A dolorosa consciência

Aleluia Heringer

O poeta alemão, Heinrich Heine (1797 – 1856), nascido no final do século XVIII, deixou-nos um poema que nunca irá envelhecer e que diz: “Outros tempos, outros pássaros. Outros pássaros, outros cantos. E sem dúvida eu os amaria, se tivesse eu outros ouvidos”. Digo que não irá envelhecer pois todo tempo tem um novo para chamar de seu.

Tem um pássaro e um canto, chamado Encíclica Laudato Si’ ,escrita pelo cidadão planetário Mário Bergoglio, conhecido como Francisco, que há cinco anos está voando entre nós. Ele diz que devemos tomar “dolorosa consciência, ousar transformar em sofrimento pessoal aquilo que acontece com o mundo e, assim, reconhecer a contribuição que cada um lhe pode dar”. Quem prestou atenção a esse canto?

No que se refere à crise socioambiental, há forte consenso entre os cientistas em relação às estimativas diante da inoperância da humanidade em conter as emissões de gases de efeito estufa. A 10ª edição do relatório Emissions Gap, da ONU Meio Ambiente, publicado em novembro de 2019 aponta que, se a humanidade quiser ter uma chance de 66% ou mais de limitar o aquecimento global em 1,5oC, será preciso cortar as emissões globais de gás carbônico em 7,6% todos os anos daqui até 2030.

Há tempos que a forma linear como produzimos, extraímos, consumimos e descartamos não mais se sustenta. Agimos como descreve o relato bíblico que nos dias anteriores ao dilúvio, “comiam, bebiam, casavam-se e davam-se em casamento”. Podemos atualizar: iam para a escola, para o shopping, perfuravam poços de petróleo, se reuniam em congressos, derrubavam florestas, batiam metas, até o dia em que a casa comum, cansada de gemer as dores do parto, convulsionou e não o perceberam, e vieram os eventos climáticos extremos, a perda da biodiversidade, a extinção das espécies, a crise hídrica, a elevação do nível do mar, a perda de safras, a seca, a erosão do solo e atingiram a todos, ricos e pobres. Países decretaram emergência climática, enquanto levas de imigrantes ambientais se deslocavam por terra e pelo mar. Os pobres e vulneráveis disputavam um copo de água e um pedaço de pão.

Sabendo da ameaça anunciada, onde estão as atalaias? Dormem as sentinelas? Quem irá ousar transformar em sofrimento pessoal aquilo que dói e fere a terra?

Em 2019, outro pássaro e outro canto nos convocando a uma grande aliança na difusão de um novo modelo relativo ao ser humano, à vida, à sociedade e à relação com a natureza. Na justificativa desse Pacto Educativo Global, Papa Francisco pede a renovação da paixão por uma educação mais aberta e inclusiva, capaz de escuta paciente, diálogo construtivo e mútua compreensão.

Vamos traduzir esse chamado identificando suas implicações em nossas escolas, em nossa sociedade e em nossas vidas: onde estamos fechados e precisamos abrir? Onde somos excludentes e precisamos incluir? Quais vozes calamos? Quem não permitimos entrar em nossas escolas, igrejas, bairros ou cidades? Somos bons para quem? Para os sãos ou para os doentes? De fato, conforme Francisco, para não sermos inúteis e nossos esforços estéreis, precisamos nos ocupar em difundir um novo modelo relativo ao ser humano, à vida, à sociedade e à relação com a natureza.


Imagem de destaque: Destroços do Alasca após o grande terremoto de 1964. Foto: Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos Estados Unidos

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