No final da semana passada pesquisadores de várias cidades brasileiras se reuniram para comemorar os 70 anos da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Fundada em 1948, a instituição reúne hoje, milhares de sócios individuais e quase 150 instituições de representação de pesquisadores e de programas de pós-graduação de todas as áreas do conhecimento.
Ao longo das últimas 7 décadas, as reuniões anuais da SBPC se constituíram como um fórum privilegiado para o debate sobre o lugar das ciências no desenvolvimento nacional. Por meio desses debates que se constituiu a ideia de que somente é possível um projeto nacional de desenvolvimento, crescimento e distribuição de renda se este for ancorado num forte sistema nacional de ciência e tecnologia. Mas as reuniões da SBPC sempre foram muito mais do que um encontro para discutir os rumos da ciência brasileira. Nelas, os grandes temas, políticos e sociais, nacionais e internacionais, ocuparam, às vezes, o centro da cena.
No final dos anos de 1950 e início dos anos de 1960, foi em reuniões da SBPC que, de forma sistemática, se discutiu os modelos de universidade no país e os rumos que tais instituições poderiam tomar nos anos seguintes. Já nessa ocasião, a necessidade de uma reforma universitária era ampla e abertamente debatida no âmbito da SBPC. Veio a ditadura e, paulatinamente, as reuniões da SBPC se transformaram um espaço de debates sobre o regime e de resistência democrática. Por isso mesmo, com o final da Ditadura, cada vez mais as reuniões anuais vieram afirmando a dimensão social, política, cultural e econômica da ciência e do trabalho dos cientistas de todas as áreas.
Por essas razões, a celebração dos 70 anos da SBPC se transformou em uma manifestação contra o desmonte do sistema nacional de ciência e tecnologia pelo governo golpista. Têm consciência, os pesquisadores(as) e suas instituições, que o que está em jogo não é apenas a paralisação de projetos de pesquisa em curso e o atraso no pagamento das bolsas, mas a possibilidade de implementação de um projeto nacional de desenvolvimento. Não é possível conceber um projeto nacional sem ciência e tecnologia. E não é possível termos ciência e tecnologia sem instituições nacionais e regionais que lhes deem sustentação e perenidade. E são justamente estas instituições que o governo golpista está destruindo.
Um dos primeiros ataques do governo golpista à ciência brasileira foi a (com)fusão dos Ministérios da Ciência, Tecnologia e Inovação com o Ministério das Comunicações. De lá para cá, o conjunto das instituições do sistema, a começar pela mais importante, o CNPq, está sendo dilapidado e destruído pelos contínuos cortes de verbas e de pessoal. A crise econômica, aprofundada pelo golpe e a entrega do patrimônio nacional ao capital estrangeiro, parecem nos colocar a cada dia no centro de um redemoinho de desfaçatez que a tudo atrai e destrói.
A destruição imposta pelo governo golpista ultrapassa em muito as fronteiras das ciências. As instituições e as políticas públicas, as mais diversas, estão sendo desmanteladas. É preciso, por isso também, que mais uma vez a SBPC e os cientistas se integrem com as demais forças sociais e políticas para resistir ao golpe e anunciar, poética e politicamente, que o amanha há de vir antes do que os golpistas pensam!
Foto de destaque: Eliezer Costa
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