Viva a Escola!

Aleluia Heringer

Estou na educação e, mais precisamente, dentro da escola, há 40 anos. Meu primeiro emprego com carteira assinada, como professora, foi aos 19 anos. Tenho, portanto, uma experiência e uma vista privilegiada que me permitem discernir o tempo presente.

Não tenho boas recordações como aluna. Fiz o primário no Grupo Escolar Afonso Pena. Eu era um combo ambulante a atrair todo tipo de constrangimento, exposição e preconceito, aquilo que hoje se dá o nome de bullying.

Ainda assim, a Aleluia de hoje, com todas as fibras, marcas e calos que me dão condições de enfrentar as durezas da vida e a ter resiliência, é grata a esse tempo na escola.

Minha geração deu aos seus filhos “tudo o que não teve”. Os pais seguintes, devido a vários fatores, redobraram o excesso de controle sobre os filhos. Com a proteção que desprotege, roubaram dos filhos a autoria da própria vida. Filho passou a representar a extensão e expectativa dos pais. Esquecemos que, junto com aquilo que não tivemos, deveríamos ter mantido aquilo que tivemos. Uma vida em que aprendíamos com a dor e com a frustração.

Durantes essas décadas, acompanho crianças que entram de fraldas no maternal e saem barbudos e de corpo feito no Ensino Médio. Assisto hoje reflexo dessas decisões históricas. Meninos e meninas cada vez mais inseguros e despreparados para o enfrentamento da vida. É por tudo isso, que jamais abriria mão desse lugar para os meus netos. A escola com toda a sua complexidade, diversidade e pluralidade é que poderá salvá-los. Viva a escola!

O que iremos ganhar ao tentar proteger e não expor os filhos às influências “do mundo”? Eles irão crescer, andarão por lugares, irão ouvir, ver e experimentar coisas, e não estaremos do seu lado para dizer sim ou não. Este discernimento que precisam desenvolver por conta própria começa lá, no quintal da escola, quando alguém lhe toma um brinquedo; aos seis anos, quando não é convidado para um aniversário ou fica de fora da brincadeira. Estar diante de uma situação conflituosa ou com algum dilema moral, entender, analisar e tomar uma decisão ou posicionamento é o meio para crescermos e amadurecermos como pessoas.

O ambiente escolar não irá retirar ou enfraquecer aquilo que for bem fundamentado pela família. Não queremos filhos grandes por fora e imaturos por dentro. É pelo exemplo dos pais que os filhos serão éticos, honestos e justos. Os valores, crenças e a cultura familiar ficarão impregnados na vida dos filhos quando vividos com verdade.


Imagem de destaque: Fachada da escola Estadual Afonso Pena. Fonte: Iepha

 

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