Selma Barboza Perdomo¹
Waldir dos Santos Costa foi o professor e psicólogo que atuou com veemência no processo de implementação do primeiro laboratório de psicometria no Amazonas e teve suas atividades profissionais iniciadas em Manaus, capital do Amazonas, a partir da década de 1970.
Daqueles intelectuais com suas histórias não contadas pelos livros oficiais, a ele é atribuído o pioneirismo e protagonismo dos primeiros serviços de psicologia nesta cidade, tais como a organização do primeiro Serviço Médico e Psicológico no Departamento de Trânsito do estado do Amazonas (Detran-AM), a partir de 1973. Atuou também em atividades psicopedagógicas em instituições de ensino na rede privada e na coordenação do curso de Psicologia na Universidade Federal do Amazonas – UFAM, nas décadas posteriores. Assim, compreender como a atuação de Waldir dos Santos Costa se vinculou ao contexto histórico no campo da Psicologia, por meio de suas atividades no Detran-AM, é o objetivo deste texto.
No estado do Amazonas, a inauguração do DETRAN e sua mudança para autarquia datam de 1973, tendo como seu primeiro diretor presidente o doutor José Aldemar Maués, o qual convidou o professor e psicólogo Waldir dos Santos Costa para ali atuar. Foi nessa instituição que o psicólogo iniciou suas atividades em Manaus. Ele recrutou estudantes do curso de medicina e finalistas do segundo grau (atualmente ensino médio) e os treinou para aplicação dos testes psicológicos como parte da avaliação para obtenção da habilitação para dirigir.
No mesmo ano de 1973, Waldir dos Santos Costas ingressou como docente na Universidade Federal do Amazonas, local onde atuou até o ano de 2000, após implementar o primeiro curso de Psicologia com vagas de ensino público na região. Em 2012, recebeu o título de professor emérito desta instituição em reconhecimento ao seu engajamento no trabalho de reconhecimento da Psicologia como profissão no estado. Nesta instituição de ensino teve oportunidade de oferecer vários cursos de capacitação e formação em perito de trânsito, estabelecendo firme parceria de trabalho e pesquisa entre o DETRAN-AM e UFAM.
À medida que o setor de psicologia do Detran-AM se estruturava e ampliava sua abrangência, crescia também o número de vagas de emprego para o psicólogo. Dentre as ações pioneiras para a categoria de psicólogos no Amazonas, observa-se três estratégias de atuação no Detran-AM que evidenciaram as inserções de Waldir dos Santos Costa na história da Psicologia nesta região.
A primeira diz respeito à abertura de campo para a atuação profissional. Ao ser instaurado o Serviço Médico e Psicológico abriu-se vagas para o treinamento de uma prática profissional e ampliou-se a possibilidade de emprego para a categoria de psicólogos. Vale ressaltar que a Psicologia como profissão foi regulamentada apenas no ano de 1962, portanto, a categoria profissional estava em formação no âmbito nacional e os profissionais dessa área, recém-formados, buscavam caminhos para a prática autônoma. A segunda estratégia foi a capacitação e formação específica para formação de peritos com atuação no trânsito, o que chamamos hoje de psicologia do trânsito. Constata-se que a UFAM foi um lugar privilegiado para captação e formação desses profissionais.
Por fim, a expansão no âmbito da ciência foi a terceira forma de atuação identificada, uma vez que o Detran-AM, por incentivo de Waldir dos Santos Costa, abriu portas para os pesquisadores do Laboratório de Pesquisa em Avaliação Psicológica da UFAM. O Detran-AM foi campo para coleta de dados na área do trânsito, a pesquisa em avaliação psicológica realizada teve bom êxito e os dados apurados serviram de base para adequação e estabelecimento de novas tabelas normativas que consideraram as características da população amazonense.
Portanto, a abertura de campo profissional, gerando empregabilidade para o psicólogo, o incentivo à formação e capacitação para que estes atuassem nessa área específica e a viabilidade dada à pesquisa na área de avaliação psicológica, formam um conjunto de ações viabilizadas por Waldir dos Santos Costa e revelam suas inserções na história da Psicologia no Amazonas. Contar a história deste intelectual é dar visibilidade a muitos outros nomes não conhecidos nacionalmente, mas que muito contribuíram/em para a história do desenvolvimento social das regiões do nosso Brasil. São Brasis silenciados que precisam ser lembrados.
1 – Professora na Escola Superior de Ciências da Saúde da Universidade do Estado do Amazonas ESA/UEA. Doutoranda em Educação no Programa de Pós-Graduação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro – DINTER UERJ/UEA. Linha de Pesquisa: Instituições, Práticas Educativas e História.
Imagem de destaque: Acervo familiar.