Educação primária e católica para meninas desvalidas na Escola Externa do Oratório Festivo São João Bosco – Aracaju/Sergipe

Nadja Santos Bonifácio

A concepção educacional das primeiras décadas do século XX, era de que o comportamento da criança deveria ser direcionado para uma formação sociável, de preferência com a participação da família, de um corpo docente preparado e escolas capacitadas para formar crianças civilizadas. Apesar dos anúncios de modernidade e as perspectivas para formação do indivíduo civilizado, o ensino brasileiro caminhava a passos lentos direcionado a uma educação que abrangesse – como demandava as propostas – a classe popular.

Em Sergipe, ações favorecendo a educação, tanto do estado quanto de instituições ou pessoas religiosas, principalmente para o ensino de primeiras letras, tornou-se mais contundentes a partir dos primeiros anos da década de 20 do século XX, com a implantação de colégios religiosos para educação de meninos e meninas, construção de grupos escolares e a aquisição de casas para fixar escolas isoladas com melhores condições de funcionamento, seguindo as determinações higiênicas e eugênicas adotadas no país naquele momento. 

A instituição retratada, estabelecida em Aracaju/Sergipe é o Oratório Festivo São João Bosco, criado em 1914, por uma cooperadora salesiana de nome Genésia Fontes, surgiu com objetivo de acolher, instruir e educar meninas órfãs e desvalidas, oferecendo o ensino elementar e catecismo. Começou inicialmente como um pequeno internato, mas no decorrer da primeira metade do século XX, a instituição passou por várias reformas, ampliou suas dependências e formou um conjunto arquitetônico composto por: internato, externato e pensionato para moças. 

A Escola Externa do Oratório Festivo São João Bosco (externato), originou-se dessas ações voltadas para implementar o ensino de primeiras letras no Estado, em 14 de maio de 1928, foi criada uma sala na instituição com o nome de Escola isolada para o sexo feminino nº 5 “Oratório Festivo Dom Bosco”, regida pela professora Marita Vilas-Bôas, a fim de atender as meninas pobres da região. A escola isolada funcionava no período da manhã e da tarde com 52 alunas que se matricularam inicialmente. Durante oito anos de funcionamento três professoras, pertencentes ao estado, lecionaram na instituição: Marita Vilas-Bôas, Laura Ferreira da Silva e Alzira Ferreira da Silva.

Com o fim da Escola isolada nº 5, a diretora Genésia Fontes, liderou a construção de novas acomodações, cumprindo as novas exigências da Reforma Educacional  quanto ao espaço educacional e surgiu a Escola Externa do Oratório Festivo São João Bosco ou Externato “São João Bosco” que funcionava em tempo integral (manhã e tarde), oferecendo os ensinamentos de Dom Bosco e um conjunto de disciplinas para o curso primário conforme o Regulamento da Instrução Pública, que consistia em  valores morais, ensino religioso, trabalhos manuais (costura e bordado), canto orfeônico, catecismo e Noções de Civilidade, complementava ainda com teatro, declamação e atividades cívicas.

As preleções sobre a Pátria eram verbalizadas tanto pela diretora quanto pelas professoras primárias. Comemoravam-se o 7 de setembro, 15 de novembro e 19 de novembro, entoando hinos patrióticos e hasteando a bandeira. Cumpria-se o ritual cantando o Hino Nacional no pátio com todas as alunas antes de entrar na sala de aula, bem como o desfile em torno da escola no 7 de setembro.

A imagem registra a turma da Escola Externa do Oratório São João Bosco do ano de 1955, nela observa-se a fundadora da instituição Genésia Fontes (ao centro, vestida de preto como era de costume), a esquerda a freira camiliana irmã Roberta com sua veste de cor preta e a cruz vermelha do lado esquerdo; a direita a irmã Valéria (também camiliana) juntamente com a professora Leda Marques e as alunas sérias e uniformizadas com blusa branca e saia (jardineira) azul marinho, meias e sapatos brancos. 

Em 2022, ano do Bicentenário da Independência, o Oratório Festivo São João Bosco comemorará 108 anos de existência, tempo que contribuiu para educação de moças/mulheres formadas em diversas profissões, algumas professoras, outras enfermeiras, assistentes sociais, donas de casa, enfim formações diversas que as ajudaram a conviver em sociedade. Atualmente, a instituição contribui com a sociedade promovendo atividades educacionais, culturais, assistenciais, beneficentes e pastoral para crianças, adolescentes, jovens e idosos em situação de vulnerabilidade social, econômica e financeira, juntamente com suas famílias. Na educação, no espaço onde era o antigo externato tornou-se a Escola de Ensino Fundamental São João Bosco, sem discriminação e funcionando em regime parcial ou integral com a colaboração de instituições públicas ou privadas. 

 

1 – Professora de Ensino Fundamental Anos Iniciais da Rede Pública de Ensino Estadual de Sergipe e Municipal de Aracaju. Doutora em Educação pela Unicamp.  Integrante do DEHEA/UFS.

 

Para saber mais: 

BONIFÁCIO, Nadja Santos. Acolher, Evangelizar e Educar: contribuição do Oratório Festivo São João Bosco para educação feminina em Aracaju (1914-1952). São Cristóvão: Ed. UFS, 2014.


Imagem de destaqueEducação primária e católica para meninas desvalidas na Escola Externa do Oratório Festivo São João Bosco – Aracaju/Sergipe, 1955. Acervo fotográfico do Oratório Festivo São João Bosco.

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