Economia a serviço da vida

Eugênio Magno

No artigo do mês passado, “Do divino e do profano: em tempo de Páscoa”, falávamos sobre a carência de esperançar coisas novas, palpáveis e realizáveis em curto prazo. No sistema político-econômico em que vivemos um dos mais importantes componentes que pode contribuir para trazer coisas novas com respostas imediatas para a produção e reprodução da vida é o componente econômico.

A concretude da vida requer urgência. Mas para que a vida humana sobreviva e não se extinga é imprescindível que toda a vida do planeta sobreviva.

Os números dão o que pensar. Para ficar com um único exemplo, basta saber que quase três milhões de crianças morreram de fome no ano passado. Isso, enquanto produzimos, diariamente, o equivalente a 1,5 kg de alimento por habitante da terra e que a riqueza total produzida no mundo, se dividida de forma igualitária para toda a população mundial, daria uma renda, em moeda brasileira, de algo em torno de R$18 mil mensais, para cada família de quatro pessoas. É desnecessário dizer que a economia como praticada não preserva nossos biomas, descuida da água, da terra, do ar, da vida silvestre e não tem nenhum respeito para com os povos das florestas, índios, nativos, quilombolas e ribeirinhos. 

Não são poucos os segmentos da sociedade organizada que vêm refletindo sobre o tema da vida e das mortes previstas e anunciadas e suas imbricações com a economia, aspecto definidor da vida humana no planeta. Estadistas preocupados com o bem estar social, empresários com visão de futuro, economistas de formação sólida, cientistas sociais, ambientalistas, humanistas e religiosos progressistas de várias confissões, têm manifestado suas inquietações com a dimensão econômica da vida.

Desenvolvimento sem democracia econômica é um contrassenso do capitalismo ultraliberal rentista e excessivamente financeirizado. Os maiores gênios da economia mundial vêm se empenhando no sentido de encontrar uma alternativa que o substitua. E nesse momento catastrófico em que vivemos é o papa Francisco, reconhecido por várias autoridades como o maior líder mundial dos tempos atuais, quem articula os principais movimentos globais sugerindo iniciativas de estudos, debates e ações com uma Igreja em saída – se encontrando com os leigos, intelectuais e com a sociedade –, na busca de soluções para garantir a vida no planeta.

Na “Economia de Francisco” – o santo (Francisco de Assis) – proposta pelo argentino, Jorge Mario Bergoglio, o papa Francisco, é urgente que haja uma reordenação de valores. É imprescindível que a economia esteja a serviço da vida e não a vida a serviço da economia, como vem acontecendo no mundo.

O papa tem conquistado muitos simpatizantes para o seu projeto de uma nova economia e com isso sua proposta se expande para o meio científico e ganha terreno no mundo secular. O mestre Ladislau Dowbor, economista de prestígio internacional que há tempos trabalha no sentido de desmistificar a compreensão da economia, é um dos intelectuais brasileiros que contribui para a difusão da “Economia de Francisco”. Ele está sempre empenhado em mostrar como funciona a economia e incentivar a todos, independentemente de conhecimentos acadêmicos, que busquem entendê-la para multiplicar sua compreensão para o maior número de pessoas. Dowbor não se cansa de dizer que “a economia não tem nada de complicado, os economistas é que a complicam para que o povo não possa compreendê-la”. O modelo vigente é altamente nefasto à vida, é uma economia que mata e adota o neoliberalismo como dogma de fé. O sistema econômico atual está falido. Já passou da hora de gestarmos uma nova lógica econômica.

É, no mínimo, curioso que, até o presente momento, nenhuma outra liderança do mundo tenha proposto algo tão novo e abrangente para a economia mundial como o que vem defendendo o papa Francisco nas suas encíclicas Laudato Si e Fratelli Tutti

Tendo em vista as eleições do próximo ano é oportuno que movimentos sociais, empresários progressistas, economistas antenados, intelectuais, formadores de opinião e militantes em geral contribuam, para que a representação política institucional: partidos e lideranças, incorporem em seus programas de governo as linhas mestras da “Economia de Francisco”.


Imagem de destaque: Logo da Economia de Francisco

 

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