Pela porta da frente

Jacqueline Caixeta

Os jogos olímpicos, com as histórias de seus medalhistas, nos mostram o quanto projetos sociais são importantes para que crianças e adolescentes tenham acesso a esportes de elite. Infelizmente, vivemos em um país que, muito pouco ou nada, investe em esportes para as classes sociais menos favorecidas. Os meninos de periferia dependem de projetos sociais, muitas vezes que se sustentam por ações privadas, sem ajuda alguma do governo, para que possam desenvolver seus talentos.

A história de Rebeca, que a mãe ia caminhando para o trabalho para que ela pudesse ter acesso ao transporte público para ir aos treinos, é um exemplo de que nunca houve incentivo do governo para que ela se transformasse em uma campeã olímpica. Não é bonito romantizar essa história de tanta luta, em que uma mãe abriu mão de muita coisa para ajudar a filha a buscar seu sonho. Precisamos fazer desta história um grito de alerta para que nosso país comece a olhar para os milhares de talentos esportivos que tem e tomar vergonha na cara e investir mais em esporte.

A inclusão social é de extrema importância para que possamos entrar pela porta da frente em olimpíadas, sejam elas esportivas ou não. Nas competições, principalmente de esportes de elite, só entramos pelas portas dos fundos quando há histórias de muito suor, dor, renúncias e luta pela sobrevivência no meio esportivo. Não precisa ser assim, não precisa continuar sendo assim. Nenhuma mãe precisa passar por tantas privações para ajudar a filha na realização de seu sonho olímpico. Nenhuma criança precisa de tanto esforço, dor e privações, para se tornar campeã olímpica.

O Brasil precisa acordar para seus talentos. Precisamos ter políticas públicas de inclusão social, para que crianças e adolescentes de periferias tenham acesso e acompanhamento durante a trajetória a caminho da medalha, sem ter que passar por tantas barreiras. Precisamos parar com essa romantização toda, fazendo com que histórias de luta e fome sejam reverenciadas. Isso é uma vergonha, ninguém precisa passar por isso se tiver um país que apoie e dê condições para que seus talentos despontem e tenham trajetórias menos sofridas.

As mães, solos ou não, não precisam sofrer tanto para que seus filhos consigam realizar seus sonhos entrando pelas olimpíadas pelas portas dos fundos, carregados de cicatrizes e calos nas mãos de seus pais. A entrada tem que ser pela porta da frente, com uma caminhada que tenha tido apoio de seu país do início ao fim.

Aplaudo de pé todas as histórias e não estou negando sua importância, seu valor, todo o sofrimento de famílias de baixa renda que conseguem com que seus filhos cheguem ao pódio. Apenas quero dar um grito de alerta para que possamos cobrar mais investimento do nosso país para que ninguém, nem atleta, nem mães, precisem construir suas histórias de maneira tão sofrida. 

Dizem que toda vitória carregada de uma história árdua, tem um sabor diferente, não duvido disso, com certeza absoluta o suor, lágrimas e fome trazem memórias tristes que valorizam mais a vitória. Só quero dizer que não precisa ser assim. Que, sendo assim, quantos já ficaram de fora? Quantos talentos não conseguiram ir até o fim? Quantas mães tiveram que abafar o choro para que seus filhos não percebessem o quanto sofriam por não conseguirem o mínimo que era a passagem para ele ir ao treino? 

Por tantas e tantas Rebecas, Bias e tantas outras que ficaram de fora de seus sonhos, que não construíram suas narrativas nesta história de superação e não se fizeram campeãs olímpicas, é que escrevo este texto, pedindo por um grito coletivo de mais inclusão social nos esportes no Brasil, por mais participação efetiva do governo na vida de tanta criança e adolescente que sonha em ouvir e cantar o hino nacional com lágrimas nos olhos. Não lágrimas que irão remeter a uma história de fome e renúncias, mas lágrimas de orgulho pela trajetória sem tanta dor e sofrimento como a das nossas medalhistas.

Com afeto,

Jacqueline Caixeta

2 comentários em “Pela porta da frente”

    1. O governo não tem interesse em ver o povo fala ele sorri enquanto a maioria do povo chora pensando somente em ganhar eleições para corrupção e descaso com povo brasileiro.

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