesada da repressão militar. Portanto, mais que cumprir a lei se dirigindo à seção eleitoral, é preciso preparar a população para um voto de qualidade na escolha do Presidente da República, dos governadores de estado, bem como dos deputados e senadores para os parlamentos. Uma das tarefas político-educacionais mais urgentes em 2022 é oferecer elementos para o discernimento do eleitorado. Voto de qualidade é o voto que elegerá homens e mulheres que já se revelaram comprometidos com a vida, com a justiça, com a solidariedade, com a superação das desigualdades sociais, de gênero e de raça.

O que a Escola tem a ver com isso? Tudo!!! 

O papel da Escola no processo eleitoral, do qual ninguém escapa, não deveria ser reduzido à condição de cenário. Não basta que cada sala de aula seja transformada em seção eleitoral onde as urnas e mesários são alocados no dia da eleição. Muito antes da chegada das urnas, a Comunidade Escolar precisa assumir sua responsabilidade de comunidade que educa para a cidadania, para a vida na cidade, em sociedade. Assumir conscientemente que é na “polis” que nos encontramos e a vida acontece politicamente com as contradições e tensões próprias de uma sociedade plural. O processo eleitoral se coloca como uma oportunidade valiosa de envolver os atores sociais presentes na Escola no grande debate sobre o projeto de sociedade que queremos hoje e para as próximas gerações no futuro.

Resgatar o ato de educar como ato político é outra urgência do nosso tempo. Nos últimos anos, o discurso hegemônico que demonizou a política como espaço da criminalidade institucional interditou a política como prática guiada pelo bem comum e gestão do cuidado de todos, todas e todxs. Qualquer educador que atuasse criticamente na sala de aula era denunciado como alguém a serviço de um partido. A ignorância conveniente que cega e anestesia não consegue perceber que a formação social e política extrapola os limites das fronteiras partidárias. Este mesmo discurso preparou o ambiente para as ameaças e ataques cotidianos à democracia, ao sistema eleitoral brasileiro e à Justiça. Nossa jovem democracia está sob risco.

Neste momento crucial da história brasileira, todo educador(a) é chamado(a) a exercer com absoluta liberdade sua tarefa ético-política de convocar a Comunidade Escolar para debate. É função de quem educa mobilizar a reflexão crítica que avalia a experiência vivida, sendo capaz de apontar pistas de superação dos desafios presentes na sociedade brasileira. Como você pretende contribuir? 

Ninguém pode ficar de fora. A hora é de ser presença que sustente a utopia da democracia. 

 

Sobre o autor

Pedagogo, Mestre em Psicologia Social/UFMG, Professor voluntário na Rede Educafro Minas, membro do Centro de Defesa dos Direitos Humanos de Betim.

 

Para saber mais

Samba da Utopia
Ceumar 

Se o mundo ficar pesado
Eu vou pedir emprestado
A palavra poesia

Se o mundo emburrecer
Eu vou rezar pra chover
Palavra sabedoria

Se o mundo andar pra trás
Vou escrever num cartaz
A palavra rebeldia

Se a gente desanimar
Eu vou colher no pomar
A palavra teimosia

Se acontecer afinal
De entrar em nosso quintal
A palavra tirania

Pegue o tambor e o ganzá
Vamos pra rua gritar
A palavra utopia

 

Para ouvir, acesse aqui

 


Imagem de destaque: Galeria de Imagens

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