As rosas que o vento leva: autoria feminina negra e literatura infantojuvenil

Josiane Cristina Amorim1

As rosas que o vento leva é um livro voltado para o público infantojuvenil e nos coloca em contato com a história do povo brasileiro, a partir da perspectiva de uma mulher negra. Xandra Lia desenvolveu esta história tendo como pano de fundo as suas memórias afetivas. A autora nos apresenta Nininha, uma criança negra que teve o prazer de conhecer a Tia Rosa, uma mulher negra que emerge como a guardiã da genealogia de uma família negra, na Diáspora Africana. 

Por meio de uma abordagem leve e sensível, Xandra Lia busca dar centralidade às histórias de mulheres negras, as quais tiveram que enfrentar as dificuldades do seu tempo para permanecerem vivas e assim poderem criar seus filhos e filhas. O silenciamento  ainda é uma prática muito presente e perversa… Todavia, a autora reforça o poder da oralidade no processo de preservação da memória, bem como da cultura de um povo.

A autora nos convida a pensar na importância da representatividade para o processo de  construção da identidade das crianças e das juventudes negras. Assim como as crianças de outras etnias, as crianças negras também precisam ser representadas de forma positiva na literatura infantojuvenil.

A partir dessa narrativa, podemos conhecer histórias tão representativas para a população negra, bem como para a história da educação das relações étnico-raciais e de gênero. Tratam-se de  histórias que  talvez não tenham te contado na escola nem no seu núcleo familiar. De fato, a população negra vêm  sofrendo com um histórico processo de apagamentos. Prova disso, situa-se no fato de Òdòdó ter seu nome alterado para Luíza, assim que pisou em  território brasileiro. Xandra Lia procura valorizar, além de ressaltar as potencialidades da população negra, em especial  as experiências das  mulheres negras, as quais durante tanto tempo foram invisibilizadas e silenciadas pelo cânone literário brasileiro, ainda um lugar de disputa de narrativas.

Contudo, a experiência de Nininha nos convida a pensar que mulheres como Luíza, Laura, Josefina, Antônia, Francisca, Júlia, Marieta, Eugênia, Tia Rosa e tantas outras têm muito a nos ensinar. Apesar de muitas delas sobreviverem por meio de ocupações que foram social e historicamente reservadas para elas como quitandeiras, benzedeiras, cozinheiras, domésticas dentre outras rosas espalhadas pelo vento…

Certamente, todos que tiverem contato com essa obra, em especial as crianças e os adolescentes, terão a possibilidade de ampliar seus conhecimentos acerca da história do Brasil, em especial acerca da diáspora Africana, de forma alegre e prazerosa. Dessa forma será mais fácil entender que embora as mulheres negras ainda se encontrem na base da pirâmide social brasileira, ainda assim, não se pode negar o importante papel desempenhado por elas, ao longo da história brasileira. 

Na minha leitura, o ponto forte desta obra situa-se no fato de que, ao contrário do que muitos pensam, as mulheres negras tornaram-se as guardiãs de boa parte da memória, da cultura e dos valores do povo brasileiro. Portanto, podemos perceber que as tais usaram e abusaram da inteligência, da sabedoria, da ousadia e da coragem para subverter e resistir frente aos desafios e demandas do  tempo em que viveram. Talvez, esse seja o mais importante legado herdado por todas nós, mulheres negras. Como dito no prefácio do livro “Uma mulher negra com seu livro publicado torna-se infinita”.

 

 1Graduanda em Pedagogia UERJ. 

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